quarta-feira, 8 de julho de 2020

HIPOCRISIA

Já estamos saturados de solidariedade, altruísmo e compaixão
Já estamos fatigados dessas coisas tentar
Queremos voltar a nossa natureza
Já estamos cansados da convivência, queremos nos dispersar, nos desencontrar
Nunca foi tão urgente nos perdermos nas ruas, na escuridão, nos perdermos da luminosidade da união
Vamos correr! Vamos correr!
Que o vazio da solidão volte a nos encontrar
Não aguentamos mais nos reunirmos para amar


Chega da hipocrisia da mudança,
Não aguentamos mais a troca, a alteridade, a convivência pacata
Não! Não aguentamos mais!
Que os shoppings voltem a abrir
Voltemos aos bares para nos embebedar, ao final do expediente, para esquecermos que para casa temos que voltar
Não! Não aguentamos mais conviver, nos escondamos no mar de consumo.
Para que hesitar?
Vamos nos desencontrar, não vamos nos desperdiçar em lapsos de união que essa pandemia nos força a acatar, pois já se contam os dias para ela acabar
Chegue logo!
Chegue logo, o dia em que vamos novamente nos reunir para flertar, consumir, nos perder no egocentrismo, egoísmo, da busca do bem estar, que somente o prazer imediato pode nos dar
Vamos deixar de nos detestar
Vamos voltar para o individualismo
Vamos deixar de nos enxergar
Vamos voltar a conviver na distância que nos faz suportar a existência que um dia a de acabar
Que chegue o dia em que vamos bradar:
Bem-vindos de volta a natureza da qual tentamos nos desvincular.

Por Ricardo Bressan

quarta-feira, 1 de julho de 2020

Novas tecnologias: apocalipse ou evolução?


Concordo, em parte, com Zygmunt Bauman e Umberto Eco, dois dos maiores pensadores da contemporaneidade.
O primeiro diz que os relacionamentos amorosos e as interrelações geradas pelas conexões virtuais são efêmeras, o segundo que as redes sociais deram voz a uma "legião de imbecis", que antes não prejudicavam a coletividade.
Analisemos!
A tecnologia digital nos proporcionou, além do que esses grandes pensadores afirmam, uma relação transversal que inexistia. Quero aqui enfatizar seu aspecto positivo, não considerando somente uma análise niilista dos fatos.
É verdade que as novas tecnologias, incluindo redes sociais, TV a cabo, telefonia e aplicativos digitais deram uma nova cara às relações interpessoais e até mesmo intrapessoais, as quais, por muitas vezes, causa alienação, isolamento e por conseqüência a potencialização de doenças psicossociais.
Mas, se nos ativermos aos pontos consideráveis positivos, temos uma técnica dialógica e humanista.
Vamos ao ponto!
Com as tecnologias analógicas não tínhamos a possibilidade de interagir, ficávamos presos às grades impositivas que nos impossibilitavam de gerar opiniões, por mais “imbecis" que fossem.
Concordo com Eco, quando diz que as redes sociais deram voz a uma horda de imbecis, mas que, no entanto, se amalgamaram a uma grande legião de pensadores e estudiosos que rechaçam com veemência e veracidade as organizações que eram blindadas pelas técnicas verticais.
Há duas décadas, vivíamos a ambiguidade, tanto nos nossos relacionamentos amorosos quanto nos interpessoais e intrapessoais.
Nos relacionamentos amorosos, por exemplo, conhecíamos pessoas no trabalho, em bares, casas noturnas e outras, sem nos atermos, num primeiro momento, à compatibilidade de valores, imprescindível para a continuidade da relação.
Em minha opinião, por mais dúbio que pareça o relacionamento conectado, ele pode nos oferecer, se o selecionarmos de forma estratégica, a consolidação de redes inteligentes e relacionamentos duradouros, sejam eles amorosos ou de conhecimento.
Hoje, temos a opção de escolhermos nos desvincular da submissão analógica.
Podemos escolher o que assistir, devido à tecnologia digital do streaming, que nos dá as opções de conhecimento e entretenimento.
Assisto a um filme de arte "A grande beleza" de Sorrentino ou a um besteirol "Os mercenários" de Sylvester Stallone?
Antes, a opção era desligar o aparelho. Hoje, podemos optar em progredir e regredir, e não ter a regressão ou o estático como as únicas opções.
Os aplicativos que nos mostram tudo o que tem ao nosso redor (restaurantes, bares, estacionamentos, cinema, teatro e outros) nos dão a opção de escolher, e não nos restringirmos ao comum.
Os aspectos negativos e positivos da tecnologia digital são muitos, mas não devemos generalizar, e sim, reinventar. Melhor termos uma coletividade que transita entre uma linha tênue da imbecilidade à genialidade, do que a neutralidade submissa que não dá voz nem à idiotia nem à metafísica, e sim, a verticalidade de indivíduos e instituições de poder.
Prefiro acreditar no otimismo de Manuel Castells e Pierre Lévy do que no pessimismo de Eco e Bauman.
Como dizem os dois primeiros: “as forças tecnológicas desencadeadas pela engenhosidade humana e a submissão coletiva ao autômato, têm fugido do controle de seus criadores.” Castells
“Não são as minorias que se opõem as mídias digitais, e sim as organizações, cujas posições de poder, os privilégios e o monopólio, sobretudo em relação a soberania sobre a construção de mensagens, discursos e significados (signos) encontram-se ameaçados pela emergência dessa nova configuração comunicacional." Pierre Lévy