sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Midiático poder: o grande golpe

“O homem é um animal bastante manso e divino se amansado por uma verdadeira disciplina, se não receber disciplina falsa, será o mais feroz dos animais que a terra pode produzir” Comenius



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A distorção, ou melhor, o discurso sobre a cegueira

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Não tenho a intenção, com o texto a seguir, de assumir posição ideológica, mas, sim, opinativa, que difere da primeira e se dissocia de posição partidária. Não acredito que o regime capitalista esteja esgotado, até porque é o que prevalece no âmbito mundial. O que necessita é ser reformulado ou regulado por intermédio do Estado. 
Ao contrario, o meu objetivo é questionar, dialogar, apurar, resgatar informações, discursos veiculados na mídia nas duas últimas semanas.
Começo com uma análise comparativa:
Primeiramente, destaco quais delas têm prevalecido, em detrimento de outras, também relevantes, que não tiveram o mesmo desdobramento e, que, consequentemente, têm causado maior impacto sobre a opinião pública. 
Destaco o que a grande mídia tem priorizado, e deixo o leitor incumbido de emitir sua opinião e contestação.
O que prevaleceu nas edições impressas, televisivas radiofônicas e digitais? 
1- A morte do cinegrafista do grupo Bandeirantes, Santiago Andrade, na última segunda-feira (10). 
2- Prisão, nesta semana, de Caio Silva de Souza e Fábio Raposo Barbosa, supostos de terem manejado o rojão, que causou a morte do cinegrafista. 
3- O possível pagamento efetuado a manifestantes em protestos no Rio de Janeiro.
4- O comentário irresponsável (para não dizer preconceituoso), com mais de um minuto de duração, da jornalista, formadora de opinião e âncora no jornal SBT Brasil, Rachel Sheherazade, no dia 02, sobre o caso do adolescente de 15 anos, que foi agredido e preso nu a um poste por supostos justiceiros, na Zona Sul do Rio de Janeiro, dia 31 do mês passado. 



“Adote um bandido” Comentário jornalista: 




Na coluna Tendências & Debates, da Folha de S. Paulo, do dia 11, Sheherazade minimiza e mente sobre o conteúdo opinativo do seu discurso: 
- "Afirmei compreender e não aceitar a atitude “desesperada” dos justiceiros."
Conforme o vídeo acima,o seu discurso tem muito mais consistência discriminatória. 
Caso não tenham tempo de assistir o vídeo basta a epígrafe: “Há quem tente explicar a violência, a opção pela criminalidade, como conseqüência da pobreza, da falta de oportunidades: o homem fruto de seu meio.Sem poder fazer as próprias escolhas, destituído de livre arbítrio, o individuo seria condenado por sua origem humilde à condição de bandido". Mas acaso a virtude é monopólio de ricos e remediados? Creio que não."

Em minha opinião, não é questão de virtude e sim de bom senso, senso critico, conteúdo humanístico, conhecimento histórico, altruísmo e alteridade. Mas não acredito que 
Sheherazade seja destituída das características descritas acima. Faz o que faz em prol do Marketing Pessoal e da Empresa para qual presta serviço. A ganância em detrimento da ética jornalística. Os fins são, exclusivamente, mercadológicos e não informativos.

A conseqüência da irresponsabilidade: 





Marketing: Ignorância ou Ganância 



Quem se depara com as imagens da Veja “sensibiliza-se”: 
“Em férias nos EUA, o apresentador, Silvio Santos, fala sobre o câncer que retirou recentemente, a gravidez da filha Patrícia (herdeira do trono), o vicio em séries americanas de TV e o prazer em fazer coisas banais no dia a dia.”

Parece que a revista Veja trata como banal, o fato de o empresário lavar louça numa máquina na sua “humilde” casa em Orlando. Querer assemelhar a vida do executivo ao dia a dia do brasileiro comum é absolutamente absurdo e inverossímil. Será que a repercussão do comentário de Sheherazade, a propaganda da Veja em todos os intervalos comerciais do SBT é uma simples coincidência? 


Pequena menção sem repercussão e notícia não veiculada pela grande mídia:




Manifestante é baleado pela Polícia Militar em protesto contra a Copa
Jovem de 22 anos, estudante de gestão ambiental, permanece em coma. 
PMs alegam legítima defesa e afirmam que rapaz atacou um dos policiais com um estilete
Corregedoria da PM vai investigar conduta dos servidores; analistas dizem que reação foi desproporcional
Um manifestante de 22 anos foi baleado pela polícia durante o protesto anteontem em São Paulo contra a realização da Copa no Brasil.
O ato terminou com 135 detidos sob acusação de vandalismo, segundo a Secretaria da Segurança Pública.
O estudante Fabrício Proteus Nunes Fonseca Mendonça Chaves foi ferido a tiros pela PM, no peito e na virilha, na esquina das ruas Sabará e Piauí, em Higienópolis.
A polícia alega que os tiros foram disparados em legítimas defesa, após o estudante tentar agredir um dos policiais com um estilete.

Combate a especulação financeira e econômica

Você leu ou ouviu esta notícia na grande mídia?


Os empresários e comerciantes venezuelanos devem cumprir, a partir de hoje (10), a Lei Orgânica de Preços Justos, que estabelece lucro máximo até 30%. Termina nesta segunda o prazo dado pelo governo para adaptação à medida. Criada para combater a especulação financeira, a lei prevê multa, expropriação de empresas e até prisão para os comerciantes que desobedecerem a norma.

Decretada pelo presidente Nicolás Maduro, a lei entrou em vigor no dia 23 de janeiro. Segundo Maduro, com a norma o governo terá "mais uma ferramenta para combater a especulação" e o que chama de "guerra econômica". O governo alega que a medida é necessária porque há produtos vendidos no país com preço até 2.000% acima do valor real. 


Questões conceituais



Por quê não lidamos com a inversão de valores da nossa sociedade? 
O problema é que as praças, os parques públicos foram substituídos pelas imensas áreas "públicas" de consumo. Como li outro dia: "O usofruto dos direitos civis requer o sentido de pertencimento, o qual não é dado pelos serviços públicos e, por extensão pelo Estado, mas sim pelo poder de compra, pelo ser aceito no mercado como consumidor." 


Foi o grande filósofo, linguista e ativista estadunidense Noam Chomsky quem elaborou a lista das “10 estratégias de manipulação” utilizada pela grande mídia : quanto maior a capacidade de apuração, desmistificação e desconstrução das mensagens e discursos midiáticos, maior o distanciamento crítico, que possibilita o esvaziamento do conteúdo ideológico e a proximidade da realidade dos fatos. A verdade é camuflada pelos signos. Dentro da ostra se encontra o conteúdo -
uma delas se enquadra perfeitamente na atual conjuntura, principalmente quanto às manifestações violentas e a economia: 

CRIAR PROBLEMAS, DEPOIS OFERECER SOLUÇÕES
"Este método também é chamado “problema-reação-solução”. Cria-se um problema, uma “situação” prevista para causar certa reação no público, a fim de que este seja o mandante das medidas que se deseja fazer aceitar. Por exemplo: deixar que se desenvolva ou se intensifique a violência urbana, ou organizar atentados sangrentos, a fim de que o público seja o mandante de leis de segurança e políticas em prejuízo da liberdade. Ou também: criar uma crise econômica para fazer aceitar como um mal necessário o retrocesso dos direitos sociais e o desmantelamento dos serviços públicos."


Leia a íntegra das estratégias em Comunicação Organizacional.

Roland Barthes grande pensador e semiólogo dizia: 




A grande mídia não nega as coisas; a sua função é, pelo contrário, falar delas; simplesmente, purifica-as, inocenta-as, fudamenta-as em natureza e em eternidade, dá-lhes uma clareza, não de explicação, mas de constatação. Passando da história à natureza, a grande mídia faz uma economia: abole a complexidade dos atos humanos, confere-lhes a simplicidade das essências, suprime toda e qualquer dialética, qualquer elevação para lá do visível imediato, organiza um mundo sem contradições, sem profundeza, um mundo plano que se ostenta em sua evidência, e cria uma afortunada clareza: as coisas, sozinhas, parecem significar por elas próprias.

Sem noções de etiqueta, executivos cometem grandes gafes corporativas

                      

Para ilustrar e contextualizar a importância da etiqueta corporativa, abro a minha coluna deste mês com uma história contada, nos bastidores, por um dos participantes de um treinamento corporativo.
         
A pedido do seu presidente, esse participante, na época, diretor de uma grande rede fornecedora de produtos alimentícios, foi encarregado de representar, receber e acompanhar o CEO de uma empresa estrangeira árabe que veio ao Brasil para fechar um negócio promissor.

Assim, o “homem cordial”, se portou como um perfeito anfitrião, levando o executivo para conhecer nossos principais pontos turísticos, serviu de intérprete nas reuniões, enfim, ajudou no que foi preciso para que o visitante se sentisse acolhido em nosso país e as negociações transcorressem de forma positiva.

Tudo deu certo. Negócio alinhado e praticamente fechado, e no último dia de sua estada no país o presidente lhe pediu o último favor: que reservasse lugar num bom restaurante para que a despedida do estrangeiro ficasse marcada em sua memória. Assim foi feito. O brasileiro efetuou a reserva num excelente restaurante e para lá se dirigiu pontualmente em companhia de sua esposa (uma grande gafe, além de não saber o que aquilo representava para o mundo árabe), para uma noite agradável e informal.

Foi então que os problemas começaram: o visitante simplesmente ignorou, durante todo o decorrer do jantar, a presença da esposa do brasileiro. Era como se ela não existisse. O clima pesou. Obviamente o casal sentiu-se desconfortável, mas nada poderia ser feito àquela altura dos acontecimentos. O jantar se desenrolou neste clima de constrangimento e exclusão até que, no final (tudo sempre pode piorar!), a grande surpresa: ao se despedirem, o árabe havia entendido que a mulher era um “presente” para ele, ou seja, um agrado para que com ela passasse a noite:

- “Como ousa sentar uma mulher à minha mesa, se ela não é um presente?” Disse ele, enfurecido.

Não preciso lhes dizer que, a esta altura, o negócio que estava alinhado entre as empresas foi por água abaixo!

           Não pretendo com esse exemplo, entrar em debates morais, ou questionar o que é certo ou errado nas diversas culturas espalhadas pelo mundo. Aqui se questiona o conhecimento e o comportamento que o executivo brasileiro deveria ter frente à cultura do CEO estrangeiro.   

Normas de Etiqueta, tradicionalmente e de forma genérica, estão relacionadas à educação formal, tendências da moda e comportamento. No ambiente corporativo elas podem ser utilizadas como poderosas ferramentas de comunicação pelas organizações com seus públicos de interesse, sejam elas verbais ou não verbais.

A chamada etiqueta corporativa se mostra como forte diferencial estratégico. Mais do que as regras básicas de etiqueta, há premissas fundamentais que abrangem o mundo organizacional. Nesse ambiente, ela deve abranger, principalmente, aspectos como adequação de comportamento perante aos seus stakeholders.
Para uma comunicação eficaz e adequada a certos públicos de interesse é imprescindível que os interlocutores conheçam a cultura, a linguagem, a forma de se comportar e até a forma de se vestir com quem vão interagir. Nestes momentos, independentemente das diferenças culturais, é essencial que executivos ou lideres organizacionais se portem coloquialmente, utilizando-se de termos que se adequem aos valores e culturas locais, abstendo-se de termos técnicos ou vocábulos que possam constranger ou inibir uma comunicação mais eficaz para a resolução de problemas e entendimentos que levem a resultados positivos e compensatórios às partes envolvidas no processo.
Não é necessário, por exemplo, que um executivo que queira ter um relacionamento direto com as comunidades em torno da empresa se coloque sobre um púlpito de terno e gravata, mas que use vestimentas menos formais e mais adequadas ao meio com o qual interage.  
Interagir com seus públicos de interesse não quer dizer que eles têm que caber na lógica organizacional, ao contrário, a lógica e a falta de postura organizacional é que geram becos sem saída.
É muito difícil praticarmos a alteridade, se comportar adequadamente de acordo com a cultura e os valores de seus públicos de interesse. Mas a situação é clara: ou se adéquam, ou gerarão mágoas. Pode ser mágoa oculta, polida por conveniência, diplomacia ou impotência, de acordo com interesses específicos dos públicos com os quais a organização se relaciona, mas ela se manifestará no momento oportuno.
A base de toda realidade não é só a que se enxerga dentro da organização.  Estar adaptada aos seus “valores”, cultura, missão e visão parece sempre mais seguro. Mas é da interação com seus stakeholders que vem o alicerce e o embasamento estratégico da organização.
            Organizações têm valores e culturas específicos. São os ditames “incontestáveis” que têm que honrar. Mas há também a adaptação ao meio que impõem a cada uma delas o aporte, a sua contribuição ao presente, na vivência delas em seu tempo.
Nos dias de hoje, os valores devem ser determinados pela relação, pelo movimento. Será apenas na circulação pelo ambiente e pelo intercambio com seus públicos de interesse que a organização modificará seus valores e a sua cultura e, consequentemente, agregará valor institucional e mercadológico.   
A origem de todos os conflitos está na incapacidade das organizações se expressarem e entenderem a necessidade de seus públicos adequadamente. 
Nas organizações, tolerância se resume ao que se fala sobre elas, ao invés de entender aquilo que os seus públicos são ou representam. No cerne da identidade organizacional se sobressai a intolerância.
A busca da tolerância deve estar focada numa alternativa compensatória entre as partes, ou mesmo na sua versão mais radical, a aceitação, que só será possível quando a organização enxergar seus públicos de interesse, num território diferente, de culturas diferentes, ao invés de encarar as relações e interações como um confronto ou submissão aos seus “valores” e cultura ególatras.  

       Para ser aceito em qualquer grupo é preciso conhecer seu código comportamental, agindo-se de acordo com os padrões convencionados de cada grupo. De forma inversa, deixar de conhecer estes códigos de conduta ou desrespeitá-los é a forma mais eficaz para o desentendimento ou fracasso da organização.  Portanto, a construção da identidade e, por consequência, a consolidação de uma imagem positiva se faz através do entendimento do código e necessidade de cada grupo com o qual se relaciona.

Como permitir aos públicos de interesse o direito de serem eles mesmos, portanto tolerar as suas diferenças? Organizações podem se mostrar “civilizadas” e fingirem que não há incongruências no fato de seus públicos pensarem diferente. No entanto, é comum uma organização dar uma justificativa por conta de seus públicos não se adequarem às suas vontades, diferenças culturais, “valores” que formam sua identidade.

Com tudo que foi exposto termino com a seguinte afirmação: para realmente ouvir o outro, a organização deve estar num âmbito distinto da sua cultura, ou seja, em condições que a permita interagir a partir de um ponto que não somente o do centro de sua identidade.


Sugestão de leitura:

Marques, Ligia - Os Sete Pecados do Mundo Corporativo . Petrópolis, RJ: Vozes,2011


Marques, Ligia e Aguiar, Hegel – Etiqueta 3.0 Você On line e off line, São Paulo: Editora Generale, 2011