quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Homossexualidade: superação de preconceito ou estratégia de persuasão?


Uma linda cena de amor entre gays é tão impactante? 
Não acredito. 


Adoraria ver a quebra desse tabu (preconceito). 


Mostrar as relações dos casais gays, com limitações, que não vemos entre os héteros, que se entrelaçam quase nus em meio a beijos contundentes nas nossas telas, todos os dias, parece para mim, mais preconceituoso do que se não as mostrassem. 


Eu acredito que a questão está na discussão da inversão de valores da nossa sociedade. Vermos escorrer sangue pela televisão, como escorre o suor em nossos corpos nos dias escaldantes de verão, parece ser mais enriquecedor do que cenas despretensiosas de amor. 

O fato é que há uma falsa pretensão de se extinguir preconceitos. 
Homossexuais são grandes consumidores de bens e serviços, ai a estratégia de destacá-los, persuadí-los ou convencê-los quanto à inclusão. Não os mostram com naturalidade. 
O grande objetivo é se beneficiar do forte potencial de consumo desse público. Essa é a minha "ingênua" opinião.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Dentro da ostra se encontra o conteúdo


Foi o grande filósofo, linguista e ativista estadunidense Noam Chomsky quem elaborou a lista das “10 estratégias de manipulação” utilizada pela grande mídia - quanto maior a capacidade de apuração, desmistificação e desconstrução das mensagens e discursos midiáticos, maior o distanciamento crítico, que possibilita o esvaziamento do conteúdo ideológico e a proximidade da realidade dos fatos. A verdade é camuflada pelos signos. Dentro da ostra se encontra o conteúdo -,
uma delas se enquadra perfeitamente na atual conjuntura, principalmente quanto às manifestações violentas e a economia:

CRIAR PROBLEMAS, DEPOIS OFERECER SOLUÇÕES

"Este método também é chamado “problema-reação-solução”. Cria-se um problema, uma “situação” prevista para causar certa reação no público, a fim de que este seja o mandante das medidas que se deseja fazer aceitar. Por exemplo: deixar que se desenvolva ou se intensifique a violência urbana, ou organizar atentados sangrentos, a fim de que o público seja o mandante de leis de segurança e políticas em prejuízo da liberdade. Ou também: criar uma crise econômica para fazer aceitar como um mal necessário o retrocesso dos direitos sociais e o desmantelamento dos serviços públicos."



Leia a íntegra das estratégias 

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Conscientização não é educação

Muitos daqueles que compõem o organismo social têm consciência, no entanto, poucos agem movidos por ela. Bem educados são aqueles que veem a adversidade com empatia, ou seja , são altruístas com aqueles que os rodeiam, independentemente das "diferenças". São aqueles que enxergam os valores e as culturas como diferenças a serem assimiladas e respeitadas e não como diferenças paradoxais incompatíveis com as suas verdades, realidades ou objetividades. Com alteridade há diversidade, unidade, e, consequentemente agregação de valores às culturas envolvidas no processo.

Foto


Qual o valor de uma galinha?

“Não há nessa nação nada de bárbaro e de selvagem, pelo que me contaram, a não ser porque cada qual chama de barbárie aquilo que não é de costume; como verdadeiramente parece que não temos outro ponto de vista sobre a verdade e a razão a não ser o exemplo e o modelo das opiniões e os usos do país em que estamos".   
          Michel de Montaigne¹

No final do ano passado, participei de um congresso sobre comunicação para a Sustentabilidade. Lá ouvi o depoimento do presidente de uma grande construtora. 
Um dos momentos mais interessantes de seu discurso foi quando se referiu a um fato que o deixou indignado, num primeiro momento, e revoltado, logo após. 
Sentado em sua confortável poltrona, no ambiente agradável de sua sala, recebeu através de dois funcionários, a notícia de que uma grande obra que estavam executando, a construção de uma tubulação que passava por baixo de uma grande rodovia, tinha sido interrompida. 
O presidente surpreso perguntou: 
- Por qual motivo? Já que todas as precauções de segurança e de impacto ambiental tinham sido discutidas e resolvidas com as comunidades entorno da obra? 
Os funcionários constrangidos disseram: 
- Porque que mataram a galinha de uma senhora da comunidade.  
Veio o momento de revolta. 
O presidente, incrédulo, esbravejou: 
- Como pode um projeto de milhões de reais ser interrompido pela morte de uma galinha? 
E assim, o executivo resolveu sair de sua sala e se dirigir até o local. 
Ao chegar lá, ficou estarrecido: deparou-se com duas dezenas de pessoas, que interrompiam a estrada, vestidas à farrapos, reivindicando que dessem outra galinha a senhora, seu meio de subsistência, pois dois funcionários da empresa tinham a matado para fazer um ensopado. 
O homem “poderoso” com seus sapatos lustrados nos pés tinha como interesse e valorizava o empreendimento, já a pobre e frágil senhora reivindicava apenas entre as poucas coisas que tinha de “valor”, sua galinha. 
           
Moral da história: nada pode ser mais educativo e convincente para as organizações do que um fato como esse. Para alcançar a alteridade, elas precisam ampliar a escuta e a visão perante seus públicos de interesse, pois a maioria delas permanece surda e cega diante desses fatos. 
Sem suas convicções, as organizações podem desmistificar as suas certezas e verem o que de fato é real. Fora do ambiente organizacional enxerga-se a distinção entre as culturas de seus públicos de interesse.
        
Se doesse nas organizações, como no caso da construtora, que teve sua obra paralisada, sentindo o que os seus públicos de interesse (no caso a comunidade) sentem ao serem lesados, talvez passassem a enxergá-los como organismos vivos e não como empecilho ao seu automatismo.         
     
Isso parece ser um clichê à noção de identidade e do status organizacional, afinal a liderança tem uma natureza, ascendência e cultura diferentes.
      
Basta às organizações ampliarem a sua escuta para a realidade se revelar. Todas elas possuem a soberania, o poder para si, valem-se de ilusões para convencerem e persuadirem seus públicos de interesse. 
     
A prática mais importante para as organizações manterem a credibilidade e agregar valor aos seus serviços e produtos perante seus stakeholders é manter as portas abertas em todas as direções. Esta postura não defensiva nutre compromissos, estabelecendo fundamentos e valores sem que se faça impedimento à geração de resultados da organização. Elas devem ser porosas e serem anfitriãs, terem a mente aberta para mudanças compensatórias que a médio e a longo prazo geram valor institucional e por conseqüência o alcance das metas comerciais ou mercadológicas. 

No Sistema de Compensação, modelo de gestão que venho aqui delineando aos poucos com vocês, leitores, em artigos anteriores a esse, o comunicador está sempre transformando opiniões e juízos em histórias. Sua missão é transformar o discurso direto da organização, que é veemente por natureza, em uma locução hipotética e dialógica focada na sua história e na de seus públicos de interesse. 

Esse sistema se assemelha a uma espécie de hospedagem. Como convidar seus públicos de interesse a serem anfitriões de suas políticas? Como cativá-los para que eles vejam na organização com a qual se desentende, uma aliada?  
1° - Fazê-los perceber que essa fala contém honestidade, coerência institucional e mercadológica e que eles serão recompensados com sua proposta.
2° - Respeitar as diferenças culturais e através delas criar políticas e estratégias compensatórias.
3° - Enfatizar o que há em comum entre organização e públicos de interesse.   
Ao seguir essas premissas a organização deixa seu discurso ególatra e ganha a entonação de entendimento de seus stakeholders.

Abrir os ouvidos para acomodar seus públicos de interesse e lhes dar espaço é hospedá-lo.            
Em termos mais simples, podemos dizer que o Sistema de Compensação é uma espécie de marketing indireto, pois o alcance das metas mercadológicas das organizações depende de uma estratégia que tem como base o fortalecimento da identidade organizacional ou institucional (transparência e credibilidade), focada na alteridade. 

Conhecendo seus públicos de interesse e suas necessidades, a organização tem a possibilidade de agregar valor que proporcione condições verdadeiras que permitam a sua prosperidade e a sua perenidade.     
A comunicação serve como meio e como fim. No primeiro caso, servindo como forma de interação que gera integração entre as interfaces (internas e externas), portanto como forma de diagnosticar através de diálogos, entrevistas e investigações que sirvam de material para estratégias, projetos e execuções as áreas de gestão organizacionais. Como fim, a comunicação serve como meio de projetar, através dos mais diversos canais de comunicação, a imagem como reflexo da identidade organizacional. 

________________
¹ Michel Eyquem de Montaigne (1533/1592) foi um político, filósofo e escritor francês, considerado como o inventor do ensaio pessoal. Nas suas obras, mais especificamente nos seus ensaios, analisou as instituições, as opiniões e os costumes, debruçando-se sobre os dogmas da sua época e tomando a generalidade da humanidade como objeto de estudo.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

A era dos novos gatekeepers


No último artigo falei sobre a evolução dos memes e da influência que eles exercem no organismo social. Nesta abordagem falarei das pessoas que nascem adaptadas a eles e da influência que exercem na sociedade e nos ambientes organizacionais. 

Jovens (novos gatekeepers¹) crescem num ambiente comunicacional paradigmático, onde se configura uma interação caracterizada pela transversalidade. Portanto, um relacionamento que não mais se restringe aos conteúdos produzidos pelas mídias tradicionais.

Hoje, eles produzem seus conteúdos e os disponibilizam em rede, seja através de seus blogs, microblogs e redes sociais.

Além de se diferenciar no caráter estético, com a construção, a convergência de mídias e a não linearidade, as mídias digitais permitem a divergência de opiniões e abrem espaços às discussões e às formações das comunidades. 

Por isso, é um risco as mídias tradicionais e às organizações. À primeira por ter que se adaptar a essas gerações que têm outro tipo de relação com a informação e o conhecimento e à segunda por ter que mudar seus processos de gestão, ou seja, sair de uma administração que ainda vigora, em muitas organizações/empresas, aos ditames do taylorismo e fordismo.

A nova cultura comunicacional condiciona a adaptação das organizações à essa realidade, num processo que muito se assemelha à teoria da evolução de Darwin. A geração X se esforça para adaptar-se ao meio ou o negligência, diferente daquela que já nasce persuadida pela evolução.

As empresas não são diferentes, aquelas que surgem, têm mais facilidade de se adaptarem às novas tecnologias e às mudanças que elas causam no organismo social.  Essa nova configuração é uma ameaça às empresas acostumadas e condicionadas a um modelo mecanizado, o que torna muito mais difícil a adaptação, pois ele está ligado ao automatismo e a valores, cultura, missão e visão organizacional que precisam ser modificadas. 

Como diz Pierre Lévy² “as forças tecnológicas desencadeadas pela engenhosidade humana e a submissão coletiva ao autômato, têm fugido do controle de seus criadores.” 
Enfim, é tempo das organizações repensarem seus modelos de gestão e adotarem novas estratégias que exijam transparência financeira, social e ambiental perante seus públicos de interesse e a sociedade, se quiserem sobreviver à evolução.

Muitos, sem citar os da geração y, já vêm se adaptando às novas mídias e utilizando-as de forma "agressiva" contra organizações que os desrespeitam como consumidores e cidadãos. Imaginem o que serão delas com a nova geração adaptada e muito mais exigente, veloz e voraz por informação e interação digital.
Fica aqui um devaneio: por que será que as organizações não utilizam essas plataformas, com o mesmo potencial que os consumidores ou cidadãos vêm utilizando-as, com objetivo de engajá-los institucionalmente e posicionar sua marca de forma ética, fortalecendo identidade e utilizando-se da comunicação mercadológica para refletir a imagem de forma idônea, condizente com o que realmente é ou faz? 

Muitas organizações/empresas já têm, através de suas propagandas, mostrado a consciência dessa nova configuração social. Basta saber se as imagens que divulgam condizem com as suas reais identidades.

por Ricardo Bressan

Fonte: Aberje


________________
__
¹ Gatekeeping é um conceito jornalístico para edição. Gatekeeper é aquele que define o que será noticiado de acordo como “valor-notícia”, linha editorial e outros critérios. Gatekeeper também pode ser entendido como o "porteiro" da redação. É aquela pessoa que é responsável pela filtragem da notícia, ou seja, ela vai definir, de acordo com “critérios editoriais” (por muitas vezes, não condiz com a realidade dos fatos, ou seja, a imagem não com condiz com a identidade, com aquilo que realmente é – deturpação ou manipulação dos fatos de acordo com os interesses do emissor), o que vai ser veiculado. Com a efervescência e até um certo modismo da prática do jornalismo colaborativo, a função do gatekeeper tem sofrido alterações. A audiência cada vez menos passiva e mais participativa deixa a figura do mesmo menos centralizada, mas sem perder a importância na estrutura da construção da notícia. Com a popularização do uso da internet, em âmbito mundial, muito tem se discutido sobre o trâmite de informações nas novas redes de relacionamento, sites de pesquisa e empresas que veiculam conteúdo online. Para o jornalismo, essa popularização da tecnologia pode ter até redefinido as regras do ofício, mas, os princípios e a finalidade do jornalismo ainda têm sido designados por algo mais elementar: “a função exercida pelas notícias na vida das pessoas”.
² Pierre Lévy é um filósofo francês da cultura virtual contemporânea. Vive em Paris e leciona no Departamento de Hipermídiada Universidade de Paris-VIII.  Especializou-se em abordagens hipertextuais quando lecionou na Universidade de Ottawa, no Canadá. Após sua graduação, preocupou-se em analisar e explicar as interações entre Internet e Sociedade. Desenvolveu um conceito de rede, juntamente com Michel Authier, conhecido como Arbres de connaissances (Árvores do Conhecimento). Lévy também pesquisa a inteligência coletiva focando em um contexto antropológico, e é um dos principais filósofos da mídia atualmente. Suas pesquisas se concentram principalmente na área da cibernética. Com isso, tornou-se um dos maiores estudiosos sobre a Internet, que por ser uma mídia informativa recente, não possui dimensões de repercussão e aplicação bem definidas.