quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

A formação do comunicador


por Francisco Viana

Wilhelm Meister, de Goethe, ensina: é no mundo, não no segredo da consciência que se decide o destino do Homem. Ou seja, o Homem se vislumbra pelo conhecimento, pela atitude, pelo gostar de si mesmo e não apenas pelos bens e títulos que possui. O Homem seria, então, uma harmonia entre o interior e o exterior, se movendo numa dimensão espiritual ampla e, ao mesmo,  procurando aperfeiçoar-se, educar-se, movendo-se e cultivando-se. O homem, e assim pensa Goethe, é o equivalente do mundo. E o comunicador, não seria ele também um equivalente do mundo?

Essa é a questão:  como formar o comunicador? Deixando as escolas, sobretudo as de comunicação de lado, e pensando na vontade individual, um passo inicial é jamais ser órfão, independente da idade ou do patamar conquistado, de uma formação clássica.  Ler os clássicos, de Ulysses, de Homero, a Meister, de Goethe, passando pela Poética, de Aristóteles, Cervantes, Shakespeare, Victor Hugo e Flaubert, é essencial para se refletir em torno da sociedade e dos indivíduos. Ou seja, o humano.

Também, não se deve deixar de lado a genial Jane Eyre, em particular Charlotte Bonté e sua vontade moral, que condena a tirania das raízes sociais, além, é claro, Daniel Defoe, precursor do romance individualista com Robinson Crusoé.  A lista é imensa, mas o importante é ter a vontade e determinação de ter sempre um clássico ao alcance das mãos. Nada como um bom clássico para entender uma época. Se for a época moderna, não deixe de ler o emocionante Liberdade, de Jonathan Franzen, a retratar os Estados Unidos dos dias atuais. Um grande romance do século 21. Certamente, o primeiro.


Também, não se deve esquecer de mergulhar nas escolas filosóficas – em particular os platônicos, estoicos, Hegel e Marx -  , isto para que se possa compreender  a realidade na sua essência ou, melhor dizendo, tentar entende-la. O papel dominante do comunicador é sempre aquele do filosofo político. E o que é a filosofia política senão o entendimento da grande política, da grande economia, do mundo em transformação em que estamos vivendo? Por quê? O comunicador aponta caminhos, é o grande conselheiros das organizações.

Leituras fundamentais, mais do que básicas, é que irão determinar o futuro do comunicador e do seu trabalho. Não é aconselhável que tenha um léxico literário e filosófico liliputiano, nem que se deixe envolver pela prisão de grades invisíveis do dia a dia. Sair desse labirinto, que se traduz na alegada falta de tempo, exige uma rigorosa e determinada construção mental para sair do labirinto de escassas referencias, a começar pelas referencias poéticas. Nesse particular, é valioso ler a poesia de Ana Cristina César. Que bela artesã dos sentimentos. Outro poeta que deve estar sempre ao nosso lado é Konstantinos Kaváfis, com sua visão hedonista e sensual do homem. Mágico. E, por que não, procurar a poesia na música de Caetano, Gil, Chico Buarque ... no jazz de Armstrong, na ópera de Wagner, nas pinturas  e nos companheiros de viagem que estão ao nosso lado?

A poesia, como o romance e a música, permite recriar a vida e ver melhor o afago do sol e da luz das noites de lua nos momentos em que nos sentimos encurralados e sem aparente horizonte de renascimento. Na vida do comunicador esse tipo de situação é recorrente. Nutrir-se de bussolas antigas e modernos nos fazem ter confiança em nós mesmo e superar adversidades. Fugir da decadência, renovar-se pelo aprendizado. Se a formação é a espinha dorsal, o ar do cotidiano se transforma em permanente fonte de vida. Por isso, não devemos ler apenas os jornais do dia, mas ampliar a visão para a música, a moda, os artistas, a gastronomia.


Ler os jornais e revistas tradicionais brasileiros e o  New York Times e o The Economist, por exemplo. Mas não descurar das editorias de cultura do Der Spiegel, do The Guardian, Le Monde, Le Monde Diplomatique, El país e revistas aparentemente prosaica como Vanity Fair, GQ e Rolling Stones. Não é preciso saber os idiomas, basta recorrer ao tradutor na Internet. Há pouco li uma excelente entrevista de Bob Dylan na Roling Stones.  Ele dizia que admirar é muito mais importante do que criticar quem quer que seja. Existe pensamento melhor para ser assimilado por nós comunicadores? Quem não admiramos não deve ser citado, nem lembrado.

No mais, é ver filmes, sempre vivos, sempre atuais, sempre antecipando o amanhã. E  ter energia para sonhar, fazer girar a roda do presente, sem esquecer o futuro. A formação do comunicador – como deveria ser a de qualquer pessoa – avança com a juventude das épocas. Esse é o antidoto contra a nostalgia,  poção mágica para a eterna juventude. Aliás, como estamos no final do ano, uma sugestão: selecione uns cinco livros, uns cinco filmes, a músicas ... Leve com vc. E o que mais? Tomar vinhos fortes e pensar que a formação do comunicador é como o farol na neblina. Está sempre iluminando novos caminhos. Buscando soluções, o que exige conhecimento e sensibilidade. Exige  sempre se ampliar como a juventude dos tempos.