por Francisco Viana
Wilhelm Meister, de Goethe,
ensina: é no mundo, não no segredo da consciência que se decide o destino do Homem.
Ou seja, o Homem se vislumbra pelo conhecimento, pela atitude, pelo gostar de
si mesmo e não apenas pelos bens e títulos que possui. O Homem seria, então,
uma harmonia entre o interior e o exterior, se movendo numa dimensão espiritual
ampla e, ao mesmo, procurando
aperfeiçoar-se, educar-se, movendo-se e cultivando-se. O homem, e assim pensa
Goethe, é o equivalente do mundo. E o comunicador, não seria ele também um
equivalente do mundo?
Essa é a questão: como formar o comunicador? Deixando as
escolas, sobretudo as de comunicação de lado, e pensando na vontade individual,
um passo inicial é jamais ser órfão, independente da idade ou do patamar
conquistado, de uma formação clássica. Ler os clássicos, de Ulysses, de Homero, a
Meister, de Goethe, passando pela Poética, de Aristóteles, Cervantes,
Shakespeare, Victor Hugo e Flaubert, é essencial para se refletir em torno da
sociedade e dos indivíduos. Ou seja, o humano.
Também, não se deve deixar de
lado a genial Jane Eyre, em particular Charlotte Bonté e sua vontade moral, que
condena a tirania das raízes sociais, além, é claro, Daniel Defoe, precursor do
romance individualista com Robinson Crusoé.
A lista é imensa, mas o importante é ter a vontade e determinação de ter
sempre um clássico ao alcance das mãos. Nada como um bom clássico para entender
uma época. Se for a época moderna, não deixe de ler o emocionante Liberdade, de
Jonathan Franzen, a retratar os Estados Unidos dos dias atuais. Um grande
romance do século 21. Certamente, o primeiro.
Também, não se deve esquecer
de mergulhar nas escolas filosóficas – em particular os platônicos, estoicos,
Hegel e Marx - , isto para que se possa
compreender a realidade na sua essência
ou, melhor dizendo, tentar entende-la. O papel dominante do comunicador é
sempre aquele do filosofo político. E o que é a filosofia política senão o
entendimento da grande política, da grande economia, do mundo em transformação
em que estamos vivendo? Por quê? O comunicador aponta caminhos, é o grande
conselheiros das organizações.
Leituras fundamentais, mais
do que básicas, é que irão determinar o futuro do comunicador e do seu trabalho.
Não é aconselhável que tenha um léxico literário e filosófico liliputiano, nem
que se deixe envolver pela prisão de grades invisíveis do dia a dia. Sair desse
labirinto, que se traduz na alegada falta de tempo, exige uma rigorosa e
determinada construção mental para sair do labirinto de escassas referencias, a
começar pelas referencias poéticas. Nesse particular, é valioso ler a poesia de
Ana Cristina César. Que bela artesã dos sentimentos. Outro poeta que deve estar
sempre ao nosso lado é Konstantinos Kaváfis, com sua visão hedonista e sensual
do homem. Mágico. E, por que não, procurar a poesia na música de Caetano, Gil, Chico
Buarque ... no jazz de Armstrong, na ópera de Wagner, nas pinturas e nos companheiros de viagem que estão ao
nosso lado?
A poesia, como o romance e a
música, permite recriar a vida e ver melhor o afago do sol e da luz das noites
de lua nos momentos em que nos sentimos encurralados e sem aparente horizonte
de renascimento. Na vida do comunicador esse tipo de situação é recorrente.
Nutrir-se de bussolas antigas e modernos nos fazem ter confiança em nós mesmo e
superar adversidades. Fugir da decadência, renovar-se pelo aprendizado. Se a
formação é a espinha dorsal, o ar do cotidiano se transforma em permanente
fonte de vida. Por isso, não devemos ler apenas os jornais do dia, mas ampliar
a visão para a música, a moda, os artistas, a gastronomia.
Ler os jornais e revistas
tradicionais brasileiros e o New York
Times e o The Economist, por exemplo. Mas não descurar das editorias de cultura
do Der Spiegel, do The Guardian, Le Monde, Le Monde Diplomatique, El país e
revistas aparentemente prosaica como Vanity Fair, GQ e Rolling Stones. Não é
preciso saber os idiomas, basta recorrer ao tradutor na Internet. Há pouco li
uma excelente entrevista de Bob Dylan na Roling Stones. Ele dizia que admirar é muito mais importante
do que criticar quem quer que seja. Existe pensamento melhor para ser
assimilado por nós comunicadores? Quem não admiramos não deve ser citado, nem
lembrado.
No mais, é ver filmes, sempre
vivos, sempre atuais, sempre antecipando o amanhã. E ter energia para sonhar, fazer girar a roda
do presente, sem esquecer o futuro. A formação do comunicador – como deveria
ser a de qualquer pessoa – avança com a juventude das épocas. Esse é o antidoto
contra a nostalgia, poção mágica para a
eterna juventude. Aliás, como estamos no final do ano, uma sugestão: selecione
uns cinco livros, uns cinco filmes, a músicas ... Leve com vc. E o que mais?
Tomar vinhos fortes e pensar que a formação do comunicador é como o farol na
neblina. Está sempre iluminando novos caminhos. Buscando soluções, o que exige
conhecimento e sensibilidade. Exige sempre
se ampliar como a juventude dos tempos.
Adorei o artigo é isso mesmo o comunicador deve ampliar horizontes, trocar novas informações e sempre estar aprendendo algo novo!
ResponderExcluirPrestigie também o belicosa.com.br abraço