sábado, 3 de outubro de 2020

NÃO CONHECEMOS A VERDADE, E SIM A HISTÓRIA QUE NOS CONTAM

A verdade só acontece uma vez, portanto é finita. Já as histórias, que narram a verdade, têm suas particularidades, e estão ligadas a visão e a ideologia dos seus emissores, o que de certa forma limita o aprofundamento e a proximidade da verdade factual. A finitude da verdade fica a mercê da infinitude das histórias narradas. 

O receptor é consumidor de histórias e não de verdades. É moldado pela história que consome, e que consequentemente forma sua visão de mundo, sua ideologia, a forma como concebe a realidade. A verdade é o resultado das CONCEPÇÕES INFINITAS. 


Na era do conhecimento, paradoxalmente, vivemos uma das maiores crises que a informação já conheceu. A humanidade corre o risco de ser a mais desinformada de todos os tempos. Estamos vivendo a era do consumo exacerbado de histórias, que tornam a realidade uma barafunda, minando completamente o senso crítico das novas gerações. 


Por mais problemáticas que pareçam, as mídias tradicionais e especializadas (rádio, televisão, impresso), que também se adaptaram ao digital, são os melhores e mais confiáveis meios de se informar sobre a verdade. 


Atualmente, como qualquer pessoa, sem nenhum tipo de formação técnica, pode reportar a verdade por meio de sua imparcialidade duvidosa, fica difícil o desenvolvimento do senso crítico por parte dos cidadãos. 


A verdade sempre foi manipulada, todos sabemos, mas hoje convivemos com manipuladores de procedência desconhecida. 


As Fake News são as maiores responsáveis pelo que eu chamo de ANTONÍMIA MIDIÁTICA, ou seja, a disseminação de VERDADES FALSAS, que tem grande influência sobre a opinião pública. 

Por mais que a verdade possa ser manipulada, nós os grandes consumidores devemos ter discernimento para separar a manipulação da mentira. A mentira não é beligerante, mas pode ser tão destrutiva quanto, pois deixam seus receptores semelhantes a uma horda de mortos vivos, como vemos no cinema. Pode ser uma hipérbole, mas nestes dias não fica difícil de se identificar com os zumbis do longa-metragem Guerra Mundial Z, protagonizado por Brad Pitt. Por meio deste exagero e ficção, talvez possamos entender melhor a nossa realidade. 


Sendo assim, parece que o otimismo do filósofo, sociólogo e pesquisador em ciência da informação e da comunicação, Pierre Levy, está bem longe do que realmente estamos vivendo:

“Não são as minorias que se opõem as mídias digitais, e sim as organizações, cujas posições de poder, os privilégios e o monopólio, sobretudo em relação a soberania sobre a construção de mensagens, discursos e significados encontram-se ameaçados pela emergência dessa nova configuração comunicacional." 


Na atual conjuntura, parece que estamos mais próximos do pessimismo do escritor, professor e filósofo italiano, Umberto Eco, falecido em 2016, que concluiu: “As redes sociais deram voz a uma "legião de imbecis", que antes não prejudicavam a coletividade.”


por Ricardo Bressan

quinta-feira, 6 de agosto de 2020

AS FALÁCIAS DO MUNDO SUSTENTÁVEL

Como no regime comunista e capitalista, o conceito de sustentabilidade, também, carrega seus argumentos e premissas falaciosas, com o objetivo de perpetuar os interesses da classe dominantee


São comuns os nossos discursos carregados de alteridedade, altruísmo e solidariedade, mesmo que em nossas ações cotidianas essas práticas sejam tão pífias, como define o pensador darwinista Richard Dawkins: “Como indivíduos, não raro, nos comportamos de forma egoísta. Nos momentos idealistas reverenciamos e admiramos aqueles que colocam o bem-estar dos outros em primeiro lugar.”

Quando se pergunta às organizações e aos cidadãos o que eles entendem por sustentabilidade, as respostas, quase sempre, submetem-se ao descarte responsável, reciclagem, redução da emissão de CO2 e do desmatamento desenfreado, consumo de produtos orgânicos, entre outros. 

Na minha ingênua opinião, as premissas adotadas por essa filosofia são formas de perpetuar a manutenção dos interesses espúrios do capital.

A mudança não virá da “ECOBOLHA”, que produz pão artesanal e acha bonito pagar caro para comer alimento orgânico. Para mim, isso tem outro nome: VIABILIZACÃO DA MISÉRIA. 

Só teremos uma sociedade melhor, quando todos puderem pisar com dignidade nesta Terra, que oferece tudo o que precisamos. Cabe a nós reivindicarmos os recursos necessários, para que isso um dia venha a se concretizar.

A razão de ser sustentável não está atrelada a tentativa corporativista e frustrante de ser GREEN. É essa visão fantástica e rasa que esvazia o verdadeiro sentido da sustentabilidade. 

É bom lembrar que as políticas ambientalistas, que por hora são adotadas, abrem as portas para se praticar o protecionismo contra produtores brasileiros, favorecendo concorrentes nos mercados internacionais. 

Há que se cuidar para combater a destruição do meio ambiente, evitando que a agropecuária brasileira seja criminalizada.

A melhor forma de viver e tomar ações de forma sustentável é ouvir e respeitar os povos originários da nossa terra, que lutam há séculos para preservar nossos biomas.

Viver de forma sustentável é investir nas ideias que nascem e morrem nas favelas e periferias do Brasil. É contratar e promover as minorias. É criar oportunidades para que elas liderem a mudança. É fazer com que o dinheiro – meio de troca tão poderoso no mundo do capital – circule entre aqueles que sofrem mais com o sistema. É exigir por parte do Estado a  reforma agrária e urbana, a taxação de grandes fortunas, protestar contra o desmonte do Estado, ou adoção do Estado Mínimo. O desafio é enorme, mas enquanto as prerrogativas da mudança partirem do verticalismo indômito da minoria abastada, responsável pela manutenção do poder, continuaremos chafurdando na inconsistência de conceitos retrógrados.


quarta-feira, 8 de julho de 2020

HIPOCRISIA

Já estamos saturados de solidariedade, altruísmo e compaixão
Já estamos fatigados dessas coisas tentar
Queremos voltar a nossa natureza
Já estamos cansados da convivência, queremos nos dispersar, nos desencontrar
Nunca foi tão urgente nos perdermos nas ruas, na escuridão, nos perdermos da luminosidade da união
Vamos correr! Vamos correr!
Que o vazio da solidão volte a nos encontrar
Não aguentamos mais nos reunirmos para amar


Chega da hipocrisia da mudança,
Não aguentamos mais a troca, a alteridade, a convivência pacata
Não! Não aguentamos mais!
Que os shoppings voltem a abrir
Voltemos aos bares para nos embebedar, ao final do expediente, para esquecermos que para casa temos que voltar
Não! Não aguentamos mais conviver, nos escondamos no mar de consumo.
Para que hesitar?
Vamos nos desencontrar, não vamos nos desperdiçar em lapsos de união que essa pandemia nos força a acatar, pois já se contam os dias para ela acabar
Chegue logo!
Chegue logo, o dia em que vamos novamente nos reunir para flertar, consumir, nos perder no egocentrismo, egoísmo, da busca do bem estar, que somente o prazer imediato pode nos dar
Vamos deixar de nos detestar
Vamos voltar para o individualismo
Vamos deixar de nos enxergar
Vamos voltar a conviver na distância que nos faz suportar a existência que um dia a de acabar
Que chegue o dia em que vamos bradar:
Bem-vindos de volta a natureza da qual tentamos nos desvincular.

Por Ricardo Bressan

quarta-feira, 1 de julho de 2020

Novas tecnologias: apocalipse ou evolução?


Concordo, em parte, com Zygmunt Bauman e Umberto Eco, dois dos maiores pensadores da contemporaneidade.
O primeiro diz que os relacionamentos amorosos e as interrelações geradas pelas conexões virtuais são efêmeras, o segundo que as redes sociais deram voz a uma "legião de imbecis", que antes não prejudicavam a coletividade.
Analisemos!
A tecnologia digital nos proporcionou, além do que esses grandes pensadores afirmam, uma relação transversal que inexistia. Quero aqui enfatizar seu aspecto positivo, não considerando somente uma análise niilista dos fatos.
É verdade que as novas tecnologias, incluindo redes sociais, TV a cabo, telefonia e aplicativos digitais deram uma nova cara às relações interpessoais e até mesmo intrapessoais, as quais, por muitas vezes, causa alienação, isolamento e por conseqüência a potencialização de doenças psicossociais.
Mas, se nos ativermos aos pontos consideráveis positivos, temos uma técnica dialógica e humanista.
Vamos ao ponto!
Com as tecnologias analógicas não tínhamos a possibilidade de interagir, ficávamos presos às grades impositivas que nos impossibilitavam de gerar opiniões, por mais “imbecis" que fossem.
Concordo com Eco, quando diz que as redes sociais deram voz a uma horda de imbecis, mas que, no entanto, se amalgamaram a uma grande legião de pensadores e estudiosos que rechaçam com veemência e veracidade as organizações que eram blindadas pelas técnicas verticais.
Há duas décadas, vivíamos a ambiguidade, tanto nos nossos relacionamentos amorosos quanto nos interpessoais e intrapessoais.
Nos relacionamentos amorosos, por exemplo, conhecíamos pessoas no trabalho, em bares, casas noturnas e outras, sem nos atermos, num primeiro momento, à compatibilidade de valores, imprescindível para a continuidade da relação.
Em minha opinião, por mais dúbio que pareça o relacionamento conectado, ele pode nos oferecer, se o selecionarmos de forma estratégica, a consolidação de redes inteligentes e relacionamentos duradouros, sejam eles amorosos ou de conhecimento.
Hoje, temos a opção de escolhermos nos desvincular da submissão analógica.
Podemos escolher o que assistir, devido à tecnologia digital do streaming, que nos dá as opções de conhecimento e entretenimento.
Assisto a um filme de arte "A grande beleza" de Sorrentino ou a um besteirol "Os mercenários" de Sylvester Stallone?
Antes, a opção era desligar o aparelho. Hoje, podemos optar em progredir e regredir, e não ter a regressão ou o estático como as únicas opções.
Os aplicativos que nos mostram tudo o que tem ao nosso redor (restaurantes, bares, estacionamentos, cinema, teatro e outros) nos dão a opção de escolher, e não nos restringirmos ao comum.
Os aspectos negativos e positivos da tecnologia digital são muitos, mas não devemos generalizar, e sim, reinventar. Melhor termos uma coletividade que transita entre uma linha tênue da imbecilidade à genialidade, do que a neutralidade submissa que não dá voz nem à idiotia nem à metafísica, e sim, a verticalidade de indivíduos e instituições de poder.
Prefiro acreditar no otimismo de Manuel Castells e Pierre Lévy do que no pessimismo de Eco e Bauman.
Como dizem os dois primeiros: “as forças tecnológicas desencadeadas pela engenhosidade humana e a submissão coletiva ao autômato, têm fugido do controle de seus criadores.” Castells
“Não são as minorias que se opõem as mídias digitais, e sim as organizações, cujas posições de poder, os privilégios e o monopólio, sobretudo em relação a soberania sobre a construção de mensagens, discursos e significados (signos) encontram-se ameaçados pela emergência dessa nova configuração comunicacional." Pierre Lévy

quinta-feira, 14 de maio de 2020

NADA MUDARÁ ESSENCIALMENTE NA HUMANIDADE CAPITALISTA E SELVAGEM, APÓS O CORONAVÍRUS.

Se estou otimista? No curto prazo histórico, os próximos 200 anos, não! Não estou. O coronavírus não alterará o espírito mesquinho, materialista e egoísta da humanidade. É uma ingenuidade perigosa pensar assim porque nos tira, casuisticamente, a responsabilidade pela transformação verdadeira e profunda, e a delega para algo extrínseco a nós. Deus? Ele nos enviou a pandemia para o avanço e a regeneração da humanidade? Ora, por favor! Acreditar nisso é acreditar que “Deus” - essa entidade que criamos à nossa imagem e semelhança para apaziguar nosso vazio existencial, também nos enviou a gripe comum, o tétano, a dor-de-dente e a verruga.
Sejamos realistas! Deus, então, deveria estar dormindo durante o mais catastrófico evento da humanidade, a Segunda Guerra Mundial. A grande guerra matou 85 milhões de pessoas, cerca de 3% da população mundial da época. E o que mudou em termos profundos, desde então? Ampliamos inegavelmente os nossos conhecimentos científicos e tecnológicos. Mas aprofundamos dramaticamente o fosso entre os mais ricos e os mais pobres, produzimos um nível de concentração da renda global criminoso, aceleramos milhares de vezes a destruição de habitats, poluímos o planeta em uma escala brutal, inventamos e instalamos um arsenal atômico que pode destruir a Terra inúmeras vezes (como se houvesse muitas Terras a se destruir), sofisticamos as formas de corrupção sistêmica submetendo as instituições sociais e democráticas, ao redor do mundo, aos interesses do sistema financeiro global etc. Não será, definitivamente, o coronavírus o que nós fará repensar a humanidade. É uma ingenuidade irritante e até covarde. Exatamente o argumento de quem não quer e não vai mudar nada, a não ser as aparências.
O “sistema” engendra mecanismos extremamente sofisticados para se adaptar e se fortalecer. Ora, “o Capitalismo é feito (justamente) de crises. O Capitalismo não é uma Economia: é um modo de se reproduzir”, escreve o psicanalista e escritor argentino, Jorge Alemán. E eu acrescento: o sistema é muitas vezes mais mortal do que o coronavírus. 8500 crianças morrem de desnutrição todos os dias, ao redor do planeta! A fome absoluta e mortal atinge 820 milhões de seres humanos neste exato momento.
O coronavírus vai nos transformar em seres humanos melhores? Não, não vai. Apenas dizemos isso porque estamos no meio da barafunda, como o sujeito que toma um porre homérico e, no meio da mais desgraçada ressaca, promete nunca mais beber. Dois finais de semana depois está louco para tomar outros goles. Estamos no meio da ressaca. Só isso.
Em tempo, muitos dirão, por essa crítica ao Capitalismo, que defendo o Comunismo. Ora, o Comunismo é uma invenção Capitalista! Quem financiou o Estado bolchevique na URSS, após a revolução de 1917? Os banqueiros franceses e ingleses! Os próprios Rothschild viabilizaram o avanço do Comunismo na Europa, porque as revoluções são um grande negócio! Ideologias conflitantes geram crises e guerras. Crises e guerras são a essência do modelo de expansão Capitalista: muitos perdem para que poucos (eles, os “Mustafás Monds” - quem leu Aldous Huxley vai entender), pois bem, para que poucos concentrem os espólios dos muitos perdedores.
Essa história toda que a gente ajuda a contar sobre o livre mercado, sobre o “laissez faire” seria muito bonita se fosse verdadeira. Não é assim que o sistema funciona. O sistema funciona como uma máquina brutal de submissão global, corrupta e sem alma , sem nenhum escrúpulo ou compromisso humano. A indústria de armamentos, da morte, por exemplo, cresceu em um ritmo muito acima da maioria de outros setores do mercado, nos últimos 50 anos. E os grandes investidores em armamentos são os mesmos que investem na indústria alimentícia, farmacêutica ou automobilística. A mesma mão que alimenta e veste é a que bombardeia civis indefesos e mata de câncer por aditivos químicos na comida (e também a que vende os medicamentos caríssimos e os planos de saúde para tratar do tumor).
É preciso compreender que não existe uma “ética social” no sistema, apenas histórias manipulativas. Nós, o gado servil, é que pensamos assim. Os donos do sistema, os 0,8% da humanidade que definem, em última instância, o destino dos demais 99,2% de nós todos, pensam em poder e dominação. Só. E é assim que o mundo funciona desde os tempos dos faraós, ou antes deles. E é assim que continuará, cada vez mais aceleradamente, com os adventos tecnológicos.
Nós, que não estamos no Olimpo, que vivemos na sociedade humana perceptível, sejamos pobres, médios e até os que são considerados ricos, vivemos com as migalhas desse processo tão gigantesco, tão imenso que mal o enxergamos. A riqueza passa diante dos nossos olhos e é rapidamente reincorporada pelo sistema, por meio do consumo. O sistema recolhe o resultado e mais um pouco, devolvendo cada vez menos do que o trabalho pôde produzir. Isso não vai mudar.
Seria necessário a força de uma hecatombe proporcional a de um cometa, como o que deletou os dinossauros, para instalar um novo processo para os próximos milhões de anos. E, mais uma vez, isso não seria Deus: seria um cometa. Somos, a sociedade humana, na melhor das hipóteses, um experimento malfadado.
Exponho, assim, minha profunda e total descrença na humanidade. Prova disso é a expressão “novo normal” que significa continuar, o tanto quanto nos for possível, a fazer tudo o que já fazíamos antes, ou seja, nenhuma mudança significativa em essência: mesquinhos, materialistas e egoístas.
O ator Flávio Migliattio, morto no dia 04 de maio, escreveu pouco antes de morrer, no alto de seus brilhantes 85 anos: “algo deu errado com a humanidade por aqui”. Em meus não tão brilhantes 53 anos vestindo este holograma biológico chamado “corpo”, vivendo na face deste planetinha pequenino, lindo e frágil, sou obrigado a assinar a carta com ele. Porque as exceções não chegam a formar uma força de mudança efetiva.
E, assim, creio, sobretudo depois do advento da vacina que virá, que o pós- coronavírus será um lugar no qual mais um projeto de regeneração civilizatória será desperdiçado. Pouco a pouco, se tornará apenas mais um rastro, um eco distante nas páginas da história sangrenta, hipócrita e inexplicável de uma civilização perdida neste pequeno ponto azul, na periferia de uma galáxia sem importância alguma entre outras bilhões de galáxias, nesse vasto universo, entre tantos outros universos... E como disse o economista, John Maynard Keynes, o fato é que no longo prazo todos estaremos mortos.

RESPONSABILIDADE SOCIAL NÃO É SOLIDARIEDADE OU FILANTROPIA

A GRANDE MÍDIA RESOLVEU DAR UMA NOVA SIGNIFICAÇÃO AS EMPRESAS QUE CUMPREM COM SUAS OBRIGAÇÕES OU RESPONSABILIDADES SOCIAIS: SOLIDARIEDADE S/A
Por que, com a atual crise, desencadeada pela pandemia de coronavírus, ações que não passam de responsabilidades sociais e obrigações das grandes empresas, para com seus públicos de interesse, passam a ser chamadas de solidariedade?
Em primeiro lugar, para responder essa questão, é necessário saber qual a importância do ativo intangível para as organizações. Assim, é bom que saibamos, que, esse tipo de ativo, está voltado para a identidade corporativa, para sua valoração e projeção institucional, não comercial, num primeiro momento, que a médio e a longo prazo, agrega valor à organização, trazendo, futuramente, o retorno financeiro esperado. Esse tipo de investimento está intrinsicamente ligado a cultura, ou seja, as virtudes e aos valores institucionais.
Nessa linha de pensamento, constata-se que a projeção da imagem, por meio do fortalecimento da identidade, ou seja, o que a instituição realmente é, como ela se comporta, do ponto de vista ético, com relação aos seus públicos de interesse ou stakeholders, possui um forte simbolismo para agregar qualidades ao longo de sua trajetória. Estamos falando de virtudes, do ativo voltado para tudo aquilo que não se pode tocar, mas que tem grande valor para a empresa.
O tripé da sustentabilidade, também, chamado de triple bottom line, é a ferramenta que melhor mensura os ativos intangíveis do ponto de vista econômico, mas, principalmente, do ponto de vista social e ambiental.

Neste artigo, vamos tratar somente do aspecto social, que se refere ao tratamento do capital humano da sociedade, que determina onde a empresa está inserida. É esse o aspecto que nos importa, quanto a responsabilidade das empresas frente a pandemia de COVID-19.
Com a explicação dada, já podemos responder à pergunta que não quer calar. Não é solidariedade, pois, as ações sociais, não passam de obrigações e responsabilidades, com objetivo de projetar a marca por meio da valoração dos ativos intangíveis.
A atual crise faz emergir a personalidade das instituições, que não se comprometem com aqueles que as compensam.

As empresas que realmente podem manter seu quadro de funcionários parados, sem demiti-los, durante o período de quarentena, não fazem mais que sua obrigação, pois, assim, procedem por terem um fundo de reserva destinado a prevenção de crises. Aquelas que investem nos ativos intangíveis em prol do seu público de interesse, não estão doando ou fazendo filantropia, estão somente valorizando a reputação e a imagem da sua identidade.
Ajudar os stakeholders, pois são esses que vão manter as operações das empresas ativas, após o período de pandemia, é obrigação, responsabilidade e investimento. Sendo assim, contribuições em hospitais de campanha e doações não são filantropias, mas acima de tudo inteligência e investimento intelectual de valoração organizacional.
As instituições que não têm um plano, não o fizeram, pois estão presas ao acúmulo de capital sem nenhuma responsabilidade para com seus públicos de interesse, como no caso das organizações Madero e Havan. A primeira demitiu 600 e a segunda 11 mil funcionários, metade dos seus empregados, pensando em preservar seus ativos, sem se importar com as condições que deixariam seus colaboradores, os principais responsáveis pela preservação e manutenção de suas operações. Empresas como essas devem ser rechaçadas pela sociedade, pagando assim o preço de suas irresponsabilidades. Infelizmente, não são as leis que vão punir essas atitudes, e sim os que são impactados diretamente pelo egocentrismo empresarial.
Hoje, o “boletim de ocorrência” não é só descrito e gravado nos registros da grande mídia, mas também nos arquivos das mídias digitais, ao alcance de um clique para qualquer interessado, por meio das ferramentas de busca.

Como define um dos grandes pensadores da contemporaneidade Richard Dawkins:
“Como indivíduos ou organizações, não raro, nos comportamos de forma egoísta (identidade). Nos momentos idealistas reverenciamos e admiramos aqueles que colocam o bem-estar dos outros em primeiro lugar (imagem).”
Na maioria das vezes, o “altruísmo” e a “solidariedade” das organizações se faz acompanhar pelo egoísmo e conflito de interesses entre elas. Aí a necessidade de uma política compensatória, entendendo-se, por isso, a função de cada uma delas, com foco nos seus objetivos e resultados, respeitando a cultura e a necessidade de todos os envolvidos direta e indiretamente ao processo.

quinta-feira, 9 de abril de 2020

MÍDIAS DIGITAIS, UM MAR DE MENTIRAS

Não é novidade, que as mídias digitais servem para a disseminação de um mar de mentiras. Com o WhatsApp ficou ainda pior. É absurda a quantidade de mensagens falaciosas que recebemos por dia. Muitos amigos na efervescência dos ânimos, com a crise política e sanitária, por consequência da pandemia do coronavírus, recorrentemente dizem o seguinte: leia isso, veja se concorda.

Não me deixo levar por informações mentirosas. Pelo menos para mim, hoje tem sido mais fácil identificar logo de cara que determinadas notícias são falsas. Mesmo assim, as táticas de ludibriação são cada vez mais ricas, pois muitas carregam um tom de verdade. 

Não tem sido poucos, os artigos que recebo como sendo de jornalistas brasileiros conceituados.

Uma forma simples, que encontrei para resolver essa situação, e que tem sido satisfatória, é enumerar de três a cinco meios de comunicação digital em quais confio, evitando uma enxurrada de conteúdos, que só fazem com que eu perca tempo. Mais duas ou três lives de jornalistas que admiro e confio piamente. Assim, fica mais fácil filtrar a verdade, e evitar manipulações.
Eu no caso, fico satisfeito com os resultados. O meu interesse não é sugerir nenhum nome, pois o meu objetivo não é ideológico e partidário. Só espero que, independente do posicionamento de cada um, o que importe, seja a busca de fontes, com as quais se identifiquem e confiem.
Constantemente, recebo textos como sendo de autoria de determinadas pessoas.
Ontem, por exemplo, recebi um artigo que vinha assinado pelo jornalista
Alexandre Garcia. Li o texto, por sinal muito bem escrito e convincente, para quem confia neste competente jornalista, apesar de eu, particularmente, não concordar com seu posicionamento ideológico. Mas o caso, é que descobri que não era de autoria do Alexandre. O artigo se entitula “A sociedade brasileira já escolheu sacrificar almas”. Enfim, não é difícil, independente da nossa corrente ideológica, escolher os meios certos pelos quais nos informamos. É só enumerar um número razoável dos meios em quais confiamos, e evitarmos a tempestade de boatos que nos acomete todos os dias.

Um dos maiores críticos e pensadores das últimas décadas, com relação as mídias digitais, foi Umberto Eco, que infelizmente faleceu em 19 de fevereiro de 2016. Ele nos deixou um grande legado e responsabilidade, quando disse, o que para mim, hoje, é uma máxima: “AS REDES SOCIAIS DERAM VOZ A UMA LEGIÃO DE IMBECIS.”

Crítico do papel das novas tecnologias no processo de disseminação de informação, o escritor e filólogo italiano Umberto Eco afirmou que as redes sociais dão o direito à palavra a pessoas que antes falavam apenas "em um bar, depois de uma taça de vinho, sem prejudicar a coletividade".

A declaração foi dada num evento em que ele recebeu o título de doutor honoris causa em comunicação e cultura na Universidade de Turim, norte da Itália.

Normalmente, os imbecis eram imediatamente calados, mas agora eles têm o mesmo direito à palavra de um Prêmio Nobel. Segundo Eco, o drama das mídias digitais é que ela promoveu o imbecil a portador da verdade.


JORNALISMO NÃO É DRAMATURGIA

Segundo o Correio Braziliense, da terça-feira, 8, a maioria das mortes, por conta do coronavírus, nos Estados Unidos é de negros, que vivem nas regiões periféricas do país. Acredito que no Brasil não vai ser diferente. Infelizmente, no final, quem mais vai sofrer, com as consequências dessa pandemia, são os desvalidos.

Alguns me julgam, dizendo que, os meus artigos, além de críticos, têm tom triste e negativista. Com as atuais crises política e sanitária do país, impossível se apropriar de um tom jocoso.

Em meus textos emito opinião, sim, mas, sempre, com a responsabilidade de fazer isso com base em informações verídicas.

Outro dia critiquei uma “reportagem” do Fantástico, pois essa, na minha opinião, não cumpriu com seu papel social e democrático. O jornalismo deve oferecer uma visão plural à opinião pública. O que tem de plural reportar a sociedade, que em sua maioria carece de um sistema de saúde de qualidade, a história “emocionante” de um engenheiro aeronáutico curado da COVID-19?

A matéria mostrou o paciente, atravessando o corredor de um hospital privado, cercado por enfermeiros que o ovacionavam. Qual a relevância para opinião pública ver alguém da elite, após superar a doença, indo para o conforto de seu palácio, onde sua “sofrida” família o esperava?
Provavelmente, pela catarse de assistir a história de superação de um homem rico, tratado em um dos melhores hospitais do país.

Por que não mostrar alguém acometido pelo coronavírus, que venceu a doença, mesmo dependente do combalido sistema público de saúde? Esse, sim, seria o verdadeiro herói.

Dos 127 recuperados do coronavírus no Brasil, segundo o Mapa Coronavírus Resource Center da Universidade Johns Hopkins nos EUA, a reportagem escolheu uma vítima tratada e curada num hospital de ponta, ao invés daqueles que realmente são os maiores prejudicados, não só pela maior vulnerabilidade ao vírus, como também pela infraestrutura precária do Sistema Único de Saúde.
Como formadores de opinião, nós jornalistas, temos, que, na medida do possível, tentar reportar a verdadeira realidade dos fatos, por mais trágica que ela possa ser. Essa é a nossa responsabilidade.

Dentro da narrativa, o que deveria ser respondido pelos formadores de opinião, já que se trata de interesse público?

1º Os hospitais de base têm a mesma infra-estrutura que o hospital que tratou este paciente?

2º Os números de profissionais de saúde são equivalentes aos que atendem os mais afortunados pela rede privada de saúde?

Acredito que essa narrativa não segue os preceitos do jornalismo, pois não é seu objetivo romantizar e dramatizar a vida de um homem da elite, acometido por esse grande mal de impacto mundial. Muito menos, usar os profissionais de saúde que o atenderam, como protagonistas de um filme dramático de superação do pobre rico, que devido a eles teve sua vida salva. Devemos deixar essas funções para o entretenimento. O que precisa ficar claro para nós profissionais, é que o objetivo do jornalismo não é gerar catarse, e sim informação.


sábado, 4 de abril de 2020

EM MEIO A UMA DAS MAIORES CRISES MUNDIAIS, JUNIOR DURSKI, DONO DA MADERO DEMITE 600 PESSOAS, E DIZ QUE FOI O DIA MAIS TRISTE DA SUA VIDA

Façamos nossos papéis de cidadãos, não colocando mais os pés nos estabelecimentos da rede. Assim, mostraremos, como esse indivíduo, não está acima de ninguém, além do próprio ego. Esse tipo de atitude, tem que ser punida, com a reprovação da sociedade. Cobremos a responsabilidade corporativa, mostrando que empresas, que não valorizam seus públicos de interesse, não têm competência, para prestar qualquer tipo de serviço.
Quando os cidadãos começarem massivamente a repudiar empresários, deixando que chafurdem na própria ganância, como Durski, aí sim, eles passarão a considerar essencial a responsabilidade corporativa.
Infelizmente, as mudanças no pensamento neoliberal, só ocorrerão se houver mudanças e tomadas de ação por parte do povo.

RESPONSABILIDADE CORPORATIVA: CASE GIRAFFAS

A crise por conta da pandemia de coronavírus, além dos infortúnios e perdas causados à população mundial, deve ser vista, também, como forma de avaliação do comportamento estruturado na cultura, valores, visão e missão de cada indivíduo e organização.

Esse é o momento de ressignificarmos nossos posicionamentos intrapessoais, mas, principalmente, interpessoais, de remover nossos defeitos e fortalecer nossas qualidades, nos baseando em virtudes, que, até então, eram difíceis de ser discutidas, por conta da mecânica social, política e econômica, das quais dependemos e estámos inseridos.
Esse momento, pode nos redirecionar a um modelo, menos autômato e pragmático, mais focado no humanismo e dialogismo.

É a hora de todos irmos na contramão de nossos posicionamentos ególatras e hedonistas, tudo isso, infelizmente, de forma forçosa e não espontânea, já que os valores alicerçados pela solidariedade, alteridade, empatia e altruísmo são dependentes desta pandemia, da qual não temos controle.
Vivemos uma situação que jamais acreditamos que viveríamos: a vida do outro depende da ação individual focada no coletivismo, totalmente contrária a filosofia capitalista.

Neste momento, é que realmente nos conhecemos como cidadãos e organizações corporativamente responsáveis. Os que se ativerem as compensações, receberão as suas recompensas.
Num momento, em que a solidariedade é avaliada como item de sobrevivência, aqueles que passarem por ela sem se importarem, eminentemente serão punidos.

Pensando em características, até então, dispensáveis numa sociedade capitalista, líderes começam a reavaliar seus breves momentos de responsabilidade, para transformá-los, mais que em hábitos e virtudes, em ativos inexoráveis.

Quando os valores corporativos, mais do que uma mera formalidade, passarem a ser reflexo das ações individuais da liderança, teremos mais exemplos de empresas cidadãs como Magazine Luiza e Giraffas, que devem ser usados como benchmarking para outras organizações.

Temos que incentivar, estimular e divulgar estes tipos de ações, para que todos se conscientizem qual o seu papel em meio a pandemia do COVID-19:
Depois de anunciar uma doação de R$ 10 milhões ao combate do novo coronavírus, a rede de lojas Magazine Luiza foi além: as famílias Trajano e Garcia decidiram dobrar o valor do chamado “cheque-mãe”, o auxílio-creche da empresa, para funcionárias que não estejam trabalhando em casa, no home office. São aproximadamente 5.500 mulheres beneficiadas.

Carlos Guerra, fundador do Giraffas, dá uma lição de responsabilidade corporativa, ao demitir seu filho Alexandre Guerra, acionista minoritário, após gravação de um vídeo, onde ele incita empresários a não respeitarem a determinação de quarentena, por ser ela prejudicial aos negócios de qualquer empresa.

O que o biólogo Átila Lamarino disse em entrevista para o programa Roda Viva, faz todo sentido: “não é para aquele mundo de antes que a gente vai voltar, nunca mais certamente voltaremos a ele. Vai ser diferente, talvez mais unido”.
Esperamos que esteja certo.
Assista o vídeo:

ENTREVISTA ÁTILA LAMARINO

O biólogo, Átila Lamarino, graduado pela Universidade de São Paulo e pós doutorado em microbiologia pela Universidade de Yale, passou a ser, em meio a pandemia de coronavírus e da maior crise sanitária do planeta, uma das pessoas mais importantes para os cidadãos e as autoridades brasileiras.
Eu particularmente, fico orgulhoso, e até mais confiante, em termos nele, um dos maiores especialistas em COVID-19.

Para aqueles que acreditam que é uma simples gripizinha, e que só os idosos são vulneráveis ao vírus, e ainda não viram o Roda Viva, não deixem de ver.
Uma coisa muito importante que o Átila relata, com base em estudo do Imperial College London, é que se os governadores não tivessem decretado a quarentena em tempo, o número de mortes poderia passar de um milhão, só no Brasil.




Na minha opinião, continuar divulgando informações falaciosas, com a quantidade de informações críveis, verossímeis e confiáveis, com base em pesquisa científica, é mais do que irresponsabilidade, é crime.


TABELAS TÊM COMO OBJETIVO MANIPULAR A OPINIÃO PÚBLICA

Comparações e argumentações que estão sendo feitas nas mídias digitais — como mostram o discurso numérico das tabelas abaixo —, para minimizar o impacto causado pelo COVID-19, são totalmente falaciosas, com o único objetivo de manipular e ludibriar a opinião pública.

É o mesmo que dizer: não devemos nos preocupar com a violência no Brasil, já que foram contabilizadas 114 homicídios por dia no ano de 2019.
A estratégia é minimizar o impacto catastrófico de uma das maiores pandemias mundiais, comparando-a com outras causas de morte.
O número de óbitos por conta do coronavírus na Itália, chegou a 919, nesta última sexta-feira, 889 no sábado e 756 no domingo.

Acredito que estejam fazendo isso por egoísmo, irresponsabilidade, mas, principalmente, por motivação política e partidária, porém o problema se refere a uma gigantesca crise sanitária. Por essa questão, só pode ser por ignorância ou burrice mesmo.

É só pensar que as mortes contabilizadas na tabela são por doenças que já foram administradas e controladas, sem que atinjam números muito maiores de mortes. Não é o caso da COVID-19, para o qual ainda não se desenvolveu vacina de imunização.

Do início da epidemia, dezembro, até 29 de março, mais de 31.412 mil casos de morte foram registrados em 183 países. Não há nem uma forma de controle do vírus, a não ser que cada um faça sua parte, ficando em casa, até que as autoridades consigam isolá-lo.

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