domingo, 25 de maio de 2014

Crise Zara parte 2: Cometendo o mesmo erro

Onde está a sustentabilidade, ou melhor, a alteridade?








Leiam trechos da entrevista de João Braga, presidente da Zara no Brasil, concedida à Folha de São Paulo, na última terça-feira, 22 de maio, de 2014.

Após três anos, Braga volta a dizer, que a empresa não tem responsabilidade pelos serviços contratados por seus fornecedores, quando o Ministério do trabalho constatou que uma de suas fornecedoras contratou oficinas suspeitas de submeter imigrantes a condições sub-humanas, análogas ao trabalho escravo. Ele afirma que não tem responsabilidade sobre esses tipos de serviços, que são terceirizados: 

“Atualmente são 32 fornecedores, com 200 empresas contratadas por eles. O mais importante para nós é garantirmos que todas elas estejam agindo dentro da mesma linha. Não cabe a nós entrar na questão de terceirização. Nós não terceirizamos. Quem terceiriza é ó nosso fornecedor. Somos varejistas, compramos produto acabado dos fornecedores que nos apresentam ou dão um preço da peça ao valor de mercado.”

Justifica-se: “Houve uma violação clara ao nosso código de conduta, de maneira consciente por parte de um fornecedor que autuamos de imediato [a confecção AHA, fiscalizada em 2011]. Mas propusemos ações muito concretas e realistas para descartar situações como essas no futuro.” 

Como?

"Não só no nosso programa de reforço na forma que atua nossa cadeia, mas também na capacitação, com medidas de apoio social a imigrantes, foram R$ 14 milhões investidos desde 2011.”

É como se ele dissesse: pagamos pelo nosso erro com 14 milhões de reais, "presenteamos" os imigrantes com projetos sociais. Não seria o correto promover tal ação social, após a mudança na cadeia de processos e operações? Assim, realmente estaria sendo transparente e passaria credibilidade aos seus públicos de interesse, principalmente à sociedade de forma geral.

Como dizia Einstein: "insanidade é cometer os mesmos erros esperando resultados diferentes."

Contradição

Caminho diariamente pela Rua Santa Efigênia, no centro de São Paulo, por ali, vejo lojas que vendem iPhones pela metade do preço das autorizadas. Se uma da minhas filhas chegasse com um desses aparelhos em casa, o que faria? Diria a elas: não se preocupem com os fornecedores das lojas? A terceirização não importa?

O que vale é não comprar direto da mão de quem o roubou!

Na opinião ególatra e pouco altruísta do presidente, o importante é que não comprem direto das mãos das 200 empresas, contratadas por seus fornecedores.

Se o “líder” sabe, que 200 empresas são terceirizadas pelos seus 32 fornecedores, não seria mais coerente investir em uma estratégia que tivesse como objetivo investigar e apurar essas terceirizações, do que em medidas pontuais de filantropia? 

Ações como essas comprovam que muitos “lideres” não se atentam as mudanças, ao contrário, ficam presos as reminiscências do automatismo organizacional.

O verdadeiro líder preocupa-se com toda a cadeia de valores da organização, processos e operações por meio de um PROCESSO COMPENSATÓRIO que venha a beneficiar, ou melhor, ser justo com todos os seus públicos de interesse, sejam eles diretos ou indiretos. A comunicação e, principalmente, as atitudes e comportamentos paradoxais aos valores, que deveriam servir de exemplo para todos aqueles inseridos no organismo social, são os grandes responsáveis pelas crises organizacionais.

A comunicação deve servir como meio de projetar, através dos mais diversos canais de mídia, a imagem como reflexo da identidade organizacional. 
Não é o caso da Zara.