domingo, 25 de maio de 2014

Crise Zara parte 2: Cometendo o mesmo erro

Onde está a sustentabilidade, ou melhor, a alteridade?








Leiam trechos da entrevista de João Braga, presidente da Zara no Brasil, concedida à Folha de São Paulo, na última terça-feira, 22 de maio, de 2014.

Após três anos, Braga volta a dizer, que a empresa não tem responsabilidade pelos serviços contratados por seus fornecedores, quando o Ministério do trabalho constatou que uma de suas fornecedoras contratou oficinas suspeitas de submeter imigrantes a condições sub-humanas, análogas ao trabalho escravo. Ele afirma que não tem responsabilidade sobre esses tipos de serviços, que são terceirizados: 

“Atualmente são 32 fornecedores, com 200 empresas contratadas por eles. O mais importante para nós é garantirmos que todas elas estejam agindo dentro da mesma linha. Não cabe a nós entrar na questão de terceirização. Nós não terceirizamos. Quem terceiriza é ó nosso fornecedor. Somos varejistas, compramos produto acabado dos fornecedores que nos apresentam ou dão um preço da peça ao valor de mercado.”

Justifica-se: “Houve uma violação clara ao nosso código de conduta, de maneira consciente por parte de um fornecedor que autuamos de imediato [a confecção AHA, fiscalizada em 2011]. Mas propusemos ações muito concretas e realistas para descartar situações como essas no futuro.” 

Como?

"Não só no nosso programa de reforço na forma que atua nossa cadeia, mas também na capacitação, com medidas de apoio social a imigrantes, foram R$ 14 milhões investidos desde 2011.”

É como se ele dissesse: pagamos pelo nosso erro com 14 milhões de reais, "presenteamos" os imigrantes com projetos sociais. Não seria o correto promover tal ação social, após a mudança na cadeia de processos e operações? Assim, realmente estaria sendo transparente e passaria credibilidade aos seus públicos de interesse, principalmente à sociedade de forma geral.

Como dizia Einstein: "insanidade é cometer os mesmos erros esperando resultados diferentes."

Contradição

Caminho diariamente pela Rua Santa Efigênia, no centro de São Paulo, por ali, vejo lojas que vendem iPhones pela metade do preço das autorizadas. Se uma da minhas filhas chegasse com um desses aparelhos em casa, o que faria? Diria a elas: não se preocupem com os fornecedores das lojas? A terceirização não importa?

O que vale é não comprar direto da mão de quem o roubou!

Na opinião ególatra e pouco altruísta do presidente, o importante é que não comprem direto das mãos das 200 empresas, contratadas por seus fornecedores.

Se o “líder” sabe, que 200 empresas são terceirizadas pelos seus 32 fornecedores, não seria mais coerente investir em uma estratégia que tivesse como objetivo investigar e apurar essas terceirizações, do que em medidas pontuais de filantropia? 

Ações como essas comprovam que muitos “lideres” não se atentam as mudanças, ao contrário, ficam presos as reminiscências do automatismo organizacional.

O verdadeiro líder preocupa-se com toda a cadeia de valores da organização, processos e operações por meio de um PROCESSO COMPENSATÓRIO que venha a beneficiar, ou melhor, ser justo com todos os seus públicos de interesse, sejam eles diretos ou indiretos. A comunicação e, principalmente, as atitudes e comportamentos paradoxais aos valores, que deveriam servir de exemplo para todos aqueles inseridos no organismo social, são os grandes responsáveis pelas crises organizacionais.

A comunicação deve servir como meio de projetar, através dos mais diversos canais de mídia, a imagem como reflexo da identidade organizacional. 
Não é o caso da Zara.


terça-feira, 20 de maio de 2014

Comunic(ação) e market(ing): "ings" sem "ação" resulta em confusão

Início de mais um dia de trabalho, metrô lotado, rostos pesados, o empurra-empurra dentro dos vagões, cada um cumprindo com seu destino. Trabalhadores dos mais diversos níveis hierárquicos e sociais, seguindo por caminhos que se cruzam.


Na volta, grupos de colegas, criticando suas equipes e chefias, é o que mais se ouve. Conversas são, em sua maioria, reclamações de seus ambientes e relacionamentos de trabalho.
Certo dia, atraído pelo tom peculiar, prestei atenção em um desses debates. Ouvi uma asiática, cabelos presos e a perceptível substituição dos sapatos de salto pelo par de tênis confortável, para o retorno ao lar, dizer a um colega de trabalho:
 “Foi legal o elogio do nosso gerente, pelo sucesso do projeto e por ter presenteado a equipe, cada um, com um Sonho de Valsa”. São pequenos gestos que fazem grandes líderes, pensei.

Provavelmente, a estratégia do gestor é fazer com que todos conheçam e trabalhem alinhados aos negócios, processos e operações corporativas.

E o bombom? Foi uma simples premiação? Ou nele havia um significado?
Em meus devaneios conclui: um trabalho alinhado e disseminado em equipe alcança resultados mais do que os esperados, portanto um sonho realizado.
Em conversas informais com profissionais de marketing, já ouvi muitas afirmações como:
“Nosso trabalho não é comunicar, mas, sim, criar estratégias de maximização das vendas, gerar resultados. Quem se responsabiliza pela comunicação são os publicitários, assessores de imprensa, comunicação interna que geralmente se reportam aos gestores ou diretores de marketing”.
Aí me pergunto: o que seria dele e de suas ramificações (endomarketing, trade marketing,benchmarking e outros “ings”), ou melhor, como alcançar resultados perenes sem que essas áreas se integrem e interajam mutuamente, por meio de uma comunicação estratégica que as alinhe à cultura, aos valores, a missão e a visão organizacional?
Penso de forma simples: assim como num ambiente familiar, deve-se manter um equilíbrio entre receitas e despesas. O ideal é que a receita seja sempre maior que as despesas. Mais do que aumentá-las, o ideal seria buscar, a médio e a longo prazo, reduzir mais e mais as despesas, e aumentar mais e mais a receita. Mas dentro da simplicidade, não se pode esquecer da eficiência.   
Como reduzir custos sem prejudicar ou entrar em conflito com seus familiares? Como ser compatível, tendo culturas e valores divergentes? Acredito que a melhor forma é analisar minuciosamente as semelhanças, ao invés das diferenças.
Antes de “vestir a camisa da empresa”, é necessário oferecer ao colaborador algo que realmente lhe sirva, deixá-lo ciente da importância de sua posição. Só se vence ou se alcança algum resultado com ações efetivas de integração, entre as áreas de marketing e as de comunicação. Estas, geralmente terceirizadas (principalmente assessoria de imprensa, publicidade, comunicação institucional em geral). Para motivá-las e integrá-las é imprescindível inseri-las no mundo organizacional.
O que se deve fazer para torná-las aliadas do negócio, responsável pelo sucesso da corporação e igualmente preocupadas com o seu desempenho?
Ações comuns e pontuais de endomarketing em parceria com o RH (como estampar em murais corporativos o funcionário do mês, premiá-los com festas de debutante para suas filhas, oferecer-lhe bônus por gerar resultados) bastam para fazê-lo um aliado ao negócio, responsável pelo sucesso da corporação e igualmente preocupado com o seu desempenho?
Ações como essas se assemelham a de pais que premiam seus filhos com brinquedos ou qualquer outra coisa material do interesse deles, quando cumprem com suas obrigações e, assim, isentam-se da responsabilidade de educá-los e conscientizá-los sobre valores e cultura. Fazem com que a família se distancie de objetivos comuns e, consequentemente, do equilíbrio familiar.
O marketing parece ineficaz da forma como tem sido conduzido, sempre focado em cumprir metas, se desvincula de uma execução sistêmica que deve ter a comunicação como ponto de partida para diagnosticar e criar estratégias bem definidas, que sirvam como meio de integrar o marketing, comunicação interna e externa, ao mesmo objetivo.
O ideal é que recrutem, ou melhor, eduquem agentes reprodutores de conhecimento, e não vejam seres humanos como meros robôs reprodutores das reminiscências do automatismo organizacional.
Os resultados efetivos e perenes virão da valorização do potencial do indivíduo, como peça fundamental às estratégias, aos objetivos da organização. Isso é comunicação e marketing, é fazer parte, é vestir a camisa da corporação. Aquela que tem a percepção de que o mundo não se adaptará às suas necessidades e sim, ela às necessidades do mundo. Que o enxerga de dentro para fora.
Formada por seres humanos, a organização, também tem sua psique, que necessita de cuidados para não desenvolver patologias generalizadas. No relacionamento organizacional, verdadeiros líderes são aqueles que mostram seu ponto de vista, mas que não têm como objetivo convencer a todos que suas ideias são irrefutáveis.
A comunicação corporativa serve como meio e como fim. No primeiro caso, servindo como forma de interação que gera integração entre as interfaces (internas e externas), portanto, como forma de diagnosticar através de diálogos, entrevistas e investigações que sirvam de material para estratégias, projetos e execuções as áreas de gestão organizacionais. Como fim, ela serve como meio de projetar, através dos mais diversos canais de comunicação, a imagem como reflexo da identidade organizacional. 

Conectados à desconexão

Vivemos há séculos a neurose da reificação, da coisificação. 

Condicionamo-nos ao material, a mistificação, em detrimento da humanização. 

A empatia e a relação com o concreto nos afastam da abstração, que nutre a alma.

Tornamo-nos apáticos ao "ser" humano. 











Deixamos de ser dialógicos. 

Vivemos numa linha tênue entre a neurose e a necrose. 

Relacionamo-nos com o inanimado e cegamos. 



Perdemos a percepção.

Deixamos de ver o mundo ao nosso redor.

Emaranhamo-nos no amalgamento de significados que gera a ausência de significado.

Estamos conectados ao mundo da desconexão.

 

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Memes da destruição: O Mal do século XXI

O gene egoísta, livro do zoologista Richard Dawkins, publicado em 1976, remeteu-me ao conceito de meme, termo muito usado atualmente, e, que, em minha visão, tem a ver com a mudança paradigmática: causa dos acontecimentos catastróficos atuais.


Segundo Dawkins, criador do conceito, o meme é um código cultural que prevalece de acordo com a sua força de assimilação pela sociedade. Dawkins, analogamente, observa o processo de evolução cultural, assemelhando-o à teoria da evolução de Darwin: um meme seria como um gene, sobrevive aquele que melhor se adapta ao meio. Assim, como o gene, ele mantém sua capacidade ou força de persuasão, até ser eliminado ou superado por um novo meme.



Quando superaremos esse mal?


Nos dias de hoje, usuários da internet, principalmente das mídias sociais, são também influenciadores de opinião potenciais. Muitos deles, em busca de visibilidade, emitem mensagens e opiniões irresponsáveis que influenciam a opinião pública e por consequência a sua ação. Muitos "cidadãos", sem senso crítico, passam a tomar atitudes e a se comportarem de forma insana, influenciados por fofocas virtuais e opiniões de "jornalistas" ególatras, irresponsáveis, com "valores" e visão de mundo deturpados pela avareza. 


"A atitude dos vingadores é até compreensível. O contra-ataque aos bandidos é o que eu chamo legítima defesa coletiva. E, os defensores dos direitos humanos que se apiedaram do marginalzinho preso ao poste, eu lanço uma campanha: faça um favor ao Brasil, adote um bandido". Rachel Sheherazade

"Daí surgem enlouquecidos que amarram um jovem ladrão num poste, espancam cruelmente outro e 
são capazes de cercar, jogar no chão, dar pauladas e passar com a bicicleta em cima da cabeça de uma moça indefesa, mãe de dois filhos. Por que? Alguém postou na internet desenho de uma suposta "bruxa" que sequestraria crianças para rituais macabros. E outro alguém achou que era Fabiane Maria de Jesus, 33. E outros "alguéns" foram atrás. E dezenas de mais "alguéns" deixaram acontecer. Onde nós estamos?" Eliane Cantanhêde
Fonte: Trecho do artigo: "Onde nós estamos", de Eliane Cantanhêde, veiculado, nesta quinta-feira, na Folha de SP. 


quarta-feira, 7 de maio de 2014

Comunicação insustentável: causa das crises organizacionais




A comunicação como meio deve estar ligada ao institucional da empresa, com objetivo de investigar e diagnosticar o relacionamento entre as interfaces (internas e externas), ao fortalecimento da identidade corporativa. 


O problema está em como ela é conduzida na maioria das organizações: sempre com fins mercadológicos. Há uma dissonância imensa entre a comunicação institucional e a mercadológica: a imagem (comercial) deveria ser reflexo da identidade (institucional), o que não acontece na maioria das corporações. Grande parte delas emitem mensagens a seus públicos de interesse que destoam ou não condizem com suas realidades. Não buscam o diálogo, a apuração, a investigação, o conhecimento histórico daquilo que as circundam. 

Comunicação institucional e mercadológica vivem como casais acomodados numa constante disputa de egos, em um infinito embate de personalidades. Não percebem que os resultados virão de uma verdadeira gestão do conhecimento ou do relacionamento com seu entorno. A comunicação paradoxal, com relação aos "valores", cultura, missão e visão institucionais, é a grande responsável pelas crises organizacionais.

segunda-feira, 5 de maio de 2014

A sustentabilidade começa em casa: Por onde começar a mudança?



Para refletir sobre comunicação interna e como ela pode trabalhar em sinergia com o RH das organizações, com objetivo de alinhar seus colaboradores a uma cultura sustentável, há que se fazer uma pequena divagação sobre como vejo o conceito de sustentabilidade.

Uma forma muito simples de entendê-lo é ligarmos a sua execução à palavra alteridade. Sem ela não há altruísmo e empatia com os públicos de interesse, não há como enxergarmos as suas necessidades dentro do organismo social, do qual fazem parte.

As relações devem respeitar a cultura, os valores e especificidades de todos os envolvidos, num processo dialético compensatório em que se faça enxergar a integridade dos fatos, por meio de uma visão humanística, do conhecimento histórico, da investigação, da apuração.

É primordial que a comunicação, seja ela a institucional ou a mercadológica, esteja alinhada ao modelo de gestão.

A ideia é a conexão aliada à ação de forma ubíqua a todos os setores ou áreas organizacionais, com o objetivo de transmitir uma mensagem uníssona. Como num quebra-cabeça, só se chega à perfeição, ou melhor, mais próximo dela, se as peças estiverem conectadas.

É cada vez mais comum vermos minorias sociais saírem de seu lugar de submissão e da condição de devedoras perante as organizações, para o papel de credoras potenciais de uma nova configuração que beneficie a sociedade como um todo. Nessa conjuntura, organizações devem se alinhar a um sistema de compensação que concilie o retorno financeiro às demandas sociais e ambientais.

Por onde começar a mudança?

Utilizo-me de uma afirmação feita pelo Papa Francisco, em uma de suas aparições públicas, para contextualizar como acredito que deveria ser o posicionamento de qualquer instituição no que tange ao planejamento estratégico de comunicação para a sustentabilidade, tendo como ponto de partida a comunicação interna: “Os protagonistas da igreja são os fiéis e não a hierarquia.


Acredito que a grande dificuldade do RH e da Comunicação interna é não interagir e não se integrar mutuamente, e nem à cultura e aos valores da corporação voltados para a sustentabilidade.

O ideal é que recrutem, ou melhor, eduquem agentes reprodutores de conhecimento e não vejam seres humanos como meros robôs reprodutores das reminiscências do automatismo organizacional.

Na maioria das vezes, as altas lideranças promovem uma gestão de gabinete e não tomam ciência do que acontece nos bastidores das mais diversas áreas e setores da organização. Querem os resultados em vez de se unirem como uma família saudável em busca do bem e objetivos comuns. Vivem como casais acomodados em um infinito embate de personalidades. Não buscam o diálogo, a apuração, a investigação, o conhecimento histórico daquilo que os circunda. Não percebem que os resultados virão de uma verdadeira gestão do conhecimento ou do relacionamento com seu entorno.

Altruísmo, pensamento coletivo, apreender o outro, ouvi-lo, interagir; deveriam fazer parte de suas preocupações de caráter interno (forças) e não só se limitarem à emissão de mensagens aos seus colaboradores que reforcem uma "relação" vertical e autômata. Esse deveria ser o objetivo maior da comunicação interna em parceria com o RH.

Focadas num modelo de comunicação interativa e dialógica aliada à gestão, as organizações teriam mais segurança e firmeza na tomada de decisões.
Mais do que comunicados gerenciais ou da alta cúpula, os canais de comunicação interna e suas peças deveriam ter como objetivo integrar a família corporativa em conjunto com o RH da empresa, ou seja, utilizar a interação e a troca de conhecimento como meios para diagnosticar e reformular processos e operações para obtenção de resultados perenes.

Para isso é imprescindível a participação de todos (independente de hierarquia ou área de atuação), tirando-os do automatismo, enxergando-os como produtores de ideias e conhecimento.

A valorização da potencialidade humana diminui o absenteísmo e o turnover, permitindo que as organizações mantenham seus colaboradores alinhados à cultura, aos valores, à missão, à visão e à estratégia organizacional. Sendo assim, a imagem passa a refletir o fortalecimento da identidade institucional.

Um modelo moderno de gestão não deve se ater somente a transmitir informação, mas sim, a criar um ambiente compensatório em que os colaboradores possam discutir e questionar as informações.
Acreditar que as soluções estão exclusivamente sitiadas no alto escalão é um erro. Os líderes devem perguntar e não só dar respostas, pois quem está no dia a dia das operações tem mais conexão com a realidade dos fatos.

Miopia organizacional

Em seus discursos, as altas lideranças devem aprender a mostrar seus pontos de vista, sem desconsiderar os demais. Sendo menos ególatras, expandem suas visões e limitações, enxergam além. Com alteridade tornam-se menos míopes, vão onde dificilmente iriam. Como num quebra-cabeça, só se chega à perfeição, ou melhor, mais próximo dela, se as peças (ideias) estiverem conectadas.

A comunicação corporativa serve como meio e como fim. No primeiro caso, servindo como forma de interação que gera integração entre as interfaces (internas e externas), portanto como forma de diagnosticar através de diálogos, entrevistas e investigações que sirvam de material para estratégias, projetos e execuções as áreas de gestão organizacionais.

Como fim, a comunicação serve como meio de projetar, através dos mais diversos canais de comunicação, a imagem como reflexo da identidade organizacional.

 

A imagem diz mais do que as palavras




Como dizia o grande filósofo francês Roland Barthes (1915 - 1980), a fotografia é subversiva, não porque aterroriza, perturba ou mesmo estigmatiza, mas quando mostra a verdadeira realidade dos fatos, faz pensar, desmistifica o conteúdo dediscursos falaciosos.

A imagem, por muitas vezes, diz mais do que as palavras.

Quem se lembra da imagem que mudou o curso da guerra do Vietnam?

Assista o vídeo (1min e 37s)

Os memes colonizaram nossos cérebros


Veja o vídeo, de apenas 2 minutos, em que o filósofo Daniel Dennett explica que o cérebro do ser humano funciona como estruturas de softwares. Aproveite e leia também meu artigo "A utilização dos memes como indicadores estratégicos das organizações" publicado na minha coluna da Aberje em 19/11/2013. 

Segue uma prévia : "O conceito de meme criado em 1976 pelo zoologista Richard Dawkins, atualmente muito disseminado, em minha visão tem muito a ver com as mudanças paradigmáticas no contexto do organismo social, ou seja, nas organizações públicas, privadas e na sociedade como um todo. 

Deixe seu comentário por lá: Aberje 

domingo, 4 de maio de 2014

A fofoca no século XXI

No mês passado, noticiou-se muito sobre o bloqueio de algumas mídias sociais (Twitter e YouTube) pela Turquia. Cada vez que informações que não agradam a determinado poder são difundidas pelas redes sociais, fica mais cômodo bloquear o veículo de divulgação do que aprendermos a lidar com eles. É o castigo aplicado ao filho rebelde que, desobedecendo às ordens dos pais, está fazendo mais uma de suas molecagens, ou seja, expondo publicamente o que deveria ficar restrito ao seio familiar.
Olhando para dentro das empresas, percebemos que esta prática repressora se repete, sem nenhum constrangimento, porém certamente, com consequências tão nefastas quanto as que vemos ocorrer no macrocosmo que envolve as censuras desses tipos de governos.
Vamos retroceder um pouco no tempo e entender como se processa a disseminação de informações negativas, popularmente conhecidas como “fofocas”.

Fofocas parecem ser tão antigas quanto a própria humanidade, desde que elas passaram a se organizar dentro de um mínimo nível hierárquico de poder (político ou familiar). Os mexericos foram e são tão presentes na vida humana que até mesmo um Deus para eles foi instituído: Tutivillus, o deus que tinha como tarefa incentivar as mulheres a fofocarem!
Viajemos, por exemplo, para a Paris de Luís XIV, para a Lisboa do século XIX ou outra corte qualquer. 

Fofocar era o que mais se fazia nesses lugares que foram grandes centros mundiais do poder e dos mexericos institucionalizados. Você acha que isso mudou? O que me diria, então, sobre os colegas jornalistas que se veem obrigados a se infiltrarem nas entranhas dos chamados “corredores do poder” em busca de algum “rumor” que possa vir a se tornar um furo de reportagem? 

Diminuindo ainda mais o nosso campo de visão chegamos a centros de fofocas mais restritos, como aqueles encontrados em uma academia, nos condomínios, padarias, salões de beleza, etc. Lembro aqui, com um exemplo bem cotidiano, os questionamentos feitos a toda vizinhança de um criminoso ou vítima de crime sobre “como fulano era no seu dia a dia” quando o caso é investigado. O que é isso se não a credibilidade de toda sociedade nas informações geradas pelos polos de fofoca? O “saber da vida do outro” e poder divulgar essas informações publicamente se torna uma moeda de grande valor. Dá visibilidade a quem as detém.

Sociólogos a antropólogos não poderiam deixar de teorizar sobre o tema e muitos produziram trabalhos interessantes com visões bastante singulares sobre as fofocas que assolam a humanidade. Alguns focaram os mexericos não mais nas comunidades (que viam como mito), mas nas redes de indivíduos que agiriam em favor de seus próprios interesses utilizando essa gestão de informação para causar boa impressão ou para competir com a concorrência. E é aí que as coisas começam a ganhar importância nesse século. No nosso século XXI, o advento da fofoca ganha novas oportunidades de disseminação: as redes sociais. Como se já não bastassem os estragos causados pelas fofocas “boca a boca”, hoje temos que lidar com uma fofoca que alcança uma visibilidade , diríamos, grotesca. 

E é nessa hora que entramos com mais alguns agravantes: hoje todos podem ser agentes de produção de conteúdo e notícias e não só mais receptores das mesmas. Adicionemos a isso o fato de termos uma taxa muito significativa de analfabetos funcionais (pessoas que não entendem o que leem) com uma pitada de ânsia incontida de visibilidade a qualquer custo, (num mundo em que não aparecer significa praticamente não existir). Pronto! Temos a receita perfeita para fazer qualquer organização se desesperar frente à possibilidade de ser alvo de comentários nas mídias sociais. 

O fato é que as empresas estão, cada vez mais, presentes nas redes sociais e disso não tem mais como fugirem. Mesmo algumas ainda tentando permanecer de fora, resistindo a uma presença on-line formal, haverá sempre alguém falando sobre elas nos ambientes digitais.

A internet pode ser utilizada de forma inteligente e útil ao estudo do comportamento entre as marcas e seus públicos de interesse ou de forma inversa, ignorando sua abrangência. Todo tipo de negócio são lembrados pelos consumidores de forma positiva, neutra ou negativa. É preciso que as organizações saibam enxergar-se através do olhar que vem de fora, do olhar do cliente, do consumidor que nem sempre é o seu ou é a forma pela qual gostariam de serem vistas. 

Receber uma crítica via redes sociais é também uma possibilidade de crescimento. Nenhuma empresa agrada a todos. Isso é uma ilusão. Sempre haverá descontentes, expectativas exageradas que não foram alcançadas e é preciso saber lidar com eles de forma clara, rápida, consistente e, principalmente, humilde. É preciso agir com alteridade.

Assim como a presença nas mídias sociais abre a empresa para ser criticada publicamente, também abre porta para o inverso (elogios) e mais ainda, permite que também sejam defendidas publicamente. O que importa é mantermos esta balança pendendo para o lado positivo, para o lado das boas experiências, dos elogios, da recomendação. As marcas devem temer a indiferença do público alvo e não as suas críticas que, na verdade, vem para possibilitar melhorias na gestão.

O que são os comentários nas redes sociais sobre a marca e produtos se não fofocas que atingiram o plano digital? Considerando que tivemos um crescimento de nada menos do que 40 milhões de pessoas que ascenderam à classe média no Brasil nos últimos 10 anos, esse número incorporou um contingente significativo de consumidores, ávidos por acesso a bens e produtos antes distantes de sua realidade econômica, que contam agora com recursos tecnológicos para compartilharem suas experiências com eles, publicamente. 

As marcas ainda ouvem pouco e por isso entendem pouco sobre o gosto, as necessidades e as preferências de seus consumidores, pois quem comanda as estratégias publicitárias, as empresas e as agências costumam ter gostos bem diferentes do gosto do consumidor médio. 
Saber lidar de forma profissional, madura, inteligente com o que se divulga nos canais digitais sobre a organização, com as eventuais crises geradas por comentários negativos se tornam práticas fundamentais nos dias de hoje. Atrelar a identidade da organização à imagem que o público tem dela é condição sine qua non para a sua sobrevivência.

A fofoca, hoje travestida de “comentários” nas redes sociais foi e é, portanto, vista como uma prática intrinsecamente humana e fundamental na construção, manutenção e também na destruição da honra, reputação de uma família ou indivíduo e hoje faz o mesmo com uma marca através do uso e abuso da tecnologia.

Fonte: Aberje