segunda-feira, 1 de abril de 2013

Entrevista: O FILÓSOFO MARIO SERGIO CORTELLA, AS EMPRESAS DEVEM PRATICAR O QUE SE ENSINA E ENSINAR O QUE SE PRATICA


Mario Sérgio Cortella - Filósofo (Foto: Marcos Camargo)
O filósofo Mario Sergio Cortella é hoje um dos mais solicitados palestrantes do país. Com uma agenda cheia, é capaz de conciliar as palestras com a vida de professor, as participações em programas de TV e rádio e ainda consegue tempo para escrever mais de um livro ao mesmo tempo. Com 16 títulos publicados e mais dois saindo do forno, ele ainda encontra tempo para se dedicar à família e a um de seus hobbies prediletos, a gastronomia. "Adoro preparar carnes, especialmente assadas". O segredo para conseguir fazer tantas coisas ao mesmo tempo? "Sou metódico. E ser metódico não é ser inflexível. Isso é ser neurótico. Metódico é organizar as coisas para que elas estejam nas suas prioridades". Entre uma tarefa e outra, Cortella encontrou tempo para conversar com Época NEGÓCIOS e falar sobre liderança, trabalho, educação e inovação. 

As empresas e, consequentemente, seus funcionários, são cobrados a serem inovadores e criativos. Como o senhor vê isso?
Toda sociedade, todo tempo, toda comunidade que não inova, padece. É um princípio básico da existência que é ser capaz da renovação. E renovar é inovar de novo. É fazer com que haja uma modificação para melhor. No entanto, não se deve confundir o novo com novidade. Muita gente esquece que inovação não é sinônimo de novidade. Novidade é o que é passageiro. Não é fluido e tem uma precariedade no tempo que é muito forte. Novo é aquilo que vem, modifica a situação na qual se estava e persiste no tempo. Então, por exemplo, a obra de Platão é nova. Ela não é novidade. O pensamento de Paulo Freire é novo, não é novidade. A obra de Chico Buarque, o pensamento de Peter Drucker são novos, não são mera novidade. De novidade o mercado está lotado. E a novidade, por ser passageira, está muito mais ligada ao campo da moda do que ao campo da ciência, da tecnologia e da progressão de ideias.



Qual é o risco de não inovar?E como as empresas devem pensar a inovação para não correr o risco de se restringir à mera novidade?
Para a inovação acontecer é preciso aprender duas coisas: distinguir o que é novo do que é mera novidade e pensar que o novo não é só aquilo que é novidade. Pode ser o antigo revitalizado. O que fez o Cirque Du Soleil? Deu ao espetáculo mais antigo da terra uma revitalização enorme. Eles fizeram o que era inacreditável. Criaram um espetáculo que é caro à beça. O circo era a mais barata das atrações há 30 anos. Vende ingresso com meses de antecedência e é objeto de desejo de empresas para patrocínio. Isso mostra que a inovação não é sempre inédita, mas também não pode não existir.

As empresas têm que buscar sempre mais e melhor. Isso é decisivo. Mas não pode querer só para ela. Há diferença entre ambição e ganância. Estamos uma crise que começou quando o mercado substituiu a virtude da ambição por um vício, o da ganância. Ambicioso é aquele que quer mais e melhor. Ganancioso é o que quer só para si a qualquer custo. O mercado implantou o único lema que não pode ser implantando. “Que é fazemos qualquer negócios”.
O que as empresas não devem fazer?
Uma empresa não pode ser cínica. A crise ensinou que as empresas são cínicas. A frase que eu mais ouvia antes da crise de 2008 era: “nosso maior ativo são as pessoas”. Quando começou a crise em 17 de setembro de 2008, o primeiro lugar onde o facão passou foi nas pessoas. Ninguém em sã consciência, se acreditasse mesmo nisso, não cortaria tanto o quadro de funcionário. Teria cortado o lucro do acionista, acertava a estrutura de produção. Mas não. O jeito mais fácil é cortar pessoas. Ou seja, praticar o que se ensina e ensinar o que se pratica

Quais são as conseqüências de ações como esta? 
Um dos prejuízos é que ao demitir, você perde uma história de formação. E ainda tem que gastar com qualificação quando recontrata outras pessoas. Outro problema é que este tipo de atitude gera desconfiança. É por isso que hoje não se fala mais em lealdade na relação de empregado e empresa. Especialmente nas novas gerações que estão chegando ao mercado. O importante é não ser cínico. Ou seja, é praticar o que se ensina e ensinar o que se pratica.

Falando um pouco sobre liderança, quais são as características que definem um líder?
Baseado numa frase de São Beda, eu diria que há três trilhas para o sucesso:
- generosidade mental: para se compartilhar competência
- coerência ética: para praticar o que ensina
- humildade intelectual: para perguntar o que ignora
Ou seja, ter capacidade de buscar o que ainda não sabe para saber cada vez melhor. Essas três trilhas são trilhas para o sucesso. Liderança tem que ser exemplar. Chefe você obedece, líder você admira e segue.
Por isso, o chefe precisa se preparar para ser líder. Empresas mais evoluídas preparam seus líderes para serem chefes. Liderança é uma função, não um cargo.

Existem meios de identificar um líder?
O líder é circunstancial. Nenhum de nós lidera tudo o tempo todo de todos os modos. Então você tem líder em situações específicas. Os gestores inteligentes identificar as lideranças que estão, naquela circunstância, sendo admirados, seguidos e incentivando. É uma questão de observação, que aliás, o bom chefe o faz. Ele vai procurar. Quem é que inspira o grupo, quem anima. Até no futebol se faz isso. Nem sempre o capital é o líder. Quando o é, avança.

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