Podemos, ainda, ampliar esta ideia e acrescentar a dependência do que se quer comunicar dos inúmeros formatos das mesas, onde se senta para falar. E, também, pensar que a díade rito-ritual são complementares, sendo que ela conforma e estabelece narrativas embasadas em aspectos históricos, políticos, econômicos, artísticos, tecnológicos e religiosos, entre outros, de cada época, sociedade, empresa ou instituição onde acontecem. Donas de casa, políticos, religiosos, professores, torcedores, amantes, marqueteiros e nerds produzem intencionalmente ou não narrativas alimentadas em mitologias imemoriais ou em totens tecnológicos.
Olimpíadas como mega ritos alimentaram o crescimento do nazismo e a disseminação de suas narrativas, nos anos 1930, e já alimentam a ideia de um Brasil desenvolvido, em 2016. São essas marcações e intenções culturais sobre o que se ritualiza que, no limite, fazem com que uma comunicação entre milhões de pessoas ou entre duas pessoas transcenda de seu pequeno espaço e seja uma conversa para e com toda a humanidade.
Em uma dimensão que passa quase sempre por ritos e suas consequências potenciais - como a comensalidade, a convivência, a consensualidade, a conversão, a conversação, a colaboração, a conspiração, o conflito, o luto... -todo o ato de narrar é um gesto ético. Alberto Manguel lembra que “a maioria de nossas funções humanas é singular: não precisamos de ninguém para respirar, andar, comer ou dormir. Mas precisamos dos outros para falar, para que nos devolvam o que dissemos”². Acrescento ao pensamento de Manguel a esperança de que nessa devolução essencial possamos entender pelas narrativas dos outros a nossa
¹ - AUGÉ, Marc. Não-lugares: introdução a uma antropologia da supermodernidade. Campinas: Papirus, 1994. (Coleção Travessia do Século).
² - MANGUEL, A. A cidade das palavras. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
por Paulo Nassar
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