quarta-feira, 6 de novembro de 2024

De volta a era Tatcher e Reagan, retroceder sempre, vencer jamais!

Há 40 anos, vivíamos o conservadorismo da gestão Thatcher e Reagan, o que muitos acreditavam ter superado. Na década de 80, o desinteresse e o preconceito com as minorias eram sustentados e potencializados pelos simbolismos — discursos e mensagens — projetados pelas mídias tradicionais. Hoje, a extrema direita tradicional voltou com muito mais ardor, que naqueles tempos. Logo após as ditaduras, os discursos autoritários permaneciam ainda muito fortalecidos, por falta de uma reeducação e amadurecimento críticos, pois acabávamos de nos libertar dos militares, principalmente, na América Latina, como no Brasil, Argentina e Chile. Em pleno 2024, vemos um retrocesso com o fortalecimento da bipolaridade, que parece cada dia mais consolidada. Mesmo sendo presidido pela esquerda, a direita e o centro se propagam cada vez mais nas prefeituras e governos brasileiros. Com Javier Milei na Argentina e o retorno de Donald Trump, a presidência dos Estados Unidos, percebemos que, o progressismo, perante aos ideais neoliberais e conservadores, continua arrefecido. Muitos criticam a inércia da esquerda, frente ao domínio dos discursos da extrema direita. Sem a imposição violenta das ditaduras, o que se vê é um marketing político e uma comunicação institucional conservadoras, porém muito mais perigosas e difíceis de se combater, devido ao poder dos algoritmos das mídias digitais geridos pelas prevalecentes bichtechs. A defasagem da esquerda, frente aos desígnios conservadores, não se dá exatamente por ineficiência, mas sim por dificuldade de orientar estratégias que não se alinhem ou se assemelhem com as da extrema direita, sustentadas por discursos falaciosos e mentirosos, que predominam por meio da disseminação de notícias falsas, as fake news. É difícil para os comunicadores e para aqueles que defendem os ideais progressistas e democráticos encontrarem uma saída diferente desses posicionamentos espúrios, porém, completamente, eficientes, quanto ao convencimento e consentimento das massas. O discurso não é novo, pois nos remete as mesmas mensagens perpetradas há mais de 40 anos, mas a estratégia sim é diferente, pois as mídias digitais, com uma regulamentação que começa aparecer de forma ineficaz e incapaz de sanar as grandes dificuldades e incógnitas, geradas pelo mundo digital, continuam sendo um ambiente sem lei, que, estrategicamente, e com uma grande competência e “profissionalismo”, na geração de conteúdos, conseguem seduzir milhares de adeptos, que passam acreditar piamente nas suas premissas e proposições, voltando a pensamentos que se acreditavam ter transcendido. No filme Blue Jean, produção cinematográfica inglesa de 2022, uma professora se vê forçada a levar uma vida dupla, por conta da sua homossexualidade, para não perder o seu emprego, perante a um clima de homofobia desenfreada, conduzido pelo conservadorismo da década de 80. Nesta época, devido ao conteúdo simbólico disseminado pelas mídias e o status quo, pais, professores e grande parte da sociedade encaravam que a conscientização, quanto a identidade de gênero nas escolas, era perigosa e prejudicial a educação e a disciplina, acreditando que isso fosse uma forma de defender a homossexualidade com relação aos alunos, que poderiam se ver influenciados a serem partidários de um posicionamento promíscuo e errático perante a moral e aos ideais religiosos. Esse tipo de pensamento voltou de forma contumaz com a ascensão da extrema direita. Misoginia, discriminação e preconceito da cultura patriarcal, da casa grande e senzala voltaram, defendendo que essas orientações são prejudicais a dignidade de Deus, da pátria e da família, ideais potencialmente reproduzidos nas mídias digitais, com grande poder de convencimento, dificultando qualquer tipo de debate e contestação.