quarta-feira, 20 de agosto de 2025

O MITO DA DIREITA

A linguagem utilizada e o discurso construídos pela extrema direita, no Brasil, especificamente, o que denominamos de bolsonarismo, são burros, mas, paradoxalmente, também, são ricos, sedutores, e têm sido, pelo menos, até aqui, muito eficientes, quanto aos objetivos que os conservadores pretendem alcançar. Aqueles que estão no topo têm o domínio da metalinguagem, ou seja, da construção de significados. No intuito de aumentar seu séquito, utilizam-se de artifícios populistas, principalmente, alicerçados pela religião, para encantar o oprimido e eternizar a sua fala. Direcionada pelo slogan “Deus, Pátria, Família”, a extrema direita constrói o seu discurso. O emissor da mensagem sabe das deficiências, do desconhecimento histórico e falta de pensamento crítico dos seus receptores. Assim, o oprimido é facilmente vislumbrado pelo mito da direita, que extrai a história, esvazia o seu sentido, sua razão e linearidade, nega a ciência e os conceitos, que desmistificariam e revelariam a falácia do seu discurso. Nas midas digitais, controladas pelas Bigtechs, o autoritarismo encontrou seu lugar comum e o instrumento de disseminação de sua narrativa transvestida de democrata. A fala é tão poderosa, ao ponto de convencer milhares de pessoas, que no Brasil está sendo deflagrada uma ditadura de esquerda, Para entender a conjuntura em que vivemos hoje é necessário conhecer os fundamentos que regem as práticas autoritárias dos extremistas. É comum, as vítimas da lavagem cerebral, em conversas ou debates, ficarem exaltadas, cheias de evasivas, quando questionadas com relação a determinados conceitos que desconhecem. Por exemplo, pergunte a um bolsonarista as definições de lawfare, laissez-faire e sionismo, que são imprescindíveis para entender a ascensão da extrema direita e as barbáries cometidas por ela, no mundo atual. Neste artigo, não quero entrar nas particularidades e definições destes termos. O meu objetivo, aqui, é deixar claro, que fica impossível de prosseguir uma discussão mais esclarecida e aprofundada se o interlocutor desconhecer e se negar a entender certas definições, na maioria das vezes, fingindo que nem está ouvindo. Nega-se, categoricamente, a buscar conhecimento, primordial para saber o que acontece no seu entorno, no mundo que o envolve, como se tivesse medo da verdade, como se ela fosse uma ameaça a mentira na qual acredita. Como tivesse que deixar a zona de conforto onde está acomodado. Nega-se a saber as premissas que o faz acreditar no mito da extrema direita. Roland Barthes (1915 - 1980) um dos mais importantes teóricos literários de todos os tempos, ensaísta, filósofo, crítico e semiólogo francês, definiu, que estatisticamente, o mito se localiza na direita. É aí que ele é essencial, bem-alimentado, lustroso, expansivo, falador. Inventa-se continuamente. Apodera-se de tudo: justiças, morais, estéticas, diplomacias, artes domésticas, transformando tudo isso em espetáculo. Alguma coisa em comum, com nosso ex-presidente Bolsonaro? Para os comunicadores da direita o oprimido não é nada, possui apenas uma fala, a da emancipação. Agora eles, são tudo, suas falas são ricas, multiformes. Para eles o oprimido não é coisa alguma, pois não tem o domino da linguagem, da história, não são dialógicos, bem menos críticos. São subjugados e persuadidos pelo opressor que tem o domínio da fala. A linguagem do oprimido tem como objetivo a transformação, já a do opressor a dominação A imagem é mais imperativa do que a escrita, impõe a significação de uma só vez, não é necessária a reflexão. Por isso, a ascensão da extrema direita, não só no Brasil, deve as mídias digitais, o seu maior trunfo, com a disseminação de fake news, por meio de textos curtos, com imagens e vídeos que viralizam e convencem multidões. Como dizia Comenius, bispo protestante da Igreja Morávia, educador, cientista e escritor tcheco no século XVII: “O homem é um animal bastante manso e divino se amansado por uma verdadeira disciplina, se não receber disciplina falsa, será o mais feroz dos animais que a terra pode produzir.” Ricardo Bressan