sábado, 3 de outubro de 2020

NÃO CONHECEMOS A VERDADE, E SIM A HISTÓRIA QUE NOS CONTAM

A verdade só acontece uma vez, portanto é finita. Já as histórias, que narram a verdade, têm suas particularidades, e estão ligadas a visão e a ideologia dos seus emissores, o que de certa forma limita o aprofundamento e a proximidade da verdade factual. A finitude da verdade fica a mercê da infinitude das histórias narradas. 

O receptor é consumidor de histórias e não de verdades. É moldado pela história que consome, e que consequentemente forma sua visão de mundo, sua ideologia, a forma como concebe a realidade. A verdade é o resultado das CONCEPÇÕES INFINITAS. 


Na era do conhecimento, paradoxalmente, vivemos uma das maiores crises que a informação já conheceu. A humanidade corre o risco de ser a mais desinformada de todos os tempos. Estamos vivendo a era do consumo exacerbado de histórias, que tornam a realidade uma barafunda, minando completamente o senso crítico das novas gerações. 


Por mais problemáticas que pareçam, as mídias tradicionais e especializadas (rádio, televisão, impresso), que também se adaptaram ao digital, são os melhores e mais confiáveis meios de se informar sobre a verdade. 


Atualmente, como qualquer pessoa, sem nenhum tipo de formação técnica, pode reportar a verdade por meio de sua imparcialidade duvidosa, fica difícil o desenvolvimento do senso crítico por parte dos cidadãos. 


A verdade sempre foi manipulada, todos sabemos, mas hoje convivemos com manipuladores de procedência desconhecida. 


As Fake News são as maiores responsáveis pelo que eu chamo de ANTONÍMIA MIDIÁTICA, ou seja, a disseminação de VERDADES FALSAS, que tem grande influência sobre a opinião pública. 

Por mais que a verdade possa ser manipulada, nós os grandes consumidores devemos ter discernimento para separar a manipulação da mentira. A mentira não é beligerante, mas pode ser tão destrutiva quanto, pois deixam seus receptores semelhantes a uma horda de mortos vivos, como vemos no cinema. Pode ser uma hipérbole, mas nestes dias não fica difícil de se identificar com os zumbis do longa-metragem Guerra Mundial Z, protagonizado por Brad Pitt. Por meio deste exagero e ficção, talvez possamos entender melhor a nossa realidade. 


Sendo assim, parece que o otimismo do filósofo, sociólogo e pesquisador em ciência da informação e da comunicação, Pierre Levy, está bem longe do que realmente estamos vivendo:

“Não são as minorias que se opõem as mídias digitais, e sim as organizações, cujas posições de poder, os privilégios e o monopólio, sobretudo em relação a soberania sobre a construção de mensagens, discursos e significados encontram-se ameaçados pela emergência dessa nova configuração comunicacional." 


Na atual conjuntura, parece que estamos mais próximos do pessimismo do escritor, professor e filósofo italiano, Umberto Eco, falecido em 2016, que concluiu: “As redes sociais deram voz a uma "legião de imbecis", que antes não prejudicavam a coletividade.”


por Ricardo Bressan