terça-feira, 6 de setembro de 2016

Quem são os Outros?

Proponho neste artigo a avaliação de características intrínsecas que às organizações deveriam inserir no cerne de suas operações: a transparência corporativa, como a alteridade, o altruísmo, a empatia. Sendo assim, em seus discursos, as altas lideranças organizacionais devem aprender a mostrar seus pontos de vista, sem desconsiderar os demais. Sendo menos ególatras, expandem suas visões e limitações, enxergam além. Com alteridade tornam-se menos míopes, vão aonde dificilmente iriam.

“Os protagonistas da igreja são os fiéis e não a hierarquia. ” Papa Francisco

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Acreditar que as soluções estão exclusivamente sitiadas no alto escalão da empresa é um erro. Os líderes devem perguntar e não só dar respostas, pois quem está no dia a dia das operações tem mais conexão com a realidade dos fatos.
O resultado, advindo do fortalecimento da identidade institucional, remove defeitos, agrega valores, protege e fortalece a imagem organizacional de forma mais eficiente e segura. A estratégia é pensar e agir com simplicidade. 

Pensamento que gera comportamento ético, transparente e eficaz. O problema é que, como se fossem hospedeiras, as organizações herdam o parasitismo atávico que as prendem ao hedonismo, em benefício próprio, em detrimento do seu entorno.

A melhor forma de preservar a reputação da empresa é resgatar a memória, a história da companhia que forneçam diagnósticos para criação de estratégias e operações que consolidem a confiança dos públicos de interesse, e sirvam de ferramenta para prevenir e gerir futuras crises.

A base de toda realidade não é só a que se enxerga dentro da empresa. Estar adaptada aos seus “valores” parece sempre mais seguro, mas é a interação com seus públicos de interesse que deve fornecer informação para alicerçar e fortalecer o planejamento estratégico da organização.

Sem suas convicções, corporações podem desmistificar as suas certezas e verem o que de fato é real. Fora do ambiente organizacional se enxerga a distinção entre as culturas de seus públicos de interesse (stakeholders).

Uma organização que apura, investiga e diagnostica toda sua cadeia de valores, consegue planejar, implantar e executar ações estratégicas que fortaleçam sua identidade, além de servirem de benchmarking (referência) aos seus concorrentes, colaboradores e todos aqueles inseridos no organismo social, por meio de um processo de Compensação e Recompensa. Não há necessidade de esperar que a “epidemia” se alastre e se torne incontrolável, tendo a organização formas eficazes de evitá-la.

A grande dificuldade, tanto dos indivíduos, quanto da coletividade formada por eles, é o apego ao tecnicismo, desvinculado do conhecimento humanístico, histórico e da capacidade dialógica.

A identidade organizacional deve ser construída com alteridade – não o contrário, com base num hedonismo egoísta -, ou seja, respeitando os valores, especificidades e a cultura de seus públicos de interesse (stakeholders), para isso é necessária uma dialética compensatória com todos eles, imprescindível para agregar valor institucional à organização e consolidar resultados duradouros (Recompensa).

Sistema de Compensação e Recompensa: todos os que fazem parte do organismo social são Credores e Devedores. Portanto, as organizações deveriam pensar: se elas estão inseridas na sociedade, envolvem direta ou indiretamente aqueles que fazem parte dela, sendo assim, além de serem credoras, devem compensar seus públicos de interesse, adequando a cultura organizacional às necessidades deles.

A falácia da Sustentabilidade

A Sustentabilidade deveria ser vista como um paradigma ou processo a ser executado. No entanto, dão a ela um sentido imagético, e a utilizam de forma mercadológica, visando, diretamente, o retorno financeiro. Ela deveria ser aplicada em todas as áreas da vida organizacional e do individuo, e não se restringir somente a gestão responsável dos recursos naturais ou do meio ambiente. Minimizam o conceito para ludibriar a massa e reduzir sua extensão de significado. A sustentabilidade trata da mudança de hábitos em tudo que engloba uma gestão social e financeira – e não exclusivamente a ambiental -, tanto nas organizações, quanto na vida de todos os seres humanos. Enfim, tudo é sustentabilidade, é a amplitude de nossa visão de mundo, é nossa mudança de atitudes perante ao próximo de forma equilibrada, coerente e responsável, visando sempre a alteridade.

A redefinição social que se deu com o surgimento da sustentabilidade serviu de instrumento de desvio do pensamento crítico e contestador. Ficou cada vez mais fácil às oligarquias escamotear as deficiências sociais e econômicas. Como diz o grande pensador Manuel Castells “a consciência ambiental”, um dos pilares da sustentabilidade, permeia as instituições e seu valor ganhou apelo político a preço de ser manipulada na prática diária das empresas e burocracias.

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Paradoxalmente, com o advento das mídias digitais, que proporcionou o surgimento de diversos formadores de opinião, é cada vez mais comum, vermos minorias sociais saírem de seu lugar comum de submissão e da condição de DEVEDORAS perante as organizações públicas e privadas, para o papel de CREDORAS POTENCIAIS de uma nova configuração que beneficie a sociedade como um todo.

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O propósito da Comunicação Institucional é, acima de tudo, a ênfase aos fatos positivos, ao lado da prevenção e da gestão de crises. A estratégia não é apenas ocupar espaços nas mídias, sejam elas pagas (publicidade) ou espontâneas (interesse público, por meio das assessorias de imprensa), mas ampliar e consolidar a confiança e a credibilidade (transparência) junto aos formadores de opinião, transmitir segurança aos stakeholders e a sociedade, de forma geral.

O maior ativo de uma empresa é intangível em termos mercadológicos, mas, paradoxalmente, é a preservação de sua identidade e valores, que a mantém viva, longe de riscos desnecessários e, por consequência, sua rentabilidade ou equilíbrio financeiro.

As organizações devem deixar seu lado impositivo por natureza, seu afã por Recompensas e ter um olhar voltado para as Compensações, direcionadas a seus públicos de interesse.

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Não é só a cultura, os valores, a missão e a visão corporativa que contam, mas sim, até que ponto ela se preocupa e se alinha a cultura e valores de seus públicos de interesse. A base de toda realidade não é só a que se enxerga dentro da organização. É da interação com seus stakeholders que vem o alicerce e o embasamento estratégico corporativo. Como diz o antropólogo francês François Laplantine: “o conhecimento da nossa cultura passa inevitavelmente pelo conhecimento das outras culturas. Devemos especialmente reconhecer que somos uma cultura possível entre tantas outras, mas não a única.”

Fonte: Aberje