“O homem é um animal bastante manso e divino se amansado por uma verdadeira disciplina, se não receber disciplina falsa, será o mais feroz dos animais que a terra pode produzir” Comenius
A distorção, ou melhor, o discurso sobre a cegueira |
Não tenho a intenção, com o texto a seguir, de assumir posição ideológica, mas,
sim, opinativa, que difere da primeira e se dissocia de posição partidária. Não
acredito que o regime capitalista esteja esgotado, até porque é o que prevalece
no âmbito mundial. O que necessita é ser reformulado ou regulado por intermédio
do Estado.
Ao contrario, o meu objetivo é questionar,
dialogar, apurar, resgatar informações, discursos veiculados na mídia nas duas
últimas semanas.
Começo com uma análise comparativa:
Primeiramente, destaco quais delas têm prevalecido,
em detrimento de outras, também relevantes, que não tiveram o mesmo
desdobramento e, que, consequentemente, têm causado maior impacto sobre a
opinião pública.
Destaco o que a grande mídia tem priorizado, e
deixo o leitor incumbido de emitir sua opinião e contestação.
O que prevaleceu nas edições impressas, televisivas
radiofônicas e digitais?
1- A morte do cinegrafista do grupo Bandeirantes,
Santiago Andrade, na última segunda-feira (10).
2- Prisão, nesta semana, de Caio Silva de Souza e
Fábio Raposo Barbosa, supostos de terem manejado o rojão, que causou a morte do
cinegrafista.
3- O possível pagamento efetuado a manifestantes em
protestos no Rio de Janeiro.
4- O comentário irresponsável (para não dizer
preconceituoso), com mais de um minuto de duração, da jornalista, formadora de
opinião e âncora no jornal SBT Brasil, Rachel Sheherazade, no dia 02, sobre o
caso do adolescente de 15 anos, que foi agredido e preso nu a um poste por
supostos justiceiros, na Zona Sul do Rio de Janeiro, dia 31 do mês passado.
“Adote um bandido” Comentário
jornalista:
Na coluna Tendências & Debates, da Folha de S.
Paulo, do dia 11, Sheherazade minimiza e mente sobre o conteúdo opinativo do
seu discurso:
- "Afirmei compreender e não aceitar a atitude
“desesperada” dos justiceiros."
Conforme o vídeo acima,o seu discurso tem muito mais
consistência discriminatória.
Caso não tenham tempo de assistir o vídeo basta a
epígrafe: “Há quem tente explicar a violência, a opção pela criminalidade, como
conseqüência da pobreza, da falta de oportunidades: o homem fruto de seu
meio.Sem poder fazer as próprias escolhas, destituído de livre arbítrio, o
individuo seria condenado por sua origem humilde à condição de bandido".
Mas acaso a virtude é monopólio de ricos e remediados? Creio que não."
Em minha opinião, não é questão de virtude e sim de
bom senso, senso critico, conteúdo humanístico, conhecimento histórico,
altruísmo e alteridade. Mas não acredito que
Sheherazade seja destituída das características
descritas acima. Faz o que faz em prol do Marketing Pessoal e da Empresa para
qual presta serviço. A ganância em detrimento da ética jornalística. Os fins
são, exclusivamente, mercadológicos e não informativos.
A conseqüência da irresponsabilidade:
Marketing: Ignorância ou Ganância
Quem se depara com as imagens da Veja
“sensibiliza-se”:
“Em férias nos EUA, o apresentador, Silvio Santos,
fala sobre o câncer que retirou recentemente, a gravidez da filha Patrícia
(herdeira do trono), o vicio em séries americanas de TV e o prazer em fazer
coisas banais no dia a dia.”
Parece que a revista Veja trata como banal, o fato
de o empresário lavar louça numa máquina na sua “humilde” casa em Orlando.
Querer assemelhar a vida do executivo ao dia a dia do brasileiro comum é
absolutamente absurdo e inverossímil. Será que a repercussão do comentário de
Sheherazade, a propaganda da Veja em todos os intervalos comerciais do SBT é
uma simples coincidência?
Pequena menção sem repercussão e notícia não veiculada pela grande mídia:
Manifestante é baleado pela Polícia Militar em protesto contra a Copa
Jovem de 22 anos, estudante de gestão ambiental,
permanece em coma.
PMs alegam legítima defesa e afirmam que rapaz
atacou um dos policiais com um estilete
Corregedoria da PM vai investigar conduta dos
servidores; analistas dizem que reação foi desproporcional
Um manifestante de 22 anos foi baleado pela polícia
durante o protesto anteontem em São Paulo contra a realização da Copa no
Brasil.
O ato terminou com 135 detidos sob acusação de
vandalismo, segundo a Secretaria da Segurança Pública.
O estudante Fabrício Proteus Nunes Fonseca Mendonça
Chaves foi ferido a tiros pela PM, no peito e na virilha, na esquina das ruas
Sabará e Piauí, em Higienópolis.
A polícia alega que os tiros foram disparados em
legítimas defesa, após o estudante tentar agredir um dos policiais com um
estilete.
Combate a especulação financeira e econômica
Você leu ou ouviu esta notícia na grande mídia?
Os empresários e comerciantes venezuelanos devem
cumprir, a partir de hoje (10), a Lei Orgânica de Preços Justos, que estabelece
lucro máximo até 30%. Termina nesta segunda o prazo dado pelo governo para
adaptação à medida. Criada para combater a especulação financeira, a lei prevê
multa, expropriação de empresas e até prisão para os comerciantes que
desobedecerem a norma.
Decretada pelo presidente Nicolás Maduro, a lei
entrou em vigor no dia 23 de janeiro. Segundo Maduro, com a norma o governo
terá "mais uma ferramenta para combater a especulação" e o que chama
de "guerra econômica". O governo alega que a medida é necessária
porque há produtos vendidos no país com preço até 2.000% acima do valor real.
Fonte: Brasil de Fato
Questões conceituais
Por quê não lidamos com a inversão de valores da
nossa sociedade?
O problema é que as praças, os parques públicos
foram substituídos pelas imensas áreas "públicas" de consumo. Como li
outro dia: "O usofruto dos direitos civis requer o sentido de
pertencimento, o qual não é dado pelos serviços públicos e, por extensão pelo
Estado, mas sim pelo poder de compra, pelo ser aceito no mercado como
consumidor."
Foi o grande filósofo, linguista e ativista
estadunidense Noam Chomsky quem elaborou a lista das “10 estratégias de
manipulação” utilizada pela grande mídia : quanto maior a capacidade de
apuração, desmistificação e desconstrução das mensagens e discursos midiáticos,
maior o distanciamento crítico, que possibilita o esvaziamento do conteúdo
ideológico e a proximidade da realidade dos fatos. A verdade é camuflada pelos
signos. Dentro da ostra se encontra o conteúdo -
uma delas se enquadra perfeitamente na atual
conjuntura, principalmente quanto às manifestações violentas e a economia:
CRIAR PROBLEMAS, DEPOIS OFERECER SOLUÇÕES
"Este método também é chamado
“problema-reação-solução”. Cria-se um problema, uma “situação” prevista para
causar certa reação no público, a fim de que este seja o mandante das medidas
que se deseja fazer aceitar. Por exemplo: deixar que se desenvolva ou se
intensifique a violência urbana, ou organizar atentados sangrentos, a fim de
que o público seja o mandante de leis de segurança e políticas em prejuízo da
liberdade. Ou também: criar uma crise econômica para fazer aceitar como um mal
necessário o retrocesso dos direitos sociais e o desmantelamento dos serviços
públicos."
Leia a íntegra das estratégias em Comunicação
Organizacional.
Roland Barthes grande pensador e semiólogo dizia:
A grande mídia não nega as coisas; a sua função é,
pelo contrário, falar delas; simplesmente, purifica-as, inocenta-as, fudamenta-as
em natureza e em eternidade, dá-lhes uma clareza, não de explicação, mas de
constatação. Passando da história à natureza, a grande mídia faz uma economia:
abole a complexidade dos atos humanos, confere-lhes a simplicidade das
essências, suprime toda e qualquer dialética, qualquer elevação para lá do
visível imediato, organiza um mundo sem contradições, sem profundeza, um mundo
plano que se ostenta em sua evidência, e cria uma afortunada clareza: as coisas, sozinhas, parecem significar por elas próprias.