quinta-feira, 14 de maio de 2020

NADA MUDARÁ ESSENCIALMENTE NA HUMANIDADE CAPITALISTA E SELVAGEM, APÓS O CORONAVÍRUS.

Se estou otimista? No curto prazo histórico, os próximos 200 anos, não! Não estou. O coronavírus não alterará o espírito mesquinho, materialista e egoísta da humanidade. É uma ingenuidade perigosa pensar assim porque nos tira, casuisticamente, a responsabilidade pela transformação verdadeira e profunda, e a delega para algo extrínseco a nós. Deus? Ele nos enviou a pandemia para o avanço e a regeneração da humanidade? Ora, por favor! Acreditar nisso é acreditar que “Deus” - essa entidade que criamos à nossa imagem e semelhança para apaziguar nosso vazio existencial, também nos enviou a gripe comum, o tétano, a dor-de-dente e a verruga.
Sejamos realistas! Deus, então, deveria estar dormindo durante o mais catastrófico evento da humanidade, a Segunda Guerra Mundial. A grande guerra matou 85 milhões de pessoas, cerca de 3% da população mundial da época. E o que mudou em termos profundos, desde então? Ampliamos inegavelmente os nossos conhecimentos científicos e tecnológicos. Mas aprofundamos dramaticamente o fosso entre os mais ricos e os mais pobres, produzimos um nível de concentração da renda global criminoso, aceleramos milhares de vezes a destruição de habitats, poluímos o planeta em uma escala brutal, inventamos e instalamos um arsenal atômico que pode destruir a Terra inúmeras vezes (como se houvesse muitas Terras a se destruir), sofisticamos as formas de corrupção sistêmica submetendo as instituições sociais e democráticas, ao redor do mundo, aos interesses do sistema financeiro global etc. Não será, definitivamente, o coronavírus o que nós fará repensar a humanidade. É uma ingenuidade irritante e até covarde. Exatamente o argumento de quem não quer e não vai mudar nada, a não ser as aparências.
O “sistema” engendra mecanismos extremamente sofisticados para se adaptar e se fortalecer. Ora, “o Capitalismo é feito (justamente) de crises. O Capitalismo não é uma Economia: é um modo de se reproduzir”, escreve o psicanalista e escritor argentino, Jorge Alemán. E eu acrescento: o sistema é muitas vezes mais mortal do que o coronavírus. 8500 crianças morrem de desnutrição todos os dias, ao redor do planeta! A fome absoluta e mortal atinge 820 milhões de seres humanos neste exato momento.
O coronavírus vai nos transformar em seres humanos melhores? Não, não vai. Apenas dizemos isso porque estamos no meio da barafunda, como o sujeito que toma um porre homérico e, no meio da mais desgraçada ressaca, promete nunca mais beber. Dois finais de semana depois está louco para tomar outros goles. Estamos no meio da ressaca. Só isso.
Em tempo, muitos dirão, por essa crítica ao Capitalismo, que defendo o Comunismo. Ora, o Comunismo é uma invenção Capitalista! Quem financiou o Estado bolchevique na URSS, após a revolução de 1917? Os banqueiros franceses e ingleses! Os próprios Rothschild viabilizaram o avanço do Comunismo na Europa, porque as revoluções são um grande negócio! Ideologias conflitantes geram crises e guerras. Crises e guerras são a essência do modelo de expansão Capitalista: muitos perdem para que poucos (eles, os “Mustafás Monds” - quem leu Aldous Huxley vai entender), pois bem, para que poucos concentrem os espólios dos muitos perdedores.
Essa história toda que a gente ajuda a contar sobre o livre mercado, sobre o “laissez faire” seria muito bonita se fosse verdadeira. Não é assim que o sistema funciona. O sistema funciona como uma máquina brutal de submissão global, corrupta e sem alma , sem nenhum escrúpulo ou compromisso humano. A indústria de armamentos, da morte, por exemplo, cresceu em um ritmo muito acima da maioria de outros setores do mercado, nos últimos 50 anos. E os grandes investidores em armamentos são os mesmos que investem na indústria alimentícia, farmacêutica ou automobilística. A mesma mão que alimenta e veste é a que bombardeia civis indefesos e mata de câncer por aditivos químicos na comida (e também a que vende os medicamentos caríssimos e os planos de saúde para tratar do tumor).
É preciso compreender que não existe uma “ética social” no sistema, apenas histórias manipulativas. Nós, o gado servil, é que pensamos assim. Os donos do sistema, os 0,8% da humanidade que definem, em última instância, o destino dos demais 99,2% de nós todos, pensam em poder e dominação. Só. E é assim que o mundo funciona desde os tempos dos faraós, ou antes deles. E é assim que continuará, cada vez mais aceleradamente, com os adventos tecnológicos.
Nós, que não estamos no Olimpo, que vivemos na sociedade humana perceptível, sejamos pobres, médios e até os que são considerados ricos, vivemos com as migalhas desse processo tão gigantesco, tão imenso que mal o enxergamos. A riqueza passa diante dos nossos olhos e é rapidamente reincorporada pelo sistema, por meio do consumo. O sistema recolhe o resultado e mais um pouco, devolvendo cada vez menos do que o trabalho pôde produzir. Isso não vai mudar.
Seria necessário a força de uma hecatombe proporcional a de um cometa, como o que deletou os dinossauros, para instalar um novo processo para os próximos milhões de anos. E, mais uma vez, isso não seria Deus: seria um cometa. Somos, a sociedade humana, na melhor das hipóteses, um experimento malfadado.
Exponho, assim, minha profunda e total descrença na humanidade. Prova disso é a expressão “novo normal” que significa continuar, o tanto quanto nos for possível, a fazer tudo o que já fazíamos antes, ou seja, nenhuma mudança significativa em essência: mesquinhos, materialistas e egoístas.
O ator Flávio Migliattio, morto no dia 04 de maio, escreveu pouco antes de morrer, no alto de seus brilhantes 85 anos: “algo deu errado com a humanidade por aqui”. Em meus não tão brilhantes 53 anos vestindo este holograma biológico chamado “corpo”, vivendo na face deste planetinha pequenino, lindo e frágil, sou obrigado a assinar a carta com ele. Porque as exceções não chegam a formar uma força de mudança efetiva.
E, assim, creio, sobretudo depois do advento da vacina que virá, que o pós- coronavírus será um lugar no qual mais um projeto de regeneração civilizatória será desperdiçado. Pouco a pouco, se tornará apenas mais um rastro, um eco distante nas páginas da história sangrenta, hipócrita e inexplicável de uma civilização perdida neste pequeno ponto azul, na periferia de uma galáxia sem importância alguma entre outras bilhões de galáxias, nesse vasto universo, entre tantos outros universos... E como disse o economista, John Maynard Keynes, o fato é que no longo prazo todos estaremos mortos.

RESPONSABILIDADE SOCIAL NÃO É SOLIDARIEDADE OU FILANTROPIA

A GRANDE MÍDIA RESOLVEU DAR UMA NOVA SIGNIFICAÇÃO AS EMPRESAS QUE CUMPREM COM SUAS OBRIGAÇÕES OU RESPONSABILIDADES SOCIAIS: SOLIDARIEDADE S/A
Por que, com a atual crise, desencadeada pela pandemia de coronavírus, ações que não passam de responsabilidades sociais e obrigações das grandes empresas, para com seus públicos de interesse, passam a ser chamadas de solidariedade?
Em primeiro lugar, para responder essa questão, é necessário saber qual a importância do ativo intangível para as organizações. Assim, é bom que saibamos, que, esse tipo de ativo, está voltado para a identidade corporativa, para sua valoração e projeção institucional, não comercial, num primeiro momento, que a médio e a longo prazo, agrega valor à organização, trazendo, futuramente, o retorno financeiro esperado. Esse tipo de investimento está intrinsicamente ligado a cultura, ou seja, as virtudes e aos valores institucionais.
Nessa linha de pensamento, constata-se que a projeção da imagem, por meio do fortalecimento da identidade, ou seja, o que a instituição realmente é, como ela se comporta, do ponto de vista ético, com relação aos seus públicos de interesse ou stakeholders, possui um forte simbolismo para agregar qualidades ao longo de sua trajetória. Estamos falando de virtudes, do ativo voltado para tudo aquilo que não se pode tocar, mas que tem grande valor para a empresa.
O tripé da sustentabilidade, também, chamado de triple bottom line, é a ferramenta que melhor mensura os ativos intangíveis do ponto de vista econômico, mas, principalmente, do ponto de vista social e ambiental.

Neste artigo, vamos tratar somente do aspecto social, que se refere ao tratamento do capital humano da sociedade, que determina onde a empresa está inserida. É esse o aspecto que nos importa, quanto a responsabilidade das empresas frente a pandemia de COVID-19.
Com a explicação dada, já podemos responder à pergunta que não quer calar. Não é solidariedade, pois, as ações sociais, não passam de obrigações e responsabilidades, com objetivo de projetar a marca por meio da valoração dos ativos intangíveis.
A atual crise faz emergir a personalidade das instituições, que não se comprometem com aqueles que as compensam.

As empresas que realmente podem manter seu quadro de funcionários parados, sem demiti-los, durante o período de quarentena, não fazem mais que sua obrigação, pois, assim, procedem por terem um fundo de reserva destinado a prevenção de crises. Aquelas que investem nos ativos intangíveis em prol do seu público de interesse, não estão doando ou fazendo filantropia, estão somente valorizando a reputação e a imagem da sua identidade.
Ajudar os stakeholders, pois são esses que vão manter as operações das empresas ativas, após o período de pandemia, é obrigação, responsabilidade e investimento. Sendo assim, contribuições em hospitais de campanha e doações não são filantropias, mas acima de tudo inteligência e investimento intelectual de valoração organizacional.
As instituições que não têm um plano, não o fizeram, pois estão presas ao acúmulo de capital sem nenhuma responsabilidade para com seus públicos de interesse, como no caso das organizações Madero e Havan. A primeira demitiu 600 e a segunda 11 mil funcionários, metade dos seus empregados, pensando em preservar seus ativos, sem se importar com as condições que deixariam seus colaboradores, os principais responsáveis pela preservação e manutenção de suas operações. Empresas como essas devem ser rechaçadas pela sociedade, pagando assim o preço de suas irresponsabilidades. Infelizmente, não são as leis que vão punir essas atitudes, e sim os que são impactados diretamente pelo egocentrismo empresarial.
Hoje, o “boletim de ocorrência” não é só descrito e gravado nos registros da grande mídia, mas também nos arquivos das mídias digitais, ao alcance de um clique para qualquer interessado, por meio das ferramentas de busca.

Como define um dos grandes pensadores da contemporaneidade Richard Dawkins:
“Como indivíduos ou organizações, não raro, nos comportamos de forma egoísta (identidade). Nos momentos idealistas reverenciamos e admiramos aqueles que colocam o bem-estar dos outros em primeiro lugar (imagem).”
Na maioria das vezes, o “altruísmo” e a “solidariedade” das organizações se faz acompanhar pelo egoísmo e conflito de interesses entre elas. Aí a necessidade de uma política compensatória, entendendo-se, por isso, a função de cada uma delas, com foco nos seus objetivos e resultados, respeitando a cultura e a necessidade de todos os envolvidos direta e indiretamente ao processo.