sexta-feira, 10 de maio de 2024

COMUNICAÇÃO DIGITAL: MEIO DE DOUTRINAÇÃO E DESUMANIZAÇÃO

A comunicação, independente da sua forma, sempre vem acompanhada por uma técnica. Desse ponto de vista há uma evolução que tem valoração no âmbito da utilização e do progresso na vida dos indivíduos, como forma de facilitar e modernizar os processos de vivificação. Analisada no âmbito humanístico, da historicidade e do caráter dialógico, a técnica não tem a mesma equivalência que seus traços progressistas apregoam no campo das ideias, pelo contrário, quanto mais se aperfeiçoam as técnicas, mais característicos são seus traços alienantes e manipulativos. Sendo assim, quanto mais ela evolui, mais o individuo se desumaniza. Perpassam séculos e os conteúdos das mensagens e dos discursos permanecem os mesmos, o que muda é a tecnologia de difusão, que afasta ainda mais o homem da verdade factual. No campo da tecnológica há uma grande evolução, que não se reproduz no campo humanístico e das ideias. O pensamento de Comenius, ainda no século XVII, continua fazendo todo o sentido: “O homem é um animal bastante manso e divino se amansado por uma verdadeira disciplina, se não receber disciplina falsa, será o mais feroz dos animais que a terra pode produzir” Comenius Segundo Roland Barthes, o discurso mitológico não nega as coisas; a sua função é, pelo contrário, falar delas; simplesmente, purifica-as, inocenta-as, fudamenta-as em natureza e em eternidade, dá-lhes uma clareza, não de explicação, mas de constatação. Passando da história à natureza, faz uma economia: abole a complexidade dos atos humanos, confere-lhes a simplicidade das essências, suprime toda e qualquer dialética, qualquer elevação para lá do visível imediato, organiza um mundo sem contradições, sem profundeza, um mundo plano que se ostenta em sua evidência, e cria uma afortunada clareza: as coisas sozinhas parecem significar por elas próprias. A significação é criada e desenvolvida junto a um processo cultural e educativo homogêneo que doutrina, automatiza e condiciona o individuo. A humanidade não evolui analogamente junto à tecnologia. A técnica nasce dentro de uma cultura que não acompanha a sua evolução. Existe formação técnica, mas pouca educação política, histórica, humanística e dialógica. Não se desenvolvem seres pensantes e críticos, e sim, autômatos. No mundo digital não é diferente, continuamos utilizando a tecnologia de forma alienante, esquecendo do seu viés humanístico e integracionista, potencialidades que não são aproveitadas, pois vivemos numa sociedade doutrinária, enrijecida para o dialogismo, o humanismo e, principalmente, para a verdade factual. No Brasil, por exemplo, a utilização das mídias digitais, pela extrema direita, para a consolidação dos seus interesses, é extremamente competente. Ela segue forte no seu poder de manipulação e banalização das informações por emissores que conseguem por meio de suas mensagens e discursos manter forte o processo de ameaça aos ideais democráticos. Como diz Manuel Castells: “a evolução tecnológica, desencadeada pela engenhosidade humana, levou a sociedade à submissão e ao automatismo, fugindo do controle de seus criadores”. Não se deve responsabilizar o desenvolvimento tecnológico pela alienação humana, mas é fato que a educação, a cultura, a forma humanística e dialógica de nos comunicarmos não evolui da mesma forma que a técnica. É inviável, para o poder que manipula as instituições disciplinares, educativas e culturais, que se opere dentro do organismo social procedimentos que despertem a consciência e a capacidade crítica dos indivíduos, pois isso poderia levá-los a desbaratar a forma de construção de poder e dominação das massas. Constrói-se um discurso que nos leva a pensar em liberdade, quando na verdade continuamos presos pela teia de significados que nos é submetida. Recepcionamos a mensagem como querem que absorvamos, e continuamos a conceber a evolução tecnologia, ao mesmo tempo, que não percebemos a inércia dialógica e humanística. Respondemos à reprodução da sofisticação do mesmo, mantendo nossa espécie a deriva. Nos submetemos à transmissão cultural que nos mantem estúpidos. Desta forma, ela continuará servindo, exclusivamente, como ferramenta de doutrinação e alienação bem manejada por aqueles que detêm a condução dos discursos.