terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Ficamos presos a maniqueísmos, ao ismos, ao invés de nos atentarmos à complexidade dos fatos


O problema é que o Estado cada vez menos intervém na economia, pouco investe em políticas públicas e as deixam à mercê da especulação financeira e econômica. Não há regulamentação para o lucro infinito e individualista. Há, sim, leis para inibir e coibir a verdadeira democracia, a participação daqueles que necessitam.


A corrupção é um problema endêmico em todo o mundo, mas não é o maior dos problemas. 

Deveríamos buscar os mais diversos meios de informação. A dificuldade é que vivemos numa sociedade que pouco lê, pouco se informa, não busca outras versões sobre a realidade dos fatos. A grande mídia é soberana na formação da opinião pública e, por consequência, influencia também seu comportamento. 

Seguem algumas epígrafes e as sugestões de dois grandes livros para reflexão:


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"A Cultura do medo" Barry Glassner 


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"O gene egoísta" Richard Dawkins


A incapacidade brasileira de enfrentar a violência urbana tem o mesmo fundamento da americana: qualquer mudança" em sociedades tão desiguais é vista e sentida com pavor. E continuamos a investir nossos medos nos alvos mais improváveis, a dissimular o que efetivamente inquieta". 
Paulo Sérgio Pinheiro


"Um dos paradoxos relativos a cultura do medo é que os problemas sérios continuam ignorados. A pobreza correlaciona-se com molestamento de crianças, crimes e consumo de drogas. E quanto maior a diferença entre ricos e pobres, maiores os índices de mortalidade por doenças cardíacas, câncer e homicídio. As notícias sobre o crime aumentaram 600%. Sendo que as estatísticas mostram que o crime decresceu em 20%." Glassner


Não vivemos a realidade, e sim a projeção de uma realidade falaciosa. Vivemos conduzidos pelos simulacros. 


Para finalizar, diz Dawkins: "uma das razões para o grande apelo exercido pela teoria da seleção de grupo talvez seja o fato de ela se afinar completamente com os IDEAIS MORAIS E POLÍTICOS partilhados pela maioria de nós. Como indivíduos ou organizações, não raro, nos comportamos de forma egoísta (identidade). Nos momentos idealistas reverenciamos e admiramos aqueles que colocam o bem-estar dos outros em primeiro lugar (imagem)."

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Consequências da irresponsabilidade

"Imagens com agressões a suspeitos de crimes se espalham pelo Brasil"

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Rachel Sheherazade como jornalista e formadora de opinião deve se inspirar no comunicador Joseph Goobles, ministro da propaganda do 3º Reich, que, através de suas técnicas de persuasão, convenceu os alemães a aceitar o conceito de Guerra total, que incluía a mobilização contra os judeus, eclodindo no maior genocídio da história mundial. 

"Eles não vão conseguir me calar", diz Sheherazade após comentário polêmico em jornal

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"O oprimido não é coisa alguma, possui apenas uma fala, a de sua emancipação, o opressor é tudo, a sua fala é rica, multiforme, maleável, dispõe de todos os graus possíveis de "dignidade", tem posse exclusiva da metalinguagem. O opressor conserva o mundo, a sua fala é completa, intransitiva, gestualmente, teatral. A linguagem do oprimido tem como objetivo a transformação, a do opressor, a eternização." Roland Barthes


quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

A ignorância dos BLACK BLOCS alimenta o poder de manipulação da GRANDE MÍDIA



A mobilização social deve ser contundente, sair da inércia. Precisa de organização, planejamento estratégico, projetos bem definidos. Necessita de uma liderança auspiciosa para direcionar movimentos pacíficos. Não deve permitir que uma minoria violenta de "manifestantes" deslegitime a seriedade que movimentos, como os de junho, com uma política bem definida conseguiu conquistar. 



Os black blocs não se dão conta que o posicionamento "anárquico" (talvez nem saibam a origem do anarquismo. Bakunin?) alimenta a soberania daqueles que querem manter o controle sobre a economia e as políticas públicas. Os grandes meios de comunicação e seus correligionários (quem serão?) se aproveitam  da ignorância e ingenuidade desses grupos, da falta de conhecimento político e senso critico, para restabelecer a "ordem" que eles almejam. Assim, bloqueiam a legitimação e o desenvolvimento de uma democracia participativa.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Venezuela: quem é o dono, ou quais são os donos da crise?






Como jornalista e cidadão nunca tive a intenção de assumir nenhum posicionamento ideológico e partidário, mas, sim, o conhecimento histórico e humanístico, comobjetivos dialógicos. Procuro sempre através da apuração e da investigação, desmistificar, ou seja, aproximar-me da verdadeira realidade dos fatos. Penso que este debate vai além da "bipolaridade" entre esquerda e direita, que, em minha opinião, limita-se aos "ismos" (não seria melhor se enxergássemos o mundo com alteridade, buscando gerar valor ou compensações a todos aqueles inseridos no organismo social? ), aos discursos, construções de mensagens e projeções de imagens veiculadas pela grande mídia, ao invés de buscarmos meios mais interativos, sejam eles impressos ou digitais. Acredito que tendo acesso, as mais variadas versões sobre os fatos, maior a possibilidade de discernimento e senso crítico. A Guerra Fria acabou e o regime que se consolidou foi o capitalismo. A sociedade sofre das consequências de um sistema, em que os direitos civis são determinados pelo poder de compra, pelo ser aceito como consumidor. Sentido de pertencimento que não é ditado pelos serviços públicos e pela intervenção do Estado, mas, sim, pelo mercado. Não pretendo dizer com isso que o capitalismo é um regime falido, mas que precisa ser reformulado, regulamentado. 




A grande mídia faz uma economia: abole a complexidade dos fatos, confere-lhes a simplicidade das essências, suprime toda e qualquer dialética, qualquer elevação para lá do visível imediato, organiza um mundo sem contradições, sem profundeza, um mundo plano que se ostenta em sua evidência, e cria uma afortunada clareza.

Eis outra versão dos fatos, essa não veiculada na grande mídia, muito mais complexa e que exige tempo do leitor.

"O tempo é curto e o conhecimento é longo."

Boa leitura, para aquele que tiver tempo. Ao final um documentário polêmico.

Combate à especulação e ao lucro infinito


Os empresários e comerciantes venezuelanos devem cumprir, a partir de hoje (10), a Lei Orgânica de Preços Justos, que estabelece lucro máximo até 30%. Termina nesta segunda o prazo dado pelo governo para adaptação à medida. Criada para combater a especulação financeira, a lei prevê multa, expropriação de empresas e até prisão para os comerciantes que desobedecerem a norma.
Decretada pelo presidente Nicolás Maduro, a lei entrou em vigor no dia 23 de janeiro. Segundo Maduro, com a norma o governo terá "mais uma ferramenta para combater a especulação" e o que chama de "guerra econômica". O governo alega que a medida é necessária porque há produtos vendidos no país com preço até 2.000% acima do valor real.
Leia mais:

Brasil e Venezuela: a guerra da informação

por Rodrigo Vianna (@rvianna)


São tristes, preocupantes, mas não chegam a surpreender as cenas de violência e confronto aberto na Venezuela. Nos últimos 6 anos, estive lá cinco vezes – sempre na função de jornalista. Há um clima permanente de conflagração.
As TVs privadas, com amplo apoio das classes médias e altas, tentaram dar um golpe em 2002 contra Hugo Chavez.

Chavez resistiu ao golpe com apoio dos pobres de Caracas, que desceram os morros para apoiá-lo e de setores legalistas do Exército. Desde então, o chavismo se organizou mais, criou uma rede de TVs públicas para se contrapor ao “terror midiático” (como dizem os chavistas), e se organizou no PSUV (ainda que o Partido Comunista, também chavista, tenha preferido manter sua autonomia organizacional).

É preciso lembrar que TVs e revistas brasileiras (Globo e Veja) comemoraram o golpe contra Chavez em 2002 – e se deram mal porque ele voltou ao poder 2 dias depois.

Nas ruas de Caracas, ano a ano, só senti o clima piorar. Confronto permanente. Acompanhei na região de Altamira, em Caracas, o ódio da classe média pelos chavistas. Com a câmera ligada, eles não se atrevem a tanto, mas em conversas informais surgiam sempre termos racistas para se referir a Chavez – que tinha feições indígenas, mestiças, num país desde sempre dominado por uma elite (branca) que controlava o petróleo.

O chavismo tinha e tem muitos problemas: dependia excessivamente da figura do “líder”, a gestão do Estado é defeituosa, há problemas concretos (coleta de lixo, segurança etc). Mas mesmo assim o chavismo significou tirar o petróleo das maõs da elite que quebrou o país nos anos 80. Além disso, enfrenta o boicote econômico permanente de uma burguesia que havia se apropriado da PDVSA (a gigante do Petróleo venezuelana).

O chavismo sobreviveu à morte de Chavez. O chavismo, está claro, não é uma “loucura populista” ou uma “invenção castrista” – como querem fazer crer certos comentaristas na imprensa brasileira. O chavismo é o resultado de contradições e lutas concretas do povo venezuelano – lutas que agora seguem sob o comando de Nicolas Maduro, que evidentemente não tem o mesmo carisma do líder original.

Vejo muita gente dizer que o “populismo” chavista quebrou a Venezuela. Esquecem-se que a economia venezuelana cambaleava muito antes de Chavez. Esquecem-se também que o tenente-coronel Hugo Chavez Frias não inventou a multidão nas ruas. A multidão é que inventou Chavez. A multidão precedeu Chavez. Em 89, o governo neoliberal de Andres Perez ameaçou subir as tarifas públicas – seguindo receituário do FMI. O povo foi pra rua, sem nenhuma liderança, no Caracazo (uma rebelião impressionante que tomou as ruas da capital).

O chavismo foi a resposta popular à barbárie liberal, foi uma tentativa de dar forma a essa insatisfação diante do receituário que vinha do Norte. Os responsáveis pela barbárie liberal tentam agora retomar o poder – com apoio dos velhos sócios do Norte. E nada disso surpreende…

O que assusta é o nível dos comentários sobre a Venezuela nos portais de notícia brasileiros.

Li uma postagem do “Opera Mundi” . Quem tiver estômago pode conferir as pérolas dos leitores… Resumo abaixo algumas delas:

- “A VENEZUELA SERÁ PALCO DA PRIMEIRA GUERRA CIVIL PLANEJADA PARA A TOMADA DO PODER COMUNISTA NA AMÉRICA LATINA.”

- “O chavismo conseguiu levar a Venezuela à falência. Um país sem papel higiênico e muita lambança comunista para limpar.”

- “Aquele pais virou um verdadeiro lixo, podia ser uma potencia de tanto petroleo que tem, mas o socialismo acabou com tudo. O que sobrou foi uma latrina gigante.”

- “Vai morar na Venezuela então , por mim os venezuelanos tem que matar o maduro.”

- “É fácil quando a eleição é manipulada. Maduro ganhou pq roubou a eleição como foi comprovado.”

Envenenados pela “Veja”, “Globo” e seus colunistas amestrados, esses leitores são incapazes de pensar por conta própria. Repetem chavões "anticomunistas", e seriam capazes de implorar pela invasão da Venezuela pelos EUA.

Desconhecem a história da Venezuela pré-Chavez… Não sabem o que é a luta pela integração da América Latina – diariamente combatida pelos Estados Unidos.

Se Maduro sofrer um golpe, se os marines desembarcarem em Caracas, muitos brasileiros vão aplaudir e comemorar. Não são ricos, não são da “elite”. São pobres. Miseráveis, na verdade. Indigentes em formação. Vítimas da maior máquina de desinformação montada no Brasil: o consórcio midiático (Globo/Veja/Folha e sócios minoritários) que Dilma pretende enfrentar na base do “controle remoto”.


A América Latina pode virar, nos próximos anos, mais um laboratório das técnicas de ocupação imperialista adotadas no século XXI. Terror midiático, ataques generalizados à “política”, acompanhados de ações concretas de boicote e medo – sempre que isso for necessário.


Não é à toa que movimentos “anarquistas” e “contra o poder” tenham se espalhado justamente pelos países que de alguma forma se opõem aos interesses dos Estados Unidos.



O imperialismo não explica, claro, todos os problemas de Venezuela, Brasil, Argentina. Temos nossas mazelas, nossa história de desigualdade e iniquidade. Mas o imperialismo explica sim as seguidas tentativas de bloquear o desenvolvimento independente de nossos países.



A morte de Vargas no Brasil em 1954, a derrubada de Jacobo Arbenz na Guatemala no mesmo ano, e depois a sequência de golpes no Brasil, Uruguai, Argentina e Chile (anos 60 e 70) são exemplos desse bloqueio permanente. Não é “teoria conspiratória”. É a História, comprovada pelos documentos que mostram envolvimento direto da CIA e da Casa Branca nos golpes.



A Venezuela não precisou de golpes. Porque tinha uma elite absolutamente domesticada. Com Chavez, essa história mudou. A vitória de Chavez foi o começo da “virada” na América do Sul.



Os Estados Unidos e seus sócios locais empreendem agora um violento contra-ataque. Na Venezuela, trava-se nas ruas um combate tão importante quanto o que se vai travar nas urnas brasileiras em outubro. Duas batalhas da mesma guerra. E pelo que vemos e lemos por aí, o terror midiático fez seu trabalho de forma eficiente: há milhares de latino-americanos dispostos a trabalhar a favor da “reocupação”, da “recolonização” de nossos países.



Por isso, essa é uma guerra que se trava nas ruas, nas urnas e também nos meio de Comunicação. Uma guerra pelo poder nunca deixa de ser também uma guerra pelos símbolos, uma guerra pela narrativa e pela informação.




A Revolução não será televisionada", documentário na íntegra, quando a oligarquia midiática venezuelana e os EUA tentaram dar um golpe de Estado contra um governo democraticamente eleito.



Como cidadãos, pessoas físicas e jurídicas permitiremos que o meme de fazer justiça com as próprias mãos se dissemine no organismo social?

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Nos dias de hoje, em que empresas assumem discursos e projeções de imagem voltados para a Sustentabilidade (muitas delas com fins mercadológicos e não institucionais), não poderiam rever seus investimentos como anunciantes de uma emissora de televisão que dá espaço e tempo a um discurso discriminatório e fascista?


Como formadora de opinião, a jornalista Rachel Sherazade influencia grande parte da opinião pública em relação aos casos de violência urbana. Seu discurso veiculado na grande mídia, traz consigo a capacidade de incitar novos casos de força coletiva, como podemos confirmar pelas recentes notícias:

Suspeito é amarrado a poste após assalto em lanchonete de SC


Calouro é amarrado a poste em trote da Faculdade Casper Líbero


A opinião de Sherazade potencializou ainda mais a inversão de valores de uma sociedade preconceituosa, desprovida de educação política, conhecimento histórico senso crítico e dialógico. 

Muitos se respaldam na liberdade de expressão ou de imprensa para justificar suas irresponsabilidades. E a deontologia jornalística? A falta de ética não pode ser justificada ou apoiada na liberdade de expressão.

Como li outro dia: "O usofruto dos direitos civis requer o sentido de pertencimento, o qual não é dado pelos serviços públicos e, por extensão pelo Estado, mas sim pelo poder de compra, pelo ser aceito no mercado como consumidor." 



Construção de signos: os replicadores egoístas



Richard Dawkins, zoólogo, em 2005, eleito o mais influente intelectual britânico pela revista Prospect, foi quem criou o conceito do meme, que segundo ele é um código cultural que prevalece de acordo com a sua força de transmissão e assimilação dentro do organismo social. Usado como metáfora, Dawkins, analogamente, observa o processo de evolução cultural, assemelhando-o à teoria da evolução de Darwin: um meme seria como um gene, ou seja, sobrevive aquele que melhor se adapta ao meio. Assim, como o gene, ele mantém sua capacidade ou força de persuasão, até ser eliminado ou superado por um novo meme.
Sendo assim, podemos inferir que os memes verticalizados, sejam os das organizações públicas, privadas ou da grande mídia (que contém os códigos culturais e que até há pouco tempo prevalecia e conduzia soberano a conduta social) defrontam-se, hoje, com novos memes, que se formam nas redes sociais dentro do ambiente das mídias digitais, num embate constante com o automatismo da REPLICAÇÃO EGOÍSTA ou verticalizada.

Ele descreve os seres humanos, como veículos e replicadores de genes (porção do DNA capaz de produzir um efeito no organismo que seja hereditário e possa ser alvo da seleção natural) e de memes que se replicam e sobrevivem de forma semelhante aos genes, através de um processo de seleção e competitividade. Segundo ele, somos veículos, mas não necessariamente serviçais:

"Somos construídos como máquinas de genes e educados como máquinas de memes, mas temos o direito de nos revoltar e discordar contra os seus criadores. Somos os únicos na Terra que temos o poder de nos rebelar contra a tirania dos replicadores egoístas".

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Midiático poder: o grande golpe

“O homem é um animal bastante manso e divino se amansado por uma verdadeira disciplina, se não receber disciplina falsa, será o mais feroz dos animais que a terra pode produzir” Comenius



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A distorção, ou melhor, o discurso sobre a cegueira

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Não tenho a intenção, com o texto a seguir, de assumir posição ideológica, mas, sim, opinativa, que difere da primeira e se dissocia de posição partidária. Não acredito que o regime capitalista esteja esgotado, até porque é o que prevalece no âmbito mundial. O que necessita é ser reformulado ou regulado por intermédio do Estado. 
Ao contrario, o meu objetivo é questionar, dialogar, apurar, resgatar informações, discursos veiculados na mídia nas duas últimas semanas.
Começo com uma análise comparativa:
Primeiramente, destaco quais delas têm prevalecido, em detrimento de outras, também relevantes, que não tiveram o mesmo desdobramento e, que, consequentemente, têm causado maior impacto sobre a opinião pública. 
Destaco o que a grande mídia tem priorizado, e deixo o leitor incumbido de emitir sua opinião e contestação.
O que prevaleceu nas edições impressas, televisivas radiofônicas e digitais? 
1- A morte do cinegrafista do grupo Bandeirantes, Santiago Andrade, na última segunda-feira (10). 
2- Prisão, nesta semana, de Caio Silva de Souza e Fábio Raposo Barbosa, supostos de terem manejado o rojão, que causou a morte do cinegrafista. 
3- O possível pagamento efetuado a manifestantes em protestos no Rio de Janeiro.
4- O comentário irresponsável (para não dizer preconceituoso), com mais de um minuto de duração, da jornalista, formadora de opinião e âncora no jornal SBT Brasil, Rachel Sheherazade, no dia 02, sobre o caso do adolescente de 15 anos, que foi agredido e preso nu a um poste por supostos justiceiros, na Zona Sul do Rio de Janeiro, dia 31 do mês passado. 



“Adote um bandido” Comentário jornalista: 




Na coluna Tendências & Debates, da Folha de S. Paulo, do dia 11, Sheherazade minimiza e mente sobre o conteúdo opinativo do seu discurso: 
- "Afirmei compreender e não aceitar a atitude “desesperada” dos justiceiros."
Conforme o vídeo acima,o seu discurso tem muito mais consistência discriminatória. 
Caso não tenham tempo de assistir o vídeo basta a epígrafe: “Há quem tente explicar a violência, a opção pela criminalidade, como conseqüência da pobreza, da falta de oportunidades: o homem fruto de seu meio.Sem poder fazer as próprias escolhas, destituído de livre arbítrio, o individuo seria condenado por sua origem humilde à condição de bandido". Mas acaso a virtude é monopólio de ricos e remediados? Creio que não."

Em minha opinião, não é questão de virtude e sim de bom senso, senso critico, conteúdo humanístico, conhecimento histórico, altruísmo e alteridade. Mas não acredito que 
Sheherazade seja destituída das características descritas acima. Faz o que faz em prol do Marketing Pessoal e da Empresa para qual presta serviço. A ganância em detrimento da ética jornalística. Os fins são, exclusivamente, mercadológicos e não informativos.

A conseqüência da irresponsabilidade: 





Marketing: Ignorância ou Ganância 



Quem se depara com as imagens da Veja “sensibiliza-se”: 
“Em férias nos EUA, o apresentador, Silvio Santos, fala sobre o câncer que retirou recentemente, a gravidez da filha Patrícia (herdeira do trono), o vicio em séries americanas de TV e o prazer em fazer coisas banais no dia a dia.”

Parece que a revista Veja trata como banal, o fato de o empresário lavar louça numa máquina na sua “humilde” casa em Orlando. Querer assemelhar a vida do executivo ao dia a dia do brasileiro comum é absolutamente absurdo e inverossímil. Será que a repercussão do comentário de Sheherazade, a propaganda da Veja em todos os intervalos comerciais do SBT é uma simples coincidência? 


Pequena menção sem repercussão e notícia não veiculada pela grande mídia:




Manifestante é baleado pela Polícia Militar em protesto contra a Copa
Jovem de 22 anos, estudante de gestão ambiental, permanece em coma. 
PMs alegam legítima defesa e afirmam que rapaz atacou um dos policiais com um estilete
Corregedoria da PM vai investigar conduta dos servidores; analistas dizem que reação foi desproporcional
Um manifestante de 22 anos foi baleado pela polícia durante o protesto anteontem em São Paulo contra a realização da Copa no Brasil.
O ato terminou com 135 detidos sob acusação de vandalismo, segundo a Secretaria da Segurança Pública.
O estudante Fabrício Proteus Nunes Fonseca Mendonça Chaves foi ferido a tiros pela PM, no peito e na virilha, na esquina das ruas Sabará e Piauí, em Higienópolis.
A polícia alega que os tiros foram disparados em legítimas defesa, após o estudante tentar agredir um dos policiais com um estilete.

Combate a especulação financeira e econômica

Você leu ou ouviu esta notícia na grande mídia?


Os empresários e comerciantes venezuelanos devem cumprir, a partir de hoje (10), a Lei Orgânica de Preços Justos, que estabelece lucro máximo até 30%. Termina nesta segunda o prazo dado pelo governo para adaptação à medida. Criada para combater a especulação financeira, a lei prevê multa, expropriação de empresas e até prisão para os comerciantes que desobedecerem a norma.

Decretada pelo presidente Nicolás Maduro, a lei entrou em vigor no dia 23 de janeiro. Segundo Maduro, com a norma o governo terá "mais uma ferramenta para combater a especulação" e o que chama de "guerra econômica". O governo alega que a medida é necessária porque há produtos vendidos no país com preço até 2.000% acima do valor real. 


Questões conceituais



Por quê não lidamos com a inversão de valores da nossa sociedade? 
O problema é que as praças, os parques públicos foram substituídos pelas imensas áreas "públicas" de consumo. Como li outro dia: "O usofruto dos direitos civis requer o sentido de pertencimento, o qual não é dado pelos serviços públicos e, por extensão pelo Estado, mas sim pelo poder de compra, pelo ser aceito no mercado como consumidor." 


Foi o grande filósofo, linguista e ativista estadunidense Noam Chomsky quem elaborou a lista das “10 estratégias de manipulação” utilizada pela grande mídia : quanto maior a capacidade de apuração, desmistificação e desconstrução das mensagens e discursos midiáticos, maior o distanciamento crítico, que possibilita o esvaziamento do conteúdo ideológico e a proximidade da realidade dos fatos. A verdade é camuflada pelos signos. Dentro da ostra se encontra o conteúdo -
uma delas se enquadra perfeitamente na atual conjuntura, principalmente quanto às manifestações violentas e a economia: 

CRIAR PROBLEMAS, DEPOIS OFERECER SOLUÇÕES
"Este método também é chamado “problema-reação-solução”. Cria-se um problema, uma “situação” prevista para causar certa reação no público, a fim de que este seja o mandante das medidas que se deseja fazer aceitar. Por exemplo: deixar que se desenvolva ou se intensifique a violência urbana, ou organizar atentados sangrentos, a fim de que o público seja o mandante de leis de segurança e políticas em prejuízo da liberdade. Ou também: criar uma crise econômica para fazer aceitar como um mal necessário o retrocesso dos direitos sociais e o desmantelamento dos serviços públicos."


Leia a íntegra das estratégias em Comunicação Organizacional.

Roland Barthes grande pensador e semiólogo dizia: 




A grande mídia não nega as coisas; a sua função é, pelo contrário, falar delas; simplesmente, purifica-as, inocenta-as, fudamenta-as em natureza e em eternidade, dá-lhes uma clareza, não de explicação, mas de constatação. Passando da história à natureza, a grande mídia faz uma economia: abole a complexidade dos atos humanos, confere-lhes a simplicidade das essências, suprime toda e qualquer dialética, qualquer elevação para lá do visível imediato, organiza um mundo sem contradições, sem profundeza, um mundo plano que se ostenta em sua evidência, e cria uma afortunada clareza: as coisas, sozinhas, parecem significar por elas próprias.

Sem noções de etiqueta, executivos cometem grandes gafes corporativas

                      

Para ilustrar e contextualizar a importância da etiqueta corporativa, abro a minha coluna deste mês com uma história contada, nos bastidores, por um dos participantes de um treinamento corporativo.
         
A pedido do seu presidente, esse participante, na época, diretor de uma grande rede fornecedora de produtos alimentícios, foi encarregado de representar, receber e acompanhar o CEO de uma empresa estrangeira árabe que veio ao Brasil para fechar um negócio promissor.

Assim, o “homem cordial”, se portou como um perfeito anfitrião, levando o executivo para conhecer nossos principais pontos turísticos, serviu de intérprete nas reuniões, enfim, ajudou no que foi preciso para que o visitante se sentisse acolhido em nosso país e as negociações transcorressem de forma positiva.

Tudo deu certo. Negócio alinhado e praticamente fechado, e no último dia de sua estada no país o presidente lhe pediu o último favor: que reservasse lugar num bom restaurante para que a despedida do estrangeiro ficasse marcada em sua memória. Assim foi feito. O brasileiro efetuou a reserva num excelente restaurante e para lá se dirigiu pontualmente em companhia de sua esposa (uma grande gafe, além de não saber o que aquilo representava para o mundo árabe), para uma noite agradável e informal.

Foi então que os problemas começaram: o visitante simplesmente ignorou, durante todo o decorrer do jantar, a presença da esposa do brasileiro. Era como se ela não existisse. O clima pesou. Obviamente o casal sentiu-se desconfortável, mas nada poderia ser feito àquela altura dos acontecimentos. O jantar se desenrolou neste clima de constrangimento e exclusão até que, no final (tudo sempre pode piorar!), a grande surpresa: ao se despedirem, o árabe havia entendido que a mulher era um “presente” para ele, ou seja, um agrado para que com ela passasse a noite:

- “Como ousa sentar uma mulher à minha mesa, se ela não é um presente?” Disse ele, enfurecido.

Não preciso lhes dizer que, a esta altura, o negócio que estava alinhado entre as empresas foi por água abaixo!

           Não pretendo com esse exemplo, entrar em debates morais, ou questionar o que é certo ou errado nas diversas culturas espalhadas pelo mundo. Aqui se questiona o conhecimento e o comportamento que o executivo brasileiro deveria ter frente à cultura do CEO estrangeiro.   

Normas de Etiqueta, tradicionalmente e de forma genérica, estão relacionadas à educação formal, tendências da moda e comportamento. No ambiente corporativo elas podem ser utilizadas como poderosas ferramentas de comunicação pelas organizações com seus públicos de interesse, sejam elas verbais ou não verbais.

A chamada etiqueta corporativa se mostra como forte diferencial estratégico. Mais do que as regras básicas de etiqueta, há premissas fundamentais que abrangem o mundo organizacional. Nesse ambiente, ela deve abranger, principalmente, aspectos como adequação de comportamento perante aos seus stakeholders.
Para uma comunicação eficaz e adequada a certos públicos de interesse é imprescindível que os interlocutores conheçam a cultura, a linguagem, a forma de se comportar e até a forma de se vestir com quem vão interagir. Nestes momentos, independentemente das diferenças culturais, é essencial que executivos ou lideres organizacionais se portem coloquialmente, utilizando-se de termos que se adequem aos valores e culturas locais, abstendo-se de termos técnicos ou vocábulos que possam constranger ou inibir uma comunicação mais eficaz para a resolução de problemas e entendimentos que levem a resultados positivos e compensatórios às partes envolvidas no processo.
Não é necessário, por exemplo, que um executivo que queira ter um relacionamento direto com as comunidades em torno da empresa se coloque sobre um púlpito de terno e gravata, mas que use vestimentas menos formais e mais adequadas ao meio com o qual interage.  
Interagir com seus públicos de interesse não quer dizer que eles têm que caber na lógica organizacional, ao contrário, a lógica e a falta de postura organizacional é que geram becos sem saída.
É muito difícil praticarmos a alteridade, se comportar adequadamente de acordo com a cultura e os valores de seus públicos de interesse. Mas a situação é clara: ou se adéquam, ou gerarão mágoas. Pode ser mágoa oculta, polida por conveniência, diplomacia ou impotência, de acordo com interesses específicos dos públicos com os quais a organização se relaciona, mas ela se manifestará no momento oportuno.
A base de toda realidade não é só a que se enxerga dentro da organização.  Estar adaptada aos seus “valores”, cultura, missão e visão parece sempre mais seguro. Mas é da interação com seus stakeholders que vem o alicerce e o embasamento estratégico da organização.
            Organizações têm valores e culturas específicos. São os ditames “incontestáveis” que têm que honrar. Mas há também a adaptação ao meio que impõem a cada uma delas o aporte, a sua contribuição ao presente, na vivência delas em seu tempo.
Nos dias de hoje, os valores devem ser determinados pela relação, pelo movimento. Será apenas na circulação pelo ambiente e pelo intercambio com seus públicos de interesse que a organização modificará seus valores e a sua cultura e, consequentemente, agregará valor institucional e mercadológico.   
A origem de todos os conflitos está na incapacidade das organizações se expressarem e entenderem a necessidade de seus públicos adequadamente. 
Nas organizações, tolerância se resume ao que se fala sobre elas, ao invés de entender aquilo que os seus públicos são ou representam. No cerne da identidade organizacional se sobressai a intolerância.
A busca da tolerância deve estar focada numa alternativa compensatória entre as partes, ou mesmo na sua versão mais radical, a aceitação, que só será possível quando a organização enxergar seus públicos de interesse, num território diferente, de culturas diferentes, ao invés de encarar as relações e interações como um confronto ou submissão aos seus “valores” e cultura ególatras.  

       Para ser aceito em qualquer grupo é preciso conhecer seu código comportamental, agindo-se de acordo com os padrões convencionados de cada grupo. De forma inversa, deixar de conhecer estes códigos de conduta ou desrespeitá-los é a forma mais eficaz para o desentendimento ou fracasso da organização.  Portanto, a construção da identidade e, por consequência, a consolidação de uma imagem positiva se faz através do entendimento do código e necessidade de cada grupo com o qual se relaciona.

Como permitir aos públicos de interesse o direito de serem eles mesmos, portanto tolerar as suas diferenças? Organizações podem se mostrar “civilizadas” e fingirem que não há incongruências no fato de seus públicos pensarem diferente. No entanto, é comum uma organização dar uma justificativa por conta de seus públicos não se adequarem às suas vontades, diferenças culturais, “valores” que formam sua identidade.

Com tudo que foi exposto termino com a seguinte afirmação: para realmente ouvir o outro, a organização deve estar num âmbito distinto da sua cultura, ou seja, em condições que a permita interagir a partir de um ponto que não somente o do centro de sua identidade.


Sugestão de leitura:

Marques, Ligia - Os Sete Pecados do Mundo Corporativo . Petrópolis, RJ: Vozes,2011


Marques, Ligia e Aguiar, Hegel – Etiqueta 3.0 Você On line e off line, São Paulo: Editora Generale, 2011