terça-feira, 6 de setembro de 2016

Quem são os Outros?

Proponho neste artigo a avaliação de características intrínsecas que às organizações deveriam inserir no cerne de suas operações: a transparência corporativa, como a alteridade, o altruísmo, a empatia. Sendo assim, em seus discursos, as altas lideranças organizacionais devem aprender a mostrar seus pontos de vista, sem desconsiderar os demais. Sendo menos ególatras, expandem suas visões e limitações, enxergam além. Com alteridade tornam-se menos míopes, vão aonde dificilmente iriam.

“Os protagonistas da igreja são os fiéis e não a hierarquia. ” Papa Francisco

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Acreditar que as soluções estão exclusivamente sitiadas no alto escalão da empresa é um erro. Os líderes devem perguntar e não só dar respostas, pois quem está no dia a dia das operações tem mais conexão com a realidade dos fatos.
O resultado, advindo do fortalecimento da identidade institucional, remove defeitos, agrega valores, protege e fortalece a imagem organizacional de forma mais eficiente e segura. A estratégia é pensar e agir com simplicidade. 

Pensamento que gera comportamento ético, transparente e eficaz. O problema é que, como se fossem hospedeiras, as organizações herdam o parasitismo atávico que as prendem ao hedonismo, em benefício próprio, em detrimento do seu entorno.

A melhor forma de preservar a reputação da empresa é resgatar a memória, a história da companhia que forneçam diagnósticos para criação de estratégias e operações que consolidem a confiança dos públicos de interesse, e sirvam de ferramenta para prevenir e gerir futuras crises.

A base de toda realidade não é só a que se enxerga dentro da empresa. Estar adaptada aos seus “valores” parece sempre mais seguro, mas é a interação com seus públicos de interesse que deve fornecer informação para alicerçar e fortalecer o planejamento estratégico da organização.

Sem suas convicções, corporações podem desmistificar as suas certezas e verem o que de fato é real. Fora do ambiente organizacional se enxerga a distinção entre as culturas de seus públicos de interesse (stakeholders).

Uma organização que apura, investiga e diagnostica toda sua cadeia de valores, consegue planejar, implantar e executar ações estratégicas que fortaleçam sua identidade, além de servirem de benchmarking (referência) aos seus concorrentes, colaboradores e todos aqueles inseridos no organismo social, por meio de um processo de Compensação e Recompensa. Não há necessidade de esperar que a “epidemia” se alastre e se torne incontrolável, tendo a organização formas eficazes de evitá-la.

A grande dificuldade, tanto dos indivíduos, quanto da coletividade formada por eles, é o apego ao tecnicismo, desvinculado do conhecimento humanístico, histórico e da capacidade dialógica.

A identidade organizacional deve ser construída com alteridade – não o contrário, com base num hedonismo egoísta -, ou seja, respeitando os valores, especificidades e a cultura de seus públicos de interesse (stakeholders), para isso é necessária uma dialética compensatória com todos eles, imprescindível para agregar valor institucional à organização e consolidar resultados duradouros (Recompensa).

Sistema de Compensação e Recompensa: todos os que fazem parte do organismo social são Credores e Devedores. Portanto, as organizações deveriam pensar: se elas estão inseridas na sociedade, envolvem direta ou indiretamente aqueles que fazem parte dela, sendo assim, além de serem credoras, devem compensar seus públicos de interesse, adequando a cultura organizacional às necessidades deles.

A falácia da Sustentabilidade

A Sustentabilidade deveria ser vista como um paradigma ou processo a ser executado. No entanto, dão a ela um sentido imagético, e a utilizam de forma mercadológica, visando, diretamente, o retorno financeiro. Ela deveria ser aplicada em todas as áreas da vida organizacional e do individuo, e não se restringir somente a gestão responsável dos recursos naturais ou do meio ambiente. Minimizam o conceito para ludibriar a massa e reduzir sua extensão de significado. A sustentabilidade trata da mudança de hábitos em tudo que engloba uma gestão social e financeira – e não exclusivamente a ambiental -, tanto nas organizações, quanto na vida de todos os seres humanos. Enfim, tudo é sustentabilidade, é a amplitude de nossa visão de mundo, é nossa mudança de atitudes perante ao próximo de forma equilibrada, coerente e responsável, visando sempre a alteridade.

A redefinição social que se deu com o surgimento da sustentabilidade serviu de instrumento de desvio do pensamento crítico e contestador. Ficou cada vez mais fácil às oligarquias escamotear as deficiências sociais e econômicas. Como diz o grande pensador Manuel Castells “a consciência ambiental”, um dos pilares da sustentabilidade, permeia as instituições e seu valor ganhou apelo político a preço de ser manipulada na prática diária das empresas e burocracias.

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Paradoxalmente, com o advento das mídias digitais, que proporcionou o surgimento de diversos formadores de opinião, é cada vez mais comum, vermos minorias sociais saírem de seu lugar comum de submissão e da condição de DEVEDORAS perante as organizações públicas e privadas, para o papel de CREDORAS POTENCIAIS de uma nova configuração que beneficie a sociedade como um todo.

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O propósito da Comunicação Institucional é, acima de tudo, a ênfase aos fatos positivos, ao lado da prevenção e da gestão de crises. A estratégia não é apenas ocupar espaços nas mídias, sejam elas pagas (publicidade) ou espontâneas (interesse público, por meio das assessorias de imprensa), mas ampliar e consolidar a confiança e a credibilidade (transparência) junto aos formadores de opinião, transmitir segurança aos stakeholders e a sociedade, de forma geral.

O maior ativo de uma empresa é intangível em termos mercadológicos, mas, paradoxalmente, é a preservação de sua identidade e valores, que a mantém viva, longe de riscos desnecessários e, por consequência, sua rentabilidade ou equilíbrio financeiro.

As organizações devem deixar seu lado impositivo por natureza, seu afã por Recompensas e ter um olhar voltado para as Compensações, direcionadas a seus públicos de interesse.

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Não é só a cultura, os valores, a missão e a visão corporativa que contam, mas sim, até que ponto ela se preocupa e se alinha a cultura e valores de seus públicos de interesse. A base de toda realidade não é só a que se enxerga dentro da organização. É da interação com seus stakeholders que vem o alicerce e o embasamento estratégico corporativo. Como diz o antropólogo francês François Laplantine: “o conhecimento da nossa cultura passa inevitavelmente pelo conhecimento das outras culturas. Devemos especialmente reconhecer que somos uma cultura possível entre tantas outras, mas não a única.”

Fonte: Aberje

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Não vivemos um paradigma determinista, mas sim condicionante

Inicio este artigo comentando sobre a mutação cultural axiomática que se perfaz na sociedade, proporcionada pelas mudanças causadas pela “Cibercultura’. Essa mudança estrutural principalmente ao que diz respeito à interação, ou seja, ao relacionamento e a forma de se comunicar que se deu no organismo social, aos poucos se defronta com a exclusividade da soberania das organizações sobre a construção de significados, proporcionando condições de mudança do status quo. Isso quer dizer que hoje a técnica, especificamente as mídias digitais, abre possibilidades que algumas opções culturais ou sociais não poderiam ser pensadas no passado.

Como diz Pierre Lévy[1], muitas possibilidades são abertas, mas isso não quer dizer que serão aproveitadas. No entanto, a tecnologia dá condições para que situações ou estruturas sejam modificadas, mas isso não significa que ela seja determinante. Por exemplo, o surgimento das mídias sociais não determina automaticamente o desenvolvimento da inteligência coletiva, apenas fornece a ela condições, ou seja, um ambiente propício para que isso se efetive (LÉVY, 2010). [2]



“Uma técnica ou tecnologia (aqui no caso a digital) é produzida dentro de uma cultura, e uma sociedade encontra-se condicionada por suas técnicas. E digo condicionada e não determinada. Essa diferença é fundamental.” (LÉVY, 2010, p. 26).

Por trás da tecnologia agem e reagem ideias, projetos sociais, utopias, interesses econômicos, estratégias de poder, toda a ambição dos homens e organizações em sociedade. Sendo assim, qualquer atribuição de um sentido único à técnica ou tecnologia, como diz Levy, só pode ser dúbia. A ambivalência ou a multiplicidade de significações e dos projetos que envolvem as técnicas são evidentes. Não há como pensarmos em determinismo (LÉVY, 2010).


Nem tudo que é feito nas redes digitais é bom. Isso seria a mesma coisa que dizer que todos os espetáculos são excelentes. Lévy faz um apelo:

“Que permaneçamos abertos, benevolentes, receptivos, em relação à novidade. Que tentemos compreendê-la, pois a verdadeira questão não é ser contra ou a favor, mas sim conhecer as mudanças qualitativas na ecologia dos signos, o ambiente inédito que resulta da extensão das novas redes de comunicação para a vida cultural dos cidadãos e organizações. Apenas dessa forma seremos capazes de desenvolver estas novas tecnologias dentro de uma perspectiva humanista.” (LEVY, 2010, p. 26).

As organizações não devem negligenciar as implicações proporcionadas pela tecnologia digital. Não devem deixar de contemplar as implicações culturais da cibercultura em todas as suas dimensões.

As minorias não se opõem às mídias digitais e às redes que se formam dentro delas, ao contrario, são aqueles (organizações) cujas posições de poder, os privilégios (principalmente culturais, econômicos e políticos) e os monopólios, que se encontram ameaçados pela emergência dessa nova configuração da comunicação.

A cibertecnologia deixou exclusivamente a grande competição econômica mundial entre grandes empresas, monopólios e oligopólios e entre os grandes conjuntos geopolíticos para responder, também, aos objetivos de usuários que procuram aumentar a autonomia do indivíduo e sua capacidade cognitiva e democrática. 

Portanto, encoraja o ideal de ativistas da rede que desejam melhorar a colaboração entre pessoas e a diminuição da exclusividade das organizações e da grande mídia na construção de discursos, mensagens e imagens, assim dando vida a diferentes formas de inteligência coletiva e distributiva. Essas relações heterogêneas e interativas entram, constantemente, em conflito com as organizações.

Os movimentos democráticos nascidos nas redes, por mais que tenham influenciado na política e na agenda das organizações, instalando de maneira exitosa mudanças nas suas agendas, ainda, não conseguiram amadurecer e acumular forças suficientes para si mesmos.

Para isso, é preciso a formulação de uma estratégia, projeto e execução que os permitam constituir uma força social e política, focadas numa democracia direta, capaz de consolidar seus objetivos. Mesmo com essas deficiências, as redes sociais dão origem a um ambiente comunicacional paradigmático, onde se configura uma interação caracterizada pela transversalidade. Portanto, um relacionamento que não mais se restringe aos conteúdos produzidos pelas mídias tradicionais e às áreas de comunicação organizacionais que se caracterizam por uma comunicação vertical.

Além de se diferenciar no caráter estético, com a construção, a convergência de mídias e a não linearidade, as mídias digitais permitem a divergência de opiniões e abrem espaços às discussões e às formações das comunidades. Por isso, é um risco às mídias tradicionais e às organizações. À primeira por ter que se adaptar a essas gerações que têm outro tipo de relação com a informação e o conhecimento e à segunda por ter que mudar seus processos de gestão, ou seja, sair de uma administração que ainda vigora, em muitas organizações/empresas, aos ditames do taylorismo e fordismo.

A nova cultura comunicacional condiciona a adaptação das organizações a essa realidade, num processo que muito se assemelha à teoria da evolução de Darwin. A geração X se esforça para se condicionar, se adaptar ao meio ou opta por negligenciá-la, diferentemente daquela que já nasce persuadida pela evolução.
As empresas não são diferentes, aquelas que surgem, as startups, têm mais facilidade em se condicionarem às novas tecnologias e às mudanças que elas causam no organismo social. Essa nova configuração é uma ameaça às organizações acostumadas e condicionadas a um modelo mecanizado, o que torna muito mais difícil a adaptação, pois ele está ligado ao automatismo e a valores, cultura, missão e visão organizacional que precisam ser modificadas.

Muitos, sem citar os da geração Y, já vêm se condicionando às novas mídias e utilizando-as de forma “agressiva” contra organizações que os desrespeitam como consumidores e cidadãos. Imaginem o que serão delas com a nova geração adaptada e muito mais exigente, veloz e voraz por informação e interação digital.

Por que será que a maioria das organizações não utiliza essas plataformas, com o mesmo potencial que os consumidores ou cidadãos vêm utilizando-as, com objetivo de engajá-los institucionalmente e posicionar sua marca de forma ética, fortalecendo identidade e utilizando-se da comunicação mercadológica para refletir a imagem de forma idônea, condizente com o que realmente é ou faz?

Algumas organizações/empresas já têm, através de suas propagandas, mostrado a consciência dessa nova configuração social. Basta saber se as imagens que divulgam condizem com as suas reais identidades. Enfim, é tempo de as organizações repensarem seus modelos de gestão e adotarem novas estratégias que exijam transparência financeira, social e ambiental perante seus públicos de interesse e a sociedade, se quiserem sobreviver à evolução.

Referências
[1] Pierre Lévy (Tunísia, 1956) é filósofo, sociólogo e pesquisador em ciência da informação e da comunicação e estuda o impacto da Internet na sociedade, as humanidades digitais e o virtual. Vive em Paris e leciona no Departamento de Hipermídia da Universidade de Paris

[2] LÉVY, Pierre. Cibercultura. Tradução: Carlos Irineu da Costa. Rio de Janeiro: Editora 34, 2010.

Fonte: Aberje

sexta-feira, 22 de julho de 2016

Afinal, como surgiram os memes?

Devido à recorrência com que a palavra meme vem sendo citada nos meios de comunicação de massa, instigou-me a republicar este artigo veiculado em novembro de 2013 na Associação Brasileira de Comunicação Emapresarial (ABERJE). Na época, comentei sobre um livro que acabara de ler: O Gene Egoísta de Richard Dawkins¹ (1976), o qual me remeteu a esse termo que passou a fazer parte do vocabulário da sociedade, sem que ela se desse conta da origem. Mais que um neologismo, o meme é um conceito que em minha visão tem a ver com as mudanças paradigmáticas no contexto do organismo social, ou seja, nas organizações, nos indivíduos, na sociedade como um todo.
Antes de entrar no assunto, retomemos alguns aspectos que contextualizam a transição axiomática pela qual passamos.  A partir da década de 90, a ênfase na tecnologia digital baseada na interatividade, na formação de redes e na busca incansável de novas descobertas tecnológicas, mesmo quando não faziam muito sentido comercial, não combinava com a tradição hierárquica de controle e autoritarismo advindos de sistemas burocratizados ou fundamentalistas das organizações, fossem elas públicas ou privadas. Elas viviam, e muitas delas vivem até hoje das reminiscências atávicas do capitalismo pós-revolução industrial. Poderíamos dizer que essa evolução difundiu, pela cultura de nossas sociedades, o espírito libertário dos movimentos dos anos 60.
O resultado foi uma arquitetura de rede – como não queriam seus criadores – que não pode mais ser controlada e centralizada, pois passou a ser composta por milhares de redes de computadores autônomos com inúmeras maneiras de conexão. Essa rede foi sendo apropriada por pessoas e grupos no mundo inteiro, com objetivos, e segmentada em nichos, com interesses específicos, bem diferentes das preocupações bilaterais que se encerraram com a Guerra Fria.
Ricardo Bressan - 07.16
Isto quer dizer que o capitalismo informacional, com base nas novas tecnologias digitais, configura-se num contexto menos ideológico e mais sistêmico, ou seja, pragmático, dialógico e não linear alinhado às interfaces do organismo social, movido por um modelo compensatório. Esse, por sua vez, busca o equilíbrio social, ambiental e econômico que fortaleça politicamente os laços institucionais entre organizações e sociedade, hoje dispersada em rede, mesmo com todas as deficiências estratégicas que dificultam a existência de uma força social politizada capaz de consolidar, em curto prazo, indicadores e objetivos bem definidos.
; font-family: 'Surveyor Text', 'Surveyor SSm A', 'Surveyor SSm B'; font-size: 20px;"> Vivemos um momento de transição e, no entanto, partimos para a utilização imediata de novos conceitos como, por exemplo, o de Sustentabilidade que se amalgama com todas as ideologias no decorrer da evolução humana e da história. Sendo assim, comunicadores e consultores corporativos, ao se relacionarem com organizações, muitas vezes não se farão entender, ou serão mal compreendidos.

                                       

                                     Agora, voltemos ao meme



Segundo Richard Dawkins, criador do conceito, o meme é um código cultural que prevalece de acordo com a sua força de transmissão e assimilação dentro do organismo social. Usado como metáfora, Dawkins analogamente observa o processo de evolução cultural, assemelhando-o à teoria da evolução de Darwin: um meme seria como um gene, ou seja, sobrevive aquele que melhor se adapta ao meio. Assim, como o gene, ele mantém sua capacidade ou força de persuasão, até ser eliminado ou superado por um novo meme. Transpondo esse conceito para o mundo organizacional podemos inferir: os memes verticalizados sejam os das organizações públicas, privadas ou da mídia eletrônica – que contém os códigos culturais e que até pouco tempo prevalecia e conduzia soberano, a conduta social – defrontam-se, hoje, com novos memes, que se formam nas redes sociais dentro do ambiente das mídias digitais, num embate constante com o automatismo da replicação egoísta ou verticalizada.
Ele descreve os seres humanos – aqui no caso, também, as organizações formadas por eles —, como veículos e replicadores de genes (porção do DNA capaz de produzir um efeito no organismo que seja hereditário e possa ser alvo da seleção natural) e de memes que se replicam e sobrevivem de forma semelhante aos genes, através de um processo de seleção e competitividade. Segundo ele, somos veículos, mas não necessariamente serviçais, pois podemos desafiar os genes egoístas que herdamos, e da mesma forma os memes egoístas com que fomos doutrinados. Podemos estimular e ensinar o altruísmo: “somos construídos como máquinas de genes e educados como máquinas de memes, mas temos o poder de nos revoltar contra os nossos criadores. Somos os únicos na Terra que temos o poder de nos rebelar contra a tirania dos replicadores egoístas”.
Para Dawkins, uma das razões para o grande apelo exercido pela teoria da seleção de grupo talvez seja o fato de ela se afinar completamente com os ideais morais e políticos partilhados pela maioria de nós. Como indivíduos ou organizações, não raro, nos comportamos de forma egoísta (identidade). Nos momentos idealistas reverenciamos e admiramos aqueles que colocam o bem-estar dos outros em primeiro lugar (imagem).
Na maioria das vezes o “altruísmo” no interior das organizações se faz acompanhar pelo egoísmo e conflito de interesses entre elas. Aí a necessidade de uma política compensatória, entendendo-se por isso, a função de cada uma delas, com foco nos seus objetivos (missão e visão) e resultados, respeitando a cultura de todos stakeholders envolvidos no processo.

Fundamentalismo Organizacional
Como em qualquer tipo de fundamentalismo, o organizacional ou empresarial fica preso aos memes advindos do pensamento individualista da burguesia em ascensão pós-revolução francesa (século XVIII) que deu início a revolução industrial (século XIX). Na época passamos da produção artesanal, para a produção industrial em massa. Como Karl Marx dizia, a exploração do homem pelo homem. O homem visto como extensão da máquina.
Advindos da evolução do pensamento científico administrativo desta época, os memes originados do taylorismo e fordismo, mesmo que ultrapassados, permanecem vivos e atuantes, mesmo com as mudanças proporcionadas pelas tecnologias da informação, principalmente, a digital.
Saímos da semântica, da aplicabilidade dos termos capitalismo, comunismo, sustentabilidade para nos atermos à historicidade, à dialética, ao conhecimento humanístico. O ponto de partida é osistema de compensação que prossegue com o esclarecimento de uma evolução que desloca a sociedade de um modelo de submissão para um modelo interativo e reivindicatório, cada vez mais contundente, devido às diversas filtragens e trocas de informações.
O conceito de sustentabilidade da forma como é proposto, por muitas vezes soa genérico demais, para não dizer utópico, para grande parte das organizações. Explicada de forma específica, pragmática e sistêmica, a sustentabilidade obedecendo a uma semântica mais adequada ao mundo corporativo, possibilita uma melhor recepção de sua complexidade e aplicabilidade pelos líderes organizacionais. Enfim, a sustentabilidade mais do que um conceito, é um processo evolutivo da sociedade, ou seja, faz parte da metamorfose que se deu de baixo para cima graças à formação de memes horizontais e transversais. Eles evoluíram como consequência dos embates entre grupos, organizações e sociedade e se fortaleceram, principalmente, com o advento das tecnologias digitais.
Como adverte Dawkins, devemos lembrar que a evolução não procede no interesse dos genes, nem daqueles indivíduos que carregam os memes, mas apenas no exclusivo interesse dos próprios memes. É por esse motivo que tanto os memes, quanto os genes, são descritos como “egoístas”. Os replicadores (pessoas, grupos, organizações, sociedade organizada) não são egoístas no sentido de seus hedonismos e idiossincrasias. São egoístas no sentido de que serão replicados, se puderem sê-los. No caso dos memes, eles nos usarão para que possam ser copiados e permanecerão aqueles com maior força de persuasão/impacto dentro do organismo social, dependentes de estratégias e projetos bem definidos, sem se interessarem por seus efeitos sobre nós, sobre nossos genes, sobre nosso planeta ou sociedade.

¹ Richard Dawkins nasceu  em Nairobi, Quênia, em 1941. Lecionou zoologia na Universidade da ,California, em Berkeley e na Universidade de Oxford, Inglaterra  Em 2005 foi eleito o mais influente intelectual britânico pela revista Prospect, e nesse mesmo ano assumiu a cátedra Charles Simonyi de Compreensão Pública da Ciência, que ocupou até 2008.
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Referências:
DAWKINS, Richard. O Gene egoísta.  8º ed. Companhia das letras, 2013. 540p.
CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede Vol.1. 13º ed. Paz e Terra, 2010. 698p.
MARX, Karl. O Capital: crítica da economia politica Vol.1. 31º ed. Civilização Brasileira, 2013. 571p.

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Toda ação tem uma reação: Massacre na Florida, meme que se exime da causa

Como sempre, o massacre na boate LGBT, na Florida, é mostrado como causa, não como consequência, pela grande mídia. 

Não há espaço para reflexão sobre o fato. De imediato, a chacina é mostrada, como sempre: de forma maniqueista; o bem contra o mal. 


O termo proferido por Bush, pós 11 de setembro: "Guerra ao Terror", tornou-se um meme de expressão mundial. O termo teve como objetivo escamotear a causa, que para Edgar Morin, um dos maiores pensadores contemporâneos, está no apoio incondicional oferecido pelos Estados Unidos a Israel que leva a considerar Israel o instrumento da América, bem como a fazer da América instrumento de Israel e, mais amplamente dos judeus. 

Essa visão é fatal tanto para América quanto para Israel. Na atual situação, a frustração, o ressentimento, a nostalgia de uma grande civilização passada ressuscitam o sonho da Umma, a grande comunidade islâmica transnacional, e fazem de um bilhão de muçulmanos um reservatório mundial no qual se podem recrutar os jihadistas.

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Sustentabilidade não é filantropia

O princípio da sustentabilidade vai muito além de ações pontuais de assistencialismo ou filantropia. Não devemos considerá-lo, somente, em ações momentâneas e isoladas.



Práticas sustentáveis devem fazer parte do planejamento estratégico, portanto, intrinsecamente ligadas ao modelo de gestão organizacional, ser de caráter permanente, equilibrando resultados financeiros, sociais e ambientais.

Apesar de agregar valor e competitividade a uma empresa, um processo de gestão sustentável, não deve ser considerado com o fim exclusivo de gerar lucros.

A sustentabilidade vem de encontro a uma prática ampla e, por muitas vezes, difícil de gerir, de acordo com os interesses de todos os públicos envolvidos pelas ações organizacionais. Respeitando seus stakeholders e desenvolvendo práticas que valorizem e respeitem esses públicos, com certeza, o lucro seria consequência inevitável de um processo responsável e altruísta.

Por fim, a governança corporativa não deve se apoderar desta prática com a ideia de se promover como empresa cidadã, pois não se trata exclusivamente de uma ação de marketing, mas, sim, da sua promoção e valoração de acordo com sua responsabilidade, real preocupação e poder de ação, quanto às questões sociais, ambientais e econômicas, seja no ambiente em que se insere ou na sociedade como um todo.


A comoditização do Mundo

Os seres humanos, por muitas vezes, acreditam que o mundo deva se adaptar as suas ideias e vontades, não o contrário. Assim, nos tornamos pessoas limitadas, numa sociedade em constante transformação que não se adaptará as nossas idiossincrasias.

Como nós, as organizações, sejam privadas, públicas, entidades de classe, devem romper com a mecânica autômata de que a realidade deva se adaptar as suas ideias e, sim, percorrer o sentido inverso: “fazer a análise da realidade concreta para mudar o curso da história.” Como afirma Francisco Viana[1] em seu livro Comunicação Empresarial de A a Z .

Quais são os valores que os públicos de interesse esperam das organizações?
 Vivemos um processo de descentralização, da comoditização das informações, dos produtos e serviços, que condiciona e não determina o comportamento e maneira de agir da sociedade. É uma nova estrutura que a era do conhecimento nos leva a aceitar, ou ficaremos à deriva.

As condições são inevitáveis para organizações que queiram sobreviver à comunicação transversal proporcionada pelas mídias digitais. Portanto, como descreve Pierre Lévy[2], em seu livro Cibercultura, a técnica ou tecnologia (no caso, a digital) condiciona a sociedade, mas não a submete ou a determina em suas ações.

O que é determinante no que se refere às organizações que fazem parte da sociedade, ou seja, inseridas no meio social, são as estratégias. Se elas não estiverem alinhadas e em constante mudança frente às técnicas condicionantes da cultura social serão expurgadas, caso mantenham-se burocratizadas.

Vivemos hoje numa sociedade que vem reformulando seus valores, a cultura e a sua maneira de interagir com o mundo. As organizações não devem agir de forma diferente. Devem ter uma administração contingencial, adequada aos valores e a cultura da sociedade. Sendo assim, o que leva as empresas e as marcas ao fracasso é o determinismo e não o condicionamento.

Os referenciais advindos da revolução industrial não se encaixam mais num mundo que exige mudanças imediatas e emergentes. No seu plano fechado, as organizações devem buscar mudanças internas como as reformulações éticas, de valores e as culturais, que interajam com seus públicos de interesse.


[1] Jornalista, doutorado em Filosofia Política (PUC-SP) e consultor de empresas.
[2] LÉVY, Pierre. Cibercultura. 3ºedição. São Paulo: Editora 34. 2010

Fonte: Aberje