quarta-feira, 1 de julho de 2020

Novas tecnologias: apocalipse ou evolução?


Concordo, em parte, com Zygmunt Bauman e Umberto Eco, dois dos maiores pensadores da contemporaneidade.
O primeiro diz que os relacionamentos amorosos e as interrelações geradas pelas conexões virtuais são efêmeras, o segundo que as redes sociais deram voz a uma "legião de imbecis", que antes não prejudicavam a coletividade.
Analisemos!
A tecnologia digital nos proporcionou, além do que esses grandes pensadores afirmam, uma relação transversal que inexistia. Quero aqui enfatizar seu aspecto positivo, não considerando somente uma análise niilista dos fatos.
É verdade que as novas tecnologias, incluindo redes sociais, TV a cabo, telefonia e aplicativos digitais deram uma nova cara às relações interpessoais e até mesmo intrapessoais, as quais, por muitas vezes, causa alienação, isolamento e por conseqüência a potencialização de doenças psicossociais.
Mas, se nos ativermos aos pontos consideráveis positivos, temos uma técnica dialógica e humanista.
Vamos ao ponto!
Com as tecnologias analógicas não tínhamos a possibilidade de interagir, ficávamos presos às grades impositivas que nos impossibilitavam de gerar opiniões, por mais “imbecis" que fossem.
Concordo com Eco, quando diz que as redes sociais deram voz a uma horda de imbecis, mas que, no entanto, se amalgamaram a uma grande legião de pensadores e estudiosos que rechaçam com veemência e veracidade as organizações que eram blindadas pelas técnicas verticais.
Há duas décadas, vivíamos a ambiguidade, tanto nos nossos relacionamentos amorosos quanto nos interpessoais e intrapessoais.
Nos relacionamentos amorosos, por exemplo, conhecíamos pessoas no trabalho, em bares, casas noturnas e outras, sem nos atermos, num primeiro momento, à compatibilidade de valores, imprescindível para a continuidade da relação.
Em minha opinião, por mais dúbio que pareça o relacionamento conectado, ele pode nos oferecer, se o selecionarmos de forma estratégica, a consolidação de redes inteligentes e relacionamentos duradouros, sejam eles amorosos ou de conhecimento.
Hoje, temos a opção de escolhermos nos desvincular da submissão analógica.
Podemos escolher o que assistir, devido à tecnologia digital do streaming, que nos dá as opções de conhecimento e entretenimento.
Assisto a um filme de arte "A grande beleza" de Sorrentino ou a um besteirol "Os mercenários" de Sylvester Stallone?
Antes, a opção era desligar o aparelho. Hoje, podemos optar em progredir e regredir, e não ter a regressão ou o estático como as únicas opções.
Os aplicativos que nos mostram tudo o que tem ao nosso redor (restaurantes, bares, estacionamentos, cinema, teatro e outros) nos dão a opção de escolher, e não nos restringirmos ao comum.
Os aspectos negativos e positivos da tecnologia digital são muitos, mas não devemos generalizar, e sim, reinventar. Melhor termos uma coletividade que transita entre uma linha tênue da imbecilidade à genialidade, do que a neutralidade submissa que não dá voz nem à idiotia nem à metafísica, e sim, a verticalidade de indivíduos e instituições de poder.
Prefiro acreditar no otimismo de Manuel Castells e Pierre Lévy do que no pessimismo de Eco e Bauman.
Como dizem os dois primeiros: “as forças tecnológicas desencadeadas pela engenhosidade humana e a submissão coletiva ao autômato, têm fugido do controle de seus criadores.” Castells
“Não são as minorias que se opõem as mídias digitais, e sim as organizações, cujas posições de poder, os privilégios e o monopólio, sobretudo em relação a soberania sobre a construção de mensagens, discursos e significados (signos) encontram-se ameaçados pela emergência dessa nova configuração comunicacional." Pierre Lévy

Nenhum comentário:

Postar um comentário