segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

A era dos novos gatekeepers


No último artigo falei sobre a evolução dos memes e da influência que eles exercem no organismo social. Nesta abordagem falarei das pessoas que nascem adaptadas a eles e da influência que exercem na sociedade e nos ambientes organizacionais. 

Jovens (novos gatekeepers¹) crescem num ambiente comunicacional paradigmático, onde se configura uma interação caracterizada pela transversalidade. Portanto, um relacionamento que não mais se restringe aos conteúdos produzidos pelas mídias tradicionais.

Hoje, eles produzem seus conteúdos e os disponibilizam em rede, seja através de seus blogs, microblogs e redes sociais.

Além de se diferenciar no caráter estético, com a construção, a convergência de mídias e a não linearidade, as mídias digitais permitem a divergência de opiniões e abrem espaços às discussões e às formações das comunidades. 

Por isso, é um risco as mídias tradicionais e às organizações. À primeira por ter que se adaptar a essas gerações que têm outro tipo de relação com a informação e o conhecimento e à segunda por ter que mudar seus processos de gestão, ou seja, sair de uma administração que ainda vigora, em muitas organizações/empresas, aos ditames do taylorismo e fordismo.

A nova cultura comunicacional condiciona a adaptação das organizações à essa realidade, num processo que muito se assemelha à teoria da evolução de Darwin. A geração X se esforça para adaptar-se ao meio ou o negligência, diferente daquela que já nasce persuadida pela evolução.

As empresas não são diferentes, aquelas que surgem, têm mais facilidade de se adaptarem às novas tecnologias e às mudanças que elas causam no organismo social.  Essa nova configuração é uma ameaça às empresas acostumadas e condicionadas a um modelo mecanizado, o que torna muito mais difícil a adaptação, pois ele está ligado ao automatismo e a valores, cultura, missão e visão organizacional que precisam ser modificadas. 

Como diz Pierre Lévy² “as forças tecnológicas desencadeadas pela engenhosidade humana e a submissão coletiva ao autômato, têm fugido do controle de seus criadores.” 
Enfim, é tempo das organizações repensarem seus modelos de gestão e adotarem novas estratégias que exijam transparência financeira, social e ambiental perante seus públicos de interesse e a sociedade, se quiserem sobreviver à evolução.

Muitos, sem citar os da geração y, já vêm se adaptando às novas mídias e utilizando-as de forma "agressiva" contra organizações que os desrespeitam como consumidores e cidadãos. Imaginem o que serão delas com a nova geração adaptada e muito mais exigente, veloz e voraz por informação e interação digital.
Fica aqui um devaneio: por que será que as organizações não utilizam essas plataformas, com o mesmo potencial que os consumidores ou cidadãos vêm utilizando-as, com objetivo de engajá-los institucionalmente e posicionar sua marca de forma ética, fortalecendo identidade e utilizando-se da comunicação mercadológica para refletir a imagem de forma idônea, condizente com o que realmente é ou faz? 

Muitas organizações/empresas já têm, através de suas propagandas, mostrado a consciência dessa nova configuração social. Basta saber se as imagens que divulgam condizem com as suas reais identidades.

por Ricardo Bressan

Fonte: Aberje


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¹ Gatekeeping é um conceito jornalístico para edição. Gatekeeper é aquele que define o que será noticiado de acordo como “valor-notícia”, linha editorial e outros critérios. Gatekeeper também pode ser entendido como o "porteiro" da redação. É aquela pessoa que é responsável pela filtragem da notícia, ou seja, ela vai definir, de acordo com “critérios editoriais” (por muitas vezes, não condiz com a realidade dos fatos, ou seja, a imagem não com condiz com a identidade, com aquilo que realmente é – deturpação ou manipulação dos fatos de acordo com os interesses do emissor), o que vai ser veiculado. Com a efervescência e até um certo modismo da prática do jornalismo colaborativo, a função do gatekeeper tem sofrido alterações. A audiência cada vez menos passiva e mais participativa deixa a figura do mesmo menos centralizada, mas sem perder a importância na estrutura da construção da notícia. Com a popularização do uso da internet, em âmbito mundial, muito tem se discutido sobre o trâmite de informações nas novas redes de relacionamento, sites de pesquisa e empresas que veiculam conteúdo online. Para o jornalismo, essa popularização da tecnologia pode ter até redefinido as regras do ofício, mas, os princípios e a finalidade do jornalismo ainda têm sido designados por algo mais elementar: “a função exercida pelas notícias na vida das pessoas”.
² Pierre Lévy é um filósofo francês da cultura virtual contemporânea. Vive em Paris e leciona no Departamento de Hipermídiada Universidade de Paris-VIII.  Especializou-se em abordagens hipertextuais quando lecionou na Universidade de Ottawa, no Canadá. Após sua graduação, preocupou-se em analisar e explicar as interações entre Internet e Sociedade. Desenvolveu um conceito de rede, juntamente com Michel Authier, conhecido como Arbres de connaissances (Árvores do Conhecimento). Lévy também pesquisa a inteligência coletiva focando em um contexto antropológico, e é um dos principais filósofos da mídia atualmente. Suas pesquisas se concentram principalmente na área da cibernética. Com isso, tornou-se um dos maiores estudiosos sobre a Internet, que por ser uma mídia informativa recente, não possui dimensões de repercussão e aplicação bem definidas.

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