sexta-feira, 8 de março de 2013

Falar sem mordaças



por Francisco Viana - Jornalista, mestre em Filosofia Política (PUC-SP) e consultor de empresas.


A bloqueira Yoani Sánchez  se tornou a grande sensação do momento. Não pelo que disse ou poderia dizer – que vale registrar , não contém muita novidade - , mas pelas manifestações que suscitou. O normal numa democracia, como é o caso do Brasil, seria ela poder falar livremente, participar de debates, expor suas ideias como qualquer outro mortal.

Não foi o que aconteceu. Foi impedida por manifestantes, hostilizada e, evidente, esse é um lado velho do Brasil moderno. Fica , porém, a lição. Quanto maior o mistério, tanto maior o interesse. Quanto maior o interesse, mais o menos vira mais e o mais se transforma em crise. 
Vejamos, por exemplo, algo que nasceu e floresceu dentro do próprio Estados Unidos: o filme A Hora Mais Escura , de Kathryn Bigelow. É uma denúncia vigorosa contra a tortura, contra a ética perdida na guerra contra o terror, mas que foi absorvida pela sociedade democrática, sem sobressaltos e seguirá o seu curso de questionamento. O filme está em cartaz no Brasil e foi recebido como deveria ser: um exercício de liberdade.

Esse é o erro que se comete sempre que se cruza com opiniões divergentes. Procura-se hostilizá-las, como se fosse “uma traição”, para citar as palavras da própria Yoani, em lugar de absorvê-las, de se procurar entendê-las, ver o que existe de construtivo e o que existe de fantasia. O que existe de fato, o que existe de versão. 

O debate e as mudanças são vitais na sociedade. E não pode haver mudança, nem debate se existe cerceamento.

Comunicação é isso: partilhar ideias. O que faz da democracia Americana forte é essa característica: tudo está nas ruas. É assim desde a fundação dos Estados Unidos. Nada foi dado, tudo foi conquistado. A pergunta de fundo que se coloca é como construir uma sociedade democrática e para onde esta sociedade caminhará? Existiram quarto grandes revoluções no mundo. A Inglesa, a Americana, a Francesa e a Russa. Houve diálogo entre elas? Certamente não. Sobreviveu a quinta revolução. A Chinesa. Por que? Está aprendendo a ouvir, a dialogar. Entendeu que em regimes fechados, o custo humano é elevadíssimo. Porque a vida conta pouco, a política ideológica é preponderante. 

Yoani Sánchez  veio ao Brasil para expor suas ideias e é assim que devia ser acolhida. Tendo a liberdade que é assegurada a todos, venham e pensem como pensar. Democracia é falar com liberdade. Sem mordaças. Pois as mordaças têm caminho conhecido. Cedo ou tarde, vão para a lixeira da história.