quarta-feira, 28 de novembro de 2018

A evolução dos media: meios de inovação e desumanização




A arte de se comunicar, desde que essa surgiu, foi precedida por uma técnica. No decorrer de milênios essas técnicas evoluíram. Do ponto de vista técnico ou tecnológico há uma evolução que tem grande valoração no âmbito da utilização e “progresso” na vida dos indivíduos, como forma de facilitar e modernizar os processos de vivificação. 

Mas se analisarmos e investigarmos no âmbito humanístico, da historicidade, do seu caráter dialógico, a técnica não tem a mesma valoração e equivalência que seus traços progressistas apregoam no campo das ideias, pelo contrário, quanto mais se aperfeiçoam as técnicas, mais característicos são seus traços alienantes e manipulativos. Sendo assim, quanto mais se evolui a técnica, mais se desumaniza o indivíduo. 

Perpassam séculos, décadas e o conteúdo do discurso continua o mesmo, o que muda é a técnica ou a tecnologia de difusão, que afasta ainda mais o homem da natureza dos fatos. No campo da evolução tecnológica, os eventos podem ter um grande valor na evolução da técnica, mas podem não ter a mesma valoração e equivalência no campo humanístico e das ideias. 

Para mim, estes pensamentos continuam a fazer todo o sentido: 

 “O homem é um animal bastante manso e divino se amansado por uma verdadeira disciplina, se não receber disciplina falsa, será o mais feroz dos animais que a terra pode produzir” Comenius 

Segundo Roland Barthes, o discurso mitológico, não nega as coisas; a sua função é, pelo contrário, falar delas; simplesmente, purifica-as, inocenta-as, fundamenta-as em natureza e em eternidade, dá-lhes uma clareza, não de explicação, mas de constatação. Passando da história à natureza, faz uma economia: abole a complexidade dos atos humanos, confere-lhes a simplicidade das essências, suprime toda e qualquer dialética, qualquer elevação para lá do visível imediato, organiza um mundo sem contradições, sem profundeza, um mundo plano que se ostenta em sua evidência, e cria uma afortunada clareza: as coisas, sozinhas, parecem significar por elas próprias. 

A técnica ou tecnologia não é determinista, mas é criada e desenvolvida junto a um processo cultural e educativo homogêneo que doutrina, automatiza e condiciona o individuo. A humanidade não evolui analogamente junto à técnica ou à tecnologia. A técnica nasce dentro de uma cultura que não acompanha a sua evolução. Existe formação técnica, mas pouca educação política, histórica, humanística e dialógica. Não se desenvolvem seres pensantes e críticos, e sim, autômatos. 

Sendo assim, o indivíduo continua como extensão de suas criações. No mundo digital não é diferente, continuamos utilizando a tecnologia de forma alienante, esquecendo-se do seu viés humanístico e integracionista, potencialidade que não é aproveitada, pois vivemos numa sociedade doutrinária, enrijecida para o dialogismo. 

Como diz Manuel Castells: “a evolução tecnológica, desencadeada pela engenhosidade humana, levou a sociedade à submissão e ao automatismo, fugindo do controle de seus criadores”. 
Não culpo o desenvolvimento tecnológico, mas é fato que a educação, a cultura, a forma humanística e dialógica de nos comunicarmos não evolui analogamente à técnica. A tecnologia ou a técnica surge dentro de uma cultura, que não consegue acompanhar humanisticamente a evolução do objeto. Assim, enquanto, gênios da tecnologia aceleram a evolução, os não gênios (vou chamar delicadamente de ignorantes, somente por limitações cognitivas) demoram muito mais tempo para evoluir. 

Pensando assim, o que poderia ser feito é acelerar as formas de educação e humanização. Formar mais gênios humanistas do que técnicos. Ou pelo menos equilibrar. Mas é impossível, ou melhor, inviável, para o poder que manipula as instituições disciplinares e educativas, que se opere dentro do organismo social procedimentos que erradiquem a ignorância e desperte a consciência e a capacidade de pensar e criticar dos indivíduos, levando-os a desbaratar toda a forma de construção de poder e dominação das massas. 

A evolução cultural jamais alcançará a tecnológica, pois se assim fosse, desconstruir-se-ia toda uma aparelhagem ou teia de poder, que é mantida por uma espécie de “Totalitarismo Invisível”. Constrói-se um discurso que nos leva a pensar em liberdade, quando na verdade continuamos presos pela teia de significados que nos é submetida. Recepcionamos a mensagem como querem que absorvamos, e continuamos a conceber a evolução tecnologia, ao mesmo tempo, que não percebemos a inércia dialógica e humanística. A tecnologia evolui, mas os discursos ditados por ela continuam os mesmos. 

Respondemos à reprodução da sofisticação do mesmo, mantendo nossa espécie a deriva. Submetemo-nos a transmissão cultural que nos mantem estúpidos. Enfim, a educação, a cultura não formam seres humanísticos e dialógicos, como a tecnologia cria seres técnicos. Desta forma ela continuará servindo, exclusivamente, como ferramenta de doutrinação e alienação, bem manejada por aqueles que detêm a condução dos discursos.